Temporada de Concertos Antena 2
19 março | 19h00
Auditório da Escola Secundária João de Barros
em Corroios, Seixal
Entrada gratuita
Entre Mulheres
Recital de canto e guitarra portuguesa
Ana Paula Russo, voz
Nuno Dias, guitarra de Coimbra, arranjos e transcrições
Programa
O legado de Carlos Paredes
Variações sobre uma dança popular (guitarra solo)
Cantiga da Ceifa (Minho)
Era ainda pequenina (Cantiga de adufe) *
Ó, Ó, menino, ó (Trás os Montes) *
Vai-te embora, ó Papão (Beira Alta) *
Romance num 1 (guitarra solo)
Na senda da música popular portuguesa, harmonizações de Nuno Dias
Pingacho (Trás os Montes)
Oh Senhora do Amparo (Beira Alta)
O Sol perguntou à Lua (Açores)
(tema de “Verdes Anos” guitarra solo)
Recordando Zeca Afonso
Tenho barcos, tenho remos
Carta a Miguel Djedje
Cantar Alentejano (Catarina Eufémia)
(“In Memoriam” de uma camponesa assassinada” C. Paredes)
Peça final:
Meu coletinho aos ramos (Beira Baixa)
encadeia com o início da “Fantasia” de Artur Paredes)
* canções harmonizadas por C. Paredes. As restantes têm harmonização de Nuno Dias
O projeto Entre Mulheres surge da vontade de união de duas linguagens musicais e culturais, tantas vezes próximas e distantes ao longo dos tempos, dentro da cultura musical Popular portuguesa: o discurso feminino da Guitarra de Coimbra e da voz (feminina).
É neste domínio que se entrelaçam as vozes, cantada e tocada, no universo da Música Tradicional Portuguesa, de onde surgem todos os temas em execução. É nosso propósito garantir a perpetuação desta linguagem tradicional acrescentando, simultaneamente , a contemporaneidade necessária a um enquadramento estético atual. Para tal, e para além da transcrição inédita para Guitarra de Coimbra de arranjos de temas tradicionais feitos por Carlos Paredes para o instrumento Guitolão, foram compostos novos arranjos para outros temas tradicionais propositadamente para este projeto. É, para nós, fundamental manter viva a energia criadora para um instrumento tão enraizado na nossa cultura e que tão distante se tem mostrado desta ligação afetiva com a voz feminina.
Os temas escolhidos procuram espelhar a riqueza cultural do nosso país, tendo, para isso, sido escolhidos temas de várias regiões. De Trás os Montes ao Alentejo, passando pelas Beiras, procuramos representar um pouco das nossas tradições populares quer ao nível melódico, quer ao nível da poesia, com base na recolha levada a cabo por Michel Giacometti.
No que à estrutura artística diz respeito, a direção artística e todo o trabalho instrumental, quer ao nível das transcrições, quer ao nível da composição dos novos arranjos, foram levados a cabo pelo guitarrista Nuno Dias. O desenvolvimento da linguagem vocal e sua execução foi da responsabilidade do soprano Ana Paula Russo.
Este é, sem dúvida, um momento importante na carreira de ambos os músicos pelas características e responsabilidade do projeto. A Guitarra, seja de Coimbra ou de Lisboa, faz recair sobre si mesma um imaginário musical bastante afirmado e balizado no mundo do Fado. No que à Guitarra de Coimbra diz respeito, a sua sonoridade é, sobretudo, anexada à voz masculina fruto da sua longínqua atividade fadista na Academia daquela cidade. Retirá-la deste duplo contexto, fadista e masculino, significa soltar amarras e garantir a liberdade de expressão cultural tão desejada sem que isso signifique perder a sua alma identitária, a sua sonoridade e referência.
Este trabalho é dedicado a Carlos Paredes, pelo legado que nos deixou também neste campo.
Transmissão direta
Apresentação: João Almeida
Produção: Anabela Luís, Cristina do Carmo
Ana Paula Russo | Nasceu em Beja. Completou o Curso Superior de Canto do Conservatório Nacional, estudou em Salzburg e Luzern com Elisabeth Grümmer e H. Diez e trabalhou com Gino Becchi, C. Thiolass, Regine Resnick e Marimi del Pozo. Licenciou-se em Canto pela Escola Superior de Música de Lisboa.
Como solista tem atuado em inúmeros concertos de Lied, ópera e oratória, quer no nosso país, quer no estrangeiro. Destacam-se, nomeadamente, trabalhos para a Fundação Gulbenkian, RTP, RDP, a Europália-91 (em Bruxelas), espetáculos no âmbito de Lisboa 94 – Capital da Cultura e a participação nos Festivais de Música dos Capuchos, Leiria, Estoril, Algarve, Póvoa de Varzim, Figueira da Foz e no Festival Internacional de Macau. Dos muitos concertos e recitais destacam-se obras como O Livro dos Jardins Suspensos de A. Schönberg, Les Noces de Stravinsky, Les Illuminations de Britten, a Cantata op. 29 de Webern, obras de A. Chagas Rosa, os Carmina Burana de Orff e as Operetas Monsieur Choufleuri… e Bataclan de Offenbach.
Em 1988 obteve o 1º prémio de Canto no concurso da Juventude Musical Portuguesa e no Concurso Olga Violante; no mesmo ano, em Barcelona foi finalista no Concurso F. Viñas. Em 1990 foi laureada nos Concursos Internacionais de Oviedo e Luisa Todi. Em 1989 representou Portugal, através da RTP, no concurso Cardiff Singer of the World.
Gravou para CD uma coletânea de canções de Natal para canto e guitarra e um programa de peças musicais relacionadas com o Palácio da Ajuda. Em 1996 foi a soprano-solista das gravações para CD da obra Matutino dei Morti de J. D. Bomtempo. Em 1999, integrou o elenco que gravou para CD a ópera de Marcos Portugal Le Donne Cambiate, no papel de Condessa Ernesta.
No Festival de Macau de 1992 interpretou, com grande sucesso, o papel de Rosina em O Barbeiro de Sevilha de Rossini. A sua carreira tem tido um destaque especial no âmbito da ópera e música cénica podendo ser referidos os papéis de: Oscar (O Baile de Máscaras), Marie (A Filha do Regimento), Ninette (O Amor das Três Laranjas), Musetta (La Bohéme), Adele (O Morcego), Clorinda (La Cenerentola), Condessa Ernesta (As Damas Trocadas), Hanna (A Viúva Alegre), Najade (Ariadne auf Naxos), Cunegonde (Candide), Vespetta (Pimpinone), Eurydice (Orfeu nos Infernos), Rouxinol (na ópera homónima de Stravinsky), The English Cat (Henze), entre muitos outros.
Em Abril de ’98 integrou o elenco que fez a estreia mundial da ópera Os Dias Levantados de António Pinho Vargas, gravada posteriormente em CD para a EMI.
Foi escolhida para desempenhar um dos papéis principais da ópera Corvo Branco de Philip Glass, levada à cena na Expo ’98 e no Teatro Real de Madrid e, em Julho de 2001, no New York State Theatre (Lincoln Center – Nova Iorque).
Em 2004, no 10º aniversário da morte do compositor, interpretou o soprano solista do Requiem de Fernando Lopes-Graça, versão recentemente editada em cd.
Também em 2006 lançou um cd de composições ibero-americanas para canto e guitarra com o título de Melodia Sentimental.
Em 2009 gravou um CD de árias e duetos dedicado ao reportório cantado pela cantora Luísa Todi. Gravou também em CD a Missa Grande de Marcos Portugal. Acaba de lançar o CD Homenagem a Artur Santos.
Em 2011 participou na estreia mundial da ópera A Rainha Louca de Alexandre Delgado e já em Março de 2012 cantou na estreia moderna da ópera O Basculho de Chaminé de Marcos Portugal.
É Professora de Canto na Escola de Música do Conservatório Nacional e da Academia de Música de Almada.
Nuno Dias | Iniciou os seus estudos musicais simultaneamente em Guitarra Clássica, no Conservatório de Musica de Coimbra, e de Guitarra de Coimbra na Secção de Fado da A.A.C com o mestre Jorge Gomes. Após a conclusão do Curso Complementar de Guitarra Clássica, com elevada classificação, dedicou-se por inteiro ao estudo e interpretação da Guitarra de Coimbra. É licenciado em canto pela Universidade de Aveiro.
É no repertório da Guitarra de Coimbra que reside a sua maior atividade, tendo como maiores referências Artur Paredes e Carlos Paredes. Não obstante, procura com igual interesse manter um repertório alargado no estilo, contribuindo para isso o estudo e execução de peças de autores consagrados da Guitarra como Pedro Caldeira Cabral, ou fazendo transcrições de peças de compositores como J. S. Bach, entre outros, construindo desta forma uma linguagem abrangente nas suas apresentações.
Foi professor de Guitarra Portuguesa no Conservatório de Música do Porto, onde procurou desenvolver um método de ensino que, para além do repertório tradicional da Guitarra, oferecesse possibilidades de desenvolvimento no instrumento a crianças desde o ensino básico, bem como abrangesse outros compositores da História da Música ocidental com transcrições adequadas ao instrumento.
Apresenta-se com regularidade a solo e com o grupo de fados Coimbra de Sempre, do qual é membro fundador, em diversas salas de espetáculo no nosso país, bem como em países como Espanha, Alemanha, Escócia, Grécia.
Fotos Jorge Carmona / Antena 2