Libreto: Broughton segundo Trachiniae de Sophocles e Metamorphoses de Ovidio
Estreia: Londres, King’s and Queen’s Theatre, Fevereiro de 1752
PersonagensHércules
Dejanira, sua esposa
Hyllus, seu filho
Iole, Princesa de Oechalia
Lichas, o Arauto
Sacerdote de Júpiter
Antecedentes"O que os Ingleses querem é música para bater o compasso!" – este o desabafo de Haendel perante os sucessivos insucessos das suas óperas na fase final da sua vida. Ao período brilhante da Royal Academy derrubada pelo ressurgimento da dita ópera inglesa em 1728, seguiu-se o período menos brilhante daquela a que poderíamos chamar "a Segunda Academia" em que Haendel esteve associado a Heidegger, e que terminaria em 1734.
Mas nada parecia fazer desistir o compositor de escrever óperas à sua maneira – ou seja, seguindo os modelos da ópera séria italiana, essencialmente inspirada em temas mitológicos. Quer o público gostasse ou não gostasse.
Foi assim que continuou a batalhar sozinho em novas produções, nas quais investia não apenas todo o seu talento mas toda a sua fortuna.
A última dessas produções foi apresentada no King’s Theater no dia 5 de Janeiro de 1745, sendo recebida pelo público com a maior frieza.
Estamos a falar de "Hércules" que iremos apresentar aqui esta noite numa Gravação Cedida pela Rádio Holandesa dum espectáculo que teve lugar na Concertgebouw de Amesterdão no dia 8 de Abril do ano passado.
Desta vez a reacção do público foi bastante diferente.
"Hércules" tem libreto de Thomas Broughton baseado na "Traquínia" de Sófocles e nas "Metamorfoses" de Ovídio.
1.º ActoO semi-deus Hércules, filho de Júpiter, também conhecido por Alcides, é governador de Trachis e está em guerra com Oechalia. A sua mulher Dejanira espera-o ansiosa, temendo o pior, apesar das palavras confiantes de Lichas, o arauto. Quando o seu filho Hyllus chega, ao ver o seu semblante sombrio, Dejanira compreende que os seus temores têm fundamento. Hyllus consultara o oráculo que predissera a morte de Hércules enquanto o templo estremecia movido por forças misteriosas. Hyllus quer partir de imediato para salvar o pai, mas chega a notícia de que Hércules triunfara e está já de regresso. Entre os prisioneiros está a lindíssima princesa Iole, filha do rei de Oechalia, que foi assassinado. Hércules concede-lhe a liberdade, e hospeda-a no palácio, mas Iole está demasiado abalada para reconhecer este gesto de misericórdia. Embriagado pela vitória, Hércules anseia encontrar-se com Dejanira a quem ama apaixonadamente. O acto termina com cânticos de louvor pela conquista.
2.º ActoO 2º acto inicia-se com um lamento de Iole enquanto chega aos ouvidos de Dejanira um boato que diz que Hércules tem uma ligação amorosa com a princesa de Oechalia. As duas mulheres encontram-se mas Iole é incapaz de desfazer as suspeitas de Dejanira, que continua prisioneira do ciúme.
Na verdade os boatos não têm qualquer fundamento: não é Hércules quem está apaixonado por Iole mas sim o seu filho Hyllus que tenta timidamente conquistar a princesa. Iole rejeita-o, e o coro comenta que o deus do Amor não irá certamente tolerar ser ridicularizado.
Entretanto Dejanira confronta Hércules com as suspeitas de traição. Ele nega com veemência, mas sem conseguir convencer a mulher. É assim que quando parte para o templo para agradecer aos deuses a vitória, Dejanira continua consumida pela desconfiança. E decide reconquistar o amor de Hércules enviando-lhe um manto embebido de poderes extraordinários – um manto que ele deverá usar durante a cerimónia no templo. Dejanira recebera esse manto do centauro Nessus, morto por Hércules, e acredita que o sangue do centauro de que ele está impregnado possui o abrasador poder do Amor.
É Hyllus quem fica incumbido de colocar sobre os ombros de Hércules essa poderosa prova de Amor.
O acto termina com Dejanira fazendo as pazes com Iole, a quem promete que irá pedir a Hércules que lhe restitua o direito de herdar o trono de Oechalia enquanto o coro fala do Amor renovado dos reis.
3.º ActoO 3º acto inicia-se com a chegada de Hyllus que narra os efeitos devastadores que o manto teve sobre Hércules: um veneno terrível pô-lo em chamas destruindo-lhe o corpo numa prolongada agonia. Às portas da morte Hércules amaldiçoou Dejanira e ordenou a Hyllus que erguesse uma pira funerária no Monte Oeta para que pudesse elevar-se até aos deuses.
Quando Dejanira sabe dos efeitos que o manto provocou compreende a extensão do seu erro: ela fora usada por Nessus como instrumento de vingança. As Fúrias vêm buscