Temporada de Concertos Antena 2
8 janeiro | 19h00
Auditório do Museu do Oriente
Entrada gratuita
ars ad hoc
Horácio Ferreira, clarinetes
Gonçalo Lélis, violoncelo
João Casimiro Almeida, piano
Programa
Clara Iannotta (1983) – The people here go mad. They blame the wind. [2013-14]
João Pedro Oliveira (1959) – Beyond [2006]
Johannes Brahms (1833-1897) – Trio em lá menor, op. 114 [1891]
No seu primeiro concerto de 2024, o ars ad hoc apresenta-se numa formação de trio com clarinete com aquela que é uma das marcas distintivas do grupo: a combinação de música de câmara contemporânea com obras do grande repertório clássico/romântico, mantendo os mais elevados padrões de exigência, quer na seleção das obras, quer na interpretação. Assim, no mesmo programa em que regressa ao Trio em lá menor, op. 114 [1891], de Johannes Brahms (1833 – 1897), dá a escutar uma obra de João Pedro Oliveira (1959) – o trio Beyond [2006], para clarinete, violoncelo, piano e electrónica – e outra da compositora italiana a que o ars ad hoc dedica especial atenção ao longo da temporada de 2023/24. Trata-se do trio The people here go mad. They blame the wind. [2013-14], uma obra para clarinete baixo, violoncelo e piano preparado, em que Clara Iannotta (1983) alude ao universo fantástico da jornalista e poetisa irlandesa Dorothy Molloy, convidando o ouvinte a deixar-se levar pelo gesto musical à descoberta de singulares sonoridades.
Transmissão direta
Apresentação: Pedro Ramos
Produção: Anabela Luís, Zulmira Holstein
Apoio
Direção Geral das Artes
Banco BPI | Fundação La Caixa
Notas ao programa
Clara Iannotta (1983) – The people here go mad. They blame the wind [2014]
O título da obra é retirado de um poema da jornalista e poetisa irlandesa Dorothy Molloy (1942-2004), cujo trabalho tem vindo a influenciar Clara Iannotta em diferentes obras musicais. Este verso em especial fez a compositora evocar uma experiência acústica que experimentara meses antes, nos subúrbios de Boston, em que uma curta rajada de vento fez soar sinos de metal pendurados em diversas portas. Inicialmente, e durante alguns anos, esta peça fez uso de uma máquina construída com diversas caixas de música. A necessidade de tornar a obra tocada em diferentes pontos do mundo fez com que a compositora transpusesse a parte das caixas de música para electrónica, tal como aqui se escuta.
A obra foi composta por encomenda da Rádio da Alemanha Ocidental para o festival Wittener Tage für neue Kammermusik de 2014, sendo estreada pelo Trio Catch. Em Portugal, foi apresentada pela primeira vez em Abril de 2022, na Casa da Cultura de Paredes, pelo ars ad hoc.
João Pedro Oliveira (1959) – Beyond [2006]
Tal como o título sugere, Beyond (para além de…) tenta transportar os instrumentos para além do seu universo tímbrico habitual, através do uso de técnicas de execução pouco vulgares, mas, especialmente através da interação com os sons electroacústicos. A electroacústica actua como um quarto instrumento que retém e, simultaneamente, expande as características sonoras dos três instrumentos acústicos.
O ars ad hoc foi criado no contexto da Arte no Tempo como resposta à vontade de fazer música de câmara com os mais elevados padrões de exigência, combinando obras do grande repertório com a mais recente criação musical. O seu primeiro concerto decorreu no Outono de 2018, numa temporada apoiada pela Direção Geral das Artes e o Município de Aveiro, em que pôs em confronto música de grandes clássicos com o trabalho de um dos mais interessantes criadores do nosso tempo, o compositor suíço-austríaco Beat Furrer (Schaffhausen, 1954), com quem preparou, em 2019, a estreia nacional do seu quinteto intorno al bianco [2016].
Na atribulada temporada de 2019/20, o ars ad hoc prestou particular atenção à música de Ludwig van Beethoven (1770-1827) e de Luís Antunes Pena (1973), tendo ainda revisitado obras de Beat Furrer e interpretado obras tão extraordinárias como Talea [1982], de Gérard Grisey (1946-1998). Além da sua “temporada regular”, o ars ad hoc marcou ainda presença em alguns festivais, estreando obras encomendadas a compositores portugueses e estrangeiros.
Ainda condicionada pela pandemia de COVID-19, a temporada de 2020/21 trouxe algumas estreias nacionais e absolutas, tendo o ano de 2021 ficado positivamente marcado pelo início da colaboração do agrupamento com a Fundação de Serralves, onde passa a desenvolver as suas residências artísticas, encontrando o ambiente adequado ao desenvolvimento de um trabalho sério de preparação e de apresentação do que tem vindo a desenvolver especificamente no campo da música dos nossos dias – trabalho esse que, de forma mais isolada, apenas vinha a apresentar nas bienais que a Arte no Tempo realiza no Teatro Aveirense. Outras colaborações, trazem a público um ars ad hoc com um campo de ação mais abrangente e versátil, combinando a mais recente criação musical com obras incontornáveis do grande repertório clássico e romântico.
