Libreto: Felice Romani
Estreia: (Milão) Teatro alla Scala, 27 de Outubro de 1827
PersonagensImógene
Ernesto
Gualtiero
Itulbo
Goffredo
Adele
AntecedentesAos 18 anos Bellini deixa a sua Catânia natal e parte para Nápoles a fim de prosseguir os seus estudos musicais no Conservatório daquela cidade.
A última prova do Curso de Música era obrigatoriamente a apresentação pública duma ópera. Para essa prova final de curso Bellini escreveu "Adelson e Salvini", obtendo um sucesso tão grande que o prestigiado Teatro de São Carlos de Nápoles lhe encomendou de imediato uma nova ópera.
Isto passava-se em Fevereiro de 1825.
Um ano mais tarde, a 30 de Maio de 1826, "Bianca e Fernando" era levada pela primeira vez a cena naquele teatro.
É dessa altura que data a amizade do compositor com o libretista Felice Romani. Revêem juntos "Adelson e Salvini", que tentam apresentar no Teatro del Fondo sem qualquer resultado.
Surge então aquela que iria revelar-se a grande oportunidade na vida de Bellini, e que marcaria o verdadeiro início da sua fulgurante carreira de compositor: um convite do Scala de Milão.
Desse convite nasceria a ópera que iremos escutar esta noite: "Il Pirata" . Bellini e Romani começaram a trabalhar nessa ópera entre Maio de 1827 – um trabalho que se prolongaria por 5 meses. "Il Pirata" subiu pela primeira vez a cena no dia 27 de Outubro desse ano.
Esta foi a primeira ópera que Bellini e Romani fizeram juntos, marcando o início duma parceria que iria manter-se ao longo de 6 anos e de 8 óperas, sendo interrompida apenas em Abril de 1833 quando Bellini partiu para Londres. Das 12 óperas escritas por Bellini, incluindo neste número uma revisão e uma ópera que ficou incompleta, apenas 3 não tiveram libretos da autoria de Romani: os das duas primeiras ("Adelson e Salvini" e "Bianca e Fernando") e o da última ("Os Puritanos") escrita em Paris. Esta estreita colaboração do compositor com o libretista, terá certamente sido duma importância fundamental para uma das virtudes frequentemente apontadas a Bellini, inclusive pelo próprio Richard Wagner: a da perfeita harmonização entre o texto e a música.
1º ActoA acção de "Il Pirata" passa-se na Secília no século XIII depois da derrota dos partidários do Rei Manfredo frente às tropas de Carlos d’Anjou.
O Duque de Caldora, partidário de Anjou, casou-se com Imogène contra vontade dela: Imogène ama Gualtiero, um adversário político do Duque e partidário de Manfredo, que se juntou a um grupo de piratas aragoneses.
Quando a ópera começa os barcos dos piratas acabaram de naufragar depois dum confronto. Um grupo de pescadores assiste impotente ao naufrágio. Entre eles está um Ermita que lhes diz que lhes resta apenas rezar.
No meio da tempestade, um salva-vidas dá à costa, e os pescadores enviam um pedido de socorro à senhora do castelo de Caldora, Imogène.
Entre os náufragos o Ermita reconhece Gualtiero que lhe pede, angustiado, novas da sua amada. A imagem de Imogène nunca o abandonou durante os atribulados dias passados no mar, e Gualtiero diz que toda a sua existência depende dela e do amor que os une.
Os pescadores aproximam-se com a senhora do castelo. Sabendo que ela o irá reconhecer, o Eremita aconselha Gualtiero a esconder-se, e leva-o para a sua cabana.
