Temporada de Concertos Antena 2
2 Novembro | 19h00
Auditório do
Instituto Superior de Economia e Gestão
Entrada gratuita
Vera Morais & Margarida Prates
Recital de flauta e piano
Vera Morais, flauta
Margarida Prates, piano
Programa
Pedras Angulares do reportório para flauta e piano
George Enesco (1881-1955) – Cantabile et Presto p/ flauta e piano
Carl Heinrich Reinecke (1824-1910) – Sonata p/ flauta e piano Undine
Camille Saint-Säens (1835-1921) – Romance p/ flauta e piano Op. 37
Francis Poulenc (1899-1963) – Sonata p/ flauta e piano
Otar Taktakishvili (1924-1989) – Sonata p/ flauta e piano
O concerto Pedras Angulares do reportório para flauta e piano nasce de um convite feito pela RTP/Antena 2 à flautista Vera Morais e à pianista Margarida Prates, no sentido de gravarem algumas das obras mais emblemáticas para essa formação num concerto transmitido em direto. As duas profissionais idealizaram, assim, um programa composto por 3 Sonatas e duas peças distintas, pensando na diversidade de épocas e de estilos como fio condutor.
O programa abre com Georges Enescu (1881-1955), um compositor romeno que nos deixou um prolífero legado musical, do qual constam obras para orquestra, para ensembles de música de câmara, uma ópera e diversas peças para piano solo. O seu interesse pelo duo de flauta e piano insere-se num gosto peculiar que a flauta desencadeou nos compositores do início do sec XX, quando o instrumento sofreu melhorias de construção substanciais, que lhe permitiram começar a ter reportório solista de envergadura. A peça Cantabile et Presto é, assim, composta para evidenciar as potencialidades técnicas da flauta, tais como a sua gama de dinâmicas nos registos grave e agudo, a potencialidade de fluidez digital e consequente virtuosismo, possibilidades de articulação, entre outras. O piano remete-se para uma função de acompanhador. A 1º parte da obra transmite um ambiente suave e cantabile, e a 2ª parte cativa pela ligeireza do carácter e rapidez virtuosa das linhas da flauta.
O concerto prossegue com Carl Reinecke (1824-1910) e a sua Sonata para flauta e piano Undine, uma obra de grande envergadura para os dois instrumentos, onde a coordenação é testada aos limites: a musicalidade partilhada entre o piano e a flauta, as perguntas e respostas encadeadas nas linhas melódicas e a diferença de ambientes sonoros entre andamentos fazem desta Sonata uma obra de enorme importância no reportório para esta formação. Reinecke inspirou-se na literatura para compor esta obra, nomeadamente no romance de Friedrich Fouqué, um escritor que nos conta a história de uma sereia que deseja ser humana e que pede ao rei dos mares permissão para abandonar o reino aquático e partir para terra, para poder casar com um cavaleiro por quem se apaixonara. A história termina, porém, de forma dramática, uma vez que o cavaleiro a trai com uma donzela e a sereia vê-se obrigada a matá-lo e a regressar ao reino dos mares. Reinecke colocou em música todo este drama de forma extremamente pictórica.
Segue-se depois a Romance para flauta e piano op. 37 de Saint-Säens (1835-1921), uma peça de grande lirismo, onde a flauta alterna com o piano temas melódicos muito generosos, cantabile, num ambiente calmo e poético, o que exige dos dois instrumentos uma simbiose perfeita ao nível do controle do som e da sensibilidade musical. Esta peça foi estreada pelo próprio Saint-Säens em 1871 na Alemanha, em Baden Baden, e uns anos mais tarde foi transcrita para orquestra.
O concerto segue com a Sonata de Francis Poulenc (1899-1963) e a sua Sonata para flauta e piano, mundialmente famosa desde a sua estreia em 1957. Nos seus 3 andamentos podemos verificar um tal contraste de ambientes sonoros e de emoções que cativam de imediato o público. O 1º andamento transmite melancolia através de uma melodia em constante diálogo entre a flauta e o piano. No 2º ouvimos uma melodia maravilhosa tocada pela flauta, enquanto o piano acompanha suavemente, transportando-nos para um ambiente suave e doce. No 3º andamento ouvimos alegria, vivacidade e ironia, fechando a Sonata com um ambiente contrastante com o anterior.
O concerto prossegue até à Geórgia, indo de encontro a Otar Taktakishvili (1924-1989), um compositor nascido numa família de músicos, que desde muito cedo o entusiasmaram a seguir uma carreira musical. A sua estreia enquanto compositor deu-se com a composição de um Hino, o Hino da República Socialista Soviética da Geórgia, o que lhe valeu um prémio de composição. Este seria o 1º de muitos galardões que Taktakishvili receberia pela vida fora. Taktakishvili tornou-se um músico muito respeitado na União Soviética, dedicando a sua vida à composição, ao ensino e também à vida política. Foi ministro da cultura, membro do comité da UNESCO e presidente do Concurso Internacional Tschaikowsky durante uns largos anos. A sua Sonatina para flauta e piano data de 1968 e desde a estreia que se tornou um enorme sucesso entre os flautistas. Para tal facto contribui o tipo de escrita usada pelo compositor, baseada em harmonias, melodias e ritmos inspirados no folclore georgiano, muito cativantes para o ouvido. Não é certo se os motivos melódicos presentes na Sonata foram, ou não, retirados diretamente de canções tradicionais do Cáucaso, ou se o compositor as inventou tendo em conta as sonoridades desse folclore, mas o resultado auditivo lembra de imediato aquela zona do mundo, remetendo a nossa imaginação para os povos da Arménia, Azerbaijão, Chechénia e Geórgia.
Transmissão direta
Apresentação: Pedro Ramos
Produção: Anabela Luís, Cristina do Carmo
Vera Morais e Margarida Prates, ambas solistas da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, iniciaram aí o seu projeto como duo, tendo-se estreado em 2019, em plena pandemia, com um concerto transmitido em live streaming pela OCCO, dedicado ao compositor Astor Piazzolla.
No seguimento dessa transmissão a RDP/Antena 2 convida o duo para fazer um concerto transmitido em direto dedicado a reportório latino-americano, seguindo-se posteriormente convites para outras apresentações em Portugal, de entre os quais se destacou o concerto de Natal para a Presidência do Conselho de Ministros, em 2020.
Um convite para tocar na Alemanha em 2021 abriu-lhes as portas no âmbito internacional e como consequência do sucesso obtido o duo é convidado para outras apresentações nesse país e também para integrar o curso de verão de 2022 de Springiersbach / Bengel, aí realizando masterclasses como docentes de flauta e piano.
O reportório do duo foi-se entretanto alargando, indo atualmente de J. S. Bach ao século XX, passando ainda pelo reportório menos conhecido de mulheres compositoras dos séculos XIX e XX, programa apresentado em 2022 no Museu Nacional do Azulejo, no Dia Internacional dos Museus.
Em 2023 apresentam-se de novo na Alemanha e no Luxemburgo, a convite do Instituto Camões, para aí integrarem as comemorações do 25 de Abril. Neste momento o duo explora novos repertórios com entusiasmo, na perspetiva de trabalhar futuramente em projetos variados, com intenção de se tornar uma referência em Portugal e no estrangeiro.
Fotos Inês Sioga / Antena 2