Em 2021/22, o ars ad hoc explorou em especial a música de Simon Steen-Andersen (1976), não deixando de fazer estreias absolutas de compositores portugueses e estreias nacionais de compositores como Beat Furrer, Joanna Bailie e Clara Iannotta. Centrando-se no universo de Helmut Lachnemann (1935), a temporada de 2022/23 contou com mais estreias de compositores portugueses e com a passagem do agrupamento por diferentes festivais.
A compositora em foco na temporada de 2023/24 é a italiana Clara Iannotta (1983).
O desenvolvimento de um trabalho regular na Fundação de Serralves – com programas próprios e outros paralelos às exposições, em colaboração com o Serviço de Artes Performativas – tem sido um importante contributo para o crescimento artístico do projecto, que continua a levar a grande música a diferentes palcos e a públicos diversos, dando a conhecer o que de melhor se cria nos nossos dias e impulsionando a criação de nova música, em especial junto de compositores mais novos.
Apesar de ter já realizado mais de uma dezena de estreias absolutas e outras tantas primeiras audições portuguesas, o ars ad hoc pretende afirmar-se pela qualidade do trabalho que desenvolve, privilegiando a profundidade das suas interpretações em detrimento do número de obras ou compositores tocados, procurando, sempre que possível, desenvolver uma relação de proximidade com os compositores na exploração das obras.
Com programação de Diana Ferreira, o ars ad hoc é formado por músicos que, depois de se terem notabilizado em Portugal, complementaram os seus estudos no estrangeiro, como o flautista Ricardo Carvalho (Aveiro, 1999), o clarinetista Horácio Ferreira (Pinheiro de Ázere, 1988), o pianista João Casimiro de Almeida (Cabeceiras de Basto, 1994), os violinistas Diogo Coelho (Porto, 1988), Matilde Loureiro (Lisboa, 1994) e Álvaro Pereira (Guimarães, 1986), os violetistas Ricardo Gaspar (Lisboa, 1991) e Francisco Lourenço (Lisboa, 1997) e o violoncelista Gonçalo Lélis (Aveiro, 1995).
Horácio Ferreira (Pinheiro de Ázere, 1988) | Tem-se diferenciado por integrar vários projectos a solo e em música de câmara, sendo um dos mais reconhecidos clarinetistas da sua geração. Foi “Rising Star” da European Concert Hall Organization, aparecendo em concerto nas mais prestigiadas salas de espectáculos, como a Philharmonie de Paris, Concertgebouw (Amsterdão), Barbican (Londres), Musikverein (Viena) ou Elbphilharmonie (Hamburgo).
Jovem Músico do ano em 2014 e primeiro clarinetista a vencer os níveis médio e superior do Prémio Jovens Músicos, conquistou igualmente prémios no Concours Debussy em Paris, no Prague Spring Competition em Praga, no Concurso de Interpretação do Estoril e foi vencedor do Concurso Internacional de Clarinete “J. Pakalnis” em Vilnius, do concurso “La Salette” e do Prémio Novos Talentos “Ageas”. Recebeu a medalha de mérito do Município de Santa Comba Dão e o prémio revelação da revista Anim’Art.
O percurso de Horácio Ferreira tem-no levado a diferentes países na Europa, China, Brasil, EUA, Dubai. Apresentou-se como solista com a Orquestra Gulbenkian, Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, Filarmónica Checa, Orquestra de Câmara de Colónia, Orquestra Sinfónica Portuguesa, Orquestra Estatal de Atenas, Orquestra XXI, Banda Sinfónica de Tenerife, Orquestra de Câmara de Israel e Banda Sinfónica Portuguesa, entre outras.
Integra o ars ad hoc, explorando diferentes possibilidades em música de câmara, e é fundador do Art’Ventus Quintet.
Diplomado pela Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, na classe de António Saiote, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian na Escuela Superior de Musica Reina Sofia, em Madrid, onde estudou com Michel Arrignon, e em Paris, com Nicolas Baldeyrou. Gravou para a RDP/RTP, France Musique, Radio Catalã e Televisão Húngara. Actualmente é doutorando na Universidade de Aveiro, onde também é professor.
Horácio Ferreira é artista da marca Vandoren e, desde 2018, assessor artístico do Festival Internacional de Música de Marvão.
Gonçalo Lélis (Aveiro, 1995) | Iniciou os seus estudos musicais no Conservatório de Música de Aveiro Calouste Gulbenkian, na classe de Isabel Boiça. Posteriormente, estudou com Natalia Shakhovskaya e Ivan Monighetti, na Escuela Superior de Música Reina Sofia. Concluiu a licenciatura em 2017, sob a orientação de Pavel Gomziakov, na Universidade do Minho. Frequenta atualmente estudos pós-graduados (Konzertexamen) com Xenia Jankovic, na Hochschule für Musik Detmold (Alemanha), instituição onde obteve a classificação máxima no recital final de mestrado (vertente solista), em Junho de 2021.