Imogène aproxima-se dos náufragos e pergunta-lhes se encontraram piratas durante a viagem. Eles respondem que os piratas foram vencidos num confronto. "E o chefe?" – insiste Imogène. "Talvez tenha morrido" – respondem. Depois, numa conversa com uma das suas damas de companhia, Imogène diz que sonhou com Gualtiero, que o viu chegar ferido numa praia. Nesse sonho o Duque afastara-a do moribundo. Ao escutar esta conversa um dos piratas compreende quem ela é. Nesse instante Gualtiero sai da cabana do ermita, vê Imogène, e chama por ela. Mas o Ermita obriga-o a esconder-se de novo. Imogène viu ao longe o vulto de Gualtiero, e julgou reconhecer o seu amado, atribuindo essa visão a mais um dos delírios que a perseguem, e regressando ao castelo com o grupo de mulheres que a acompanhava.
O 2º Quadro passa-se num terraço do castelo onde os piratas bebem e descansam. Um deles aconselha prudência dizendo que a Duquesa pode chegar a qualquer momento.
Depois dos piratas dispersarem chega Imogène na companhia de Adélia, a sua aia que lhe diz que o náufrago que ela avistara na praia aceitou vir à sua presença, tal como ela pedira.
Gualtiero entra cabisbaixo, e Imogène pergunta-lhe o motivo da sua tristeza. "Precisa de dinheiro? Perdeu algum parente? algum amigo?" Gualtiero diz que não tem família nem pátria nem amigos. Como resposta Imogène pede-lhe que reze por ela que é ainda mais infeliz do que ele. Ao ouvir isto Gualtiero aproxima-se, e Imogène reconhece-o caindo nos seus braços. Depois afasta-se subitamente, e diz-lhe que deve fugir: "aquele é o castelo do Duque de Caldora, o seu pior inimigo com quem ela foi obrigada a casar." E explica que o Duque ameaçara o seu pai se ela o não fizesse, que fora por piedade pelo pai que ela aceitara casar-se – ao que Gualtiero responde que ela não tivera fora nenhuma piedade dele.
Nessa altura as amas chegam com o filho de Imogène e do Duque. Ao vê-lo Gualtiero enfurece-se e agarra a criança. Apenas a intervenção de Imogène o impede de matá-la. Gualtiero formula então um desejo: que aquela criança seja para sempre a memória do amor traído.
O último Quadro passa-se diante do castelo iluminado onde os soldados do Duque louvam os méritos do seu chefe que conseguiu libertar os mares da ameaça de Gualtiero.
O Duque convida-os a entrar. Ele não esconde a sua irritação por ter encontrado a Duquesa entregue a uma tristeza profunda. É assim, por entre lágrimas, que ela partilha o seu triunfo? Imogène responde que se sente cansada e doente. Mas o Duque quer saber mais acerca desses tais náufragos que ela socorreu, e manda chamar o Ermita e o chefe desses homens que ele abriga na sua cabana.
Para proteger Gualtiero o Ermita apresenta, em vez dele, um dos seus homens como sendo o chefe. O Duque interroga esse homem, Itulbo, um capitão oriundo da Ligúria, o mesmo local onde Gualtiero se recolhera. Desconfiado, o Duque ordena que todos os náufragos fiquem prisioneiros no castelo até ter a certeza de quem eles realmente são. A pedido de Itulbo Imogène intervem junto do Duque que acaba por aceitar que eles partam mal o sol nasça. Ao ouvir isto Gualtiero aproxima-se de Imogène, e diz que só partirá se ela aceitar voltar a encontrar-se com ele. Imogène quase desmaia diante daquela atitude tão ousada. Diz que se sente mal, e pede à aia que a leve de regresso aos seus aposentos. Na verdade Imogène teme que os seus sentimentos a traiam. Quanto ao Duque… assiste a esta cena com enorme desconfiança.
