A Antena 2, em co-produção com a rádio austríaca Ö1, apresenta a peça de teatro musical Dobrar Uma Andorinha, concebida pelo compositor português António Sá-Dantas a partir de um texto da austríaca Margret Kreidl, com narração da atriz Rita Blanco.
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Uma mulher conta a sua história, e desdobrando memórias, encontra-se.
Entre a loucura e o bom senso, entre brincadeira e desilusão.
Texto: Margret Kreidl
Música: António Breitenfeld Sá-Dantas
Narração: Rita Blanco
Marie Friederike Schöder – soprano
Renata Rakova – clarinete
Manuel Alcaraz Clemente – tábua de madeira e glockenspiel
Direção musical e harmónica de boca: António Breitenfeld Sá-Dantas
Tradução e adaptação para português: António Breitenfeld Sá-Dantas
Técnico de som para a voz e mistura: Tomás Anahory
Técnico de som para música: Christian Michl (Landesstudio Steiermark)
Entrevista a Rita Blanco e António Sá-Dantas
Dobrar uma Andorinha
O meu encontro com a Margret Kreidl aconteceu há vários anos, por acaso, na apresentação em Graz, na Áustria, de minidramas para teatro que a Margret tinha escrito. Desde aí que se criou uma troca de palavras e músicas, mas foi só com Dobrar uma Andorinha que veio a oportunidade de trabalhar em conjunto num projecto maior.
Este texto começou por ser publicado em livro numa versão mais longa em 2009, depois foi adaptada para teatro, encenada por Lucas Cejpec, e foi em 2017, com uma encomenda da rádio austríaca Ö1, que adaptei o texto e compus a música para a versão de teatro musical radiofónico em Alemão.
A peça foi composta durante uma residência artística que fiz na Millay Colony for the Arts nos EUA. A casa era o lar da poeta Edna St. Vincent Millay e conta agora com a presença regular de músicos, escritores, pintores, poetas e artistas visuais de todo o mundo. Foi neste ambiente, passeando pela floresta de Nova Inglaterra que compus a música.
A música e o texto são um todo, mostrando aspetos distintos e complementares de uma mesma pessoa. A criação musical começou pela escolha intuitiva dos instrumentos que são em si um desdobramento da voz falada. A partir desta voz vem o canto, o clarinete — que é como a voz cantando de boca fechada, a ocarina e a harmónica — instrumento que respira, criando som tanto na inspiração como na expiração. Do som metálico da harmonica abre-se a porta para o Glockenspiel, deste para a tábua de madeira e para vários tipos de papel.
Em Dobrar uma Andorinha, uma mulher conta uma história. Esta é a sua história, que é também a história de um pássaro, ou de uma menina. Partilhando memórias e imaginações, fantasias e realidades ela fala connosco e com os seus botões. Vai passando de pensamento em pensamento como um pássaro que voa e pousa em diferentes ramos e aos poucos vamos conhecendo-a, aproximando-nos dela.
A música e o monólogo estão em diálogo. Não há acompanhamento, mas desdobramento e reflexo. A música está composta de modo a que quando se ouve com a palavra, se cria uma riqueza de associações, que completam o que ficou por dizer. Do mesmo modo o caráter sugerido pela música é complementado pela palavra, que consegue transformá-lo num conjunto de sensações muito humano por vezes contraditório, mas sempre uno.
Depois de escrita a música, seguiu-se gravar e montar a peça em estúdio, com os três músicos que, comigo, interpretaram toda a parte sonora: Marie Frederike Schöder (soprano), Renata Rakova (clarinete) e Manuel Alcaraz Clemente (percussão).
Com a vontade de criar uma versão desta obra em Português e com o interesse da Antena 2 no projecto era determinante a escolha da atriz. Desde o primeiro momento que a pessoa que eu imaginava nesta voz e com quem mais gostaria de trabalhar neste projeto foi Rita Blanco.
Fascinou-me a sua enorme flexibilidade em interpretar papéis tão diferentes, ao mesmo tempo a íntima e natural intensidade com que interpreta os seus papéis. O trabalho com a Rita foi um formidável diálogo aberto, honesto e intenso através do qual descobrimos em conjunto Dobrar uma Andorinha.
Todo este processo de trabalho é para mim único e muito especial, não só pelo texto e pela música, dos quais me sinto muito próximo, mas pelas pessoas que se foram juntando ao longo deste processo, apenas algumas das quais foram mencionadas, que acabaram por criar uma família da Andorinha.
António Breitenfeld Sá-Dantas
(3 Outubro 2018)
@Jorge Carmona / Antena 2
António Breitenfeld Sá-Dantas é compositor, maestro e performer. Compôs obras para orquestra, ensemble, coro, voz assim como trabalhos de performance e instalações. As suas obras foram tocadas pela Orquestra Sinfónica do Porto, Remix Ensemble, Perspective Trio, coro CantAnima e OrquestrUtópica entre outros.
O seu teatro musical radiofónico Dobrar uma Andorinha, com a atriz Rita Blanco no papel principal, estreia a 12 de Outubro de 2018 na Antena 2. A versão original em Alemão (Eine Schwalbe falten, escrita por Margret Kreidl) foi encomendada e estreada pela rádio nacional austríaca Ö1 em 2017. António foi também o Jovem Compositor em Residência da Casa da Música em 2016, mesmo ano em que começou a parceria com Clara Andermatt e Jonas Runa na performance Suspensão. A sua peça Cantos, para coro a cappella sobre um texto de Fernando Pessoa, foi escolhida pelos BBC Singers para ser cantada num workshop este ano (2018) e recebeu o 2º prémio no concurso coral Styria Cantat (2015).
De momento é o maestro principal do Cat’s Cradle Collective – ensemble dedicado a tocar música renascentista a contemporânea, reinventando a performance de concerto habitual – e do Voyage Ensemble – grupo de música para filmes experimental. Foi maestro principal de vários coros orquestra durante os anos que viveu em Graz (Áustria).
Estudou com João Madureira e tem uma licenciatura (com excelência) em Composição e em Direção de Orquestra da Kunsuniversität Graz (Áustria) onde estudou com Beat Furrer e Martin Sieghart, respetivamente. Atualmente está a fazer o mestrado com Jonathan Cole no Royal College of Music em Londres.
Uma coprodução da rádio austríaca Ö1 e Antena 2 @2018