É laureado dos concursos Prémio Jovens Músicos (2015, 1º Prémio na Categoria Violoncelo – Nível Superior e Prémio EMCY), Concurso de Cordas Vasco Barbosa (2016, 1º Prémio), Concurso Internacional da Cidade do Fundão (2017, 1º Prémio) e Concurso Internacional Agustin Aponte (2018, Espanha, 1º Prémio). Apresenta-se regularmente em palco, destacando-se os recitais no Centro Cultural de Belém, na Casa da Música ou na Fundação Calouste Gulbenkian e concertos a solo com a Orquestra das Beiras, Orquestra Sinfónica Portuguesa, Orquestra da Fundação Calouste Gulbenkian ou com a Orquestra Clássica da Madeira.
Entre 2014 e 2019, desenvolveu uma intensiva actividade camerística enquanto membro do Trio Ramales, formado em Madrid, tendo tocado nalgumas das mais importantes salas de concerto em Espanha, entre as quais o Auditório Nacional em Madrid, o Palau de la Música em Barcelona e o Palácio de Festivales em Santander. Esta formação participou em diversos concursos, contando com o 1º Prémio no “Concurso Internacional de Música de Câmara Ecoparque de Trasmiera” (Cantabria, Espanha) e o 2º Prémio no “Concurso Internacional de Música de Câmara Anton García Abril”. Em 2019, o Trio Ramales apresentou-se no Wigmore Hall, em Londres, na qualidade de finalista do concurso “Parkhouse Award”. Ainda no âmbito de música de câmara destaca-se um concerto em quarteto no Carnegie Hall, em Maio de 2022. Integra o ars ad hoc desde 2021.
Foi bolseiro de diversas instituições, como a Fundación Carolina, a Fundación Albéniz e a Fundação Calouste Gulbenkian.
João Casimiro Almeida (Cabeceiras de Basto, 1994) | Vencedor de mais de uma dezena de prémios a nível nacional e internacional – 1os Prémios nos Concurso de Piano da Póvoa de Varzim, Concurso Paços’ Premium, Concurso Internacional do Fundão ou nos “Prémios David Russell”, em Vigo –, conta já com uma vasta experiência musical, apresentando-se regularmente como solista. Tendo começado os estudos musicais aos 11 anos, tocou em salas como a Sala Suggia e a Sala 2 da Casa da Música (Porto), o Teatro Cinema de Fafe, o Pequeno Auditório do CCB (Lisboa), o Auditório Martin Codax (Vigo, Espanha), a Ehrbar Saal (Viena, Áustria) e na Sala Lustrzana (Tarnow, Polónia). Foi convidado a participar em diversos festivais, incluindo o “1001 Músicos”, no Centro Cultural de Belém, o PianoPorto e o 2º Encontro da EPTA Portugal, também no Porto, o Festival Internacional de Piano de Tarnow e o III Festival Internacional de Jovens Pianistas em Amarante.
Participou também nos programas televisivos como A Grande Valsa (RTP) e Nota Alta (Porto Canal) e concedeu entrevistas a rádios como a TSF e a Antena 2.
Durante o seu percurso teve a oportunidade de trabalhar com diversos pianistas conceituados, que contribuíram para o seu enriquecimento pianístico e musical, tais como Guigla Katsarava, Joaquín Soriano, Leon McCawley, Masahi Katayama, Pedro Burmester, Prisca Benoit, Vincent Larderet e William Fong, entre outros.
Em música de câmara, trabalhou com músicos de renome internacional como António Saiote, Filipe Quaresma, Maria Belooussova, Ryszard Woycicki, Suzanne Van Els e Victor Pereira. Integra o Lumennis Trio (formado em 2016, com a clarinetista Diana Sampaio e a violoncelista Ana Mafalda Monteiro), com o qual já se apresentou em diversos palcos por todo o país. O Trio foi laureado com o 1º Prémio na categoria mais elevada do Concurso de Música de Câmara de Vila Verde e o 2º Prémio no Prémio Jovens Músicos 2018, nível superior.
João Casimiro Almeida explora todo o tipo de repertório, de Bach à música dos dias de hoje, tendo estreado a nível nacional diversas obras contemporâneas.
Diplomado em Performance de Piano pela ESMAE (Porto), na classe de Madalena Soveral, completou o Mestrado em Performance no Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris, na classe de Michel Dalberto e Claire-Marie Le Guay.
Para a temporada 2020/21, tem agendados vários recitais a solo e de música de câmara, em Portugal, Espanha, Noruega e Tailândia.
Ao longo da sua formação, foram-lhe atribuídas bolsas de estudo pela Fondation Meyer e pela Fondation Les Amis d’Alain Marinaro.
Ensina na Escola Profissional de Música de Espinho, desde 2018.
Fotos Jorge Carmona / Antena 2