2º ActoO 1º Quadro do 2º Acto passa-se na antecâmara dos aposentos de Imogène onde Adélia, a sua aia, pede às outras mulheres para saírem pois a senhora do castelo precisa repousar. Na verdade Imogène não dorme: ela aguarda sim a chegada de Gualtiero para um último encontro. Mas quem chega é o Duque que manda Adélia sair para poder conversar a sós com a mulher. Ele quer saber qual é o mal que a afecta. Quando Imogène diz que "são as memórias do pai", a desconfiança do Duque não se desfaz: "o verdadeiro mal de que ela sofre é sim o amor por Gualtiero!" Como resposta Imogène diz que ao Duque deveria bastar-lhe tê-la como esposa e mãe do seu filho.
Seguem-se os lamentos de ambos: Imogène entregue a pensamentos de morte, a única via para se libertar do sofrimento; o Duque reconhecendo ter perdido qualquer esperança de vir a ser amado por Imogène.
É então que chega um Mensageiro com a notícia de que Gualtiero não apenas se encontra na Secília como está escondido ali mesmo, no castelo de Cladora. O Duque pede a Imogène que revele o esconderijo do seu inimigo, o que Imogène recusa dizendo não ser apenas a vida do Duque que está em jogo mas a do seu próprio filho. O Duque clama vingança.
O 2º Quadro passa-se num dos terraços do castelo ao alvorecer quando Itulbo tenta persuadir Gualtiero a partir com os seus homens como estava previsto. Mas Gualtiero recusa: ele pretende vingar-se se Imogène não ceder aos seus pedidos. Imogène chega e pergunta a Gualtiero o que pretende dela. Ele responde que quer que ela fuja com ele. Se o não fizer… matará o Duque. Imogène chora, mas Gualtiero continua a insistir nas suas pretensões falando da felicidade que o Futuro lhes reserva. Mas Imogène responde que, se fugir com ele, encontrará apenas o remorso. Não partirá com ele: Gualtiero deverá viver e perdoar-lhe.
Toda esta conversa fora escutada pelo Duque que estava escondido, e que reconhece o chefe dos piratas. Sem sair do esconderijo, ouve ainda Gualtiero dizer que não tem escolha senão aceitar a recusa de Imogène, mas que nada neste mundo o poderá obrigar a continuar vivo, enquanto Imogène diz pensar apenas na sua honra e virtude. Quando os dois proferem as palavras de despedida, o Duque aparece. Gualtiero enfrenta-o, e os dois preparam-se para o duelo de morte aguardado por ambos havia tanto tempo.
O último Quadro passa-se no salão de entrada do castelo onde os homens do Duque chegam carregando as suas armas, e lamentando a morte do seu senhor às mãos dum pirata infame. Todos reclamam vingança.
Gualtiero chega e depõe as armas dizendo estar preparado para ser julgado pelo Conselho dos Cavaleiros. Pede ainda a Adélia que transmita a Imogène um último recado: a sua atitude pode tê-la magoado mas também a vingou.
Enquanto as trombetas anunciam o julgamento de Gualtiero, os cortesãos comentam que ele conseguiu ganhar o seu respeito.
Antes de partir Gualtiero formula o desejo de que a sua memória não seja odiada para sempre, já que a sorte o abandonou, e foi traído. No entanto, apesar de o respeitarem, os cortesãos não podem esquecer o seu crime.
Imogène surge com o filho pela mão, entregue a um humor estranho e mutável, por tal forma que Adélia compreende que ela enlouqueceu.
Na verdade Imogène não sabe onde está, que lugar é aquele, se é dia ou se é noite, e evoca, com palavras confusas, Gualtiero, o Duque e o seu filho.
A criança aproxima-se, e ela reconhece-a, pede-lhe que implore o perdão do seu pai: ele está vivo e livre porque ela interferiu em seu favor.
As trombetas soam. A condenação de Gualtiero é anunciada.
Ao ouvir o seu nome Imogène compreende que Gualtiero irá morrer. Perseguida pelas imagens terríveis da execução que foi incapaz de impedir, Imogène exclama que nelas se esconde a sua própria morte.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
1997 – 2 de Janeiro
2001 – 4 de Janeiro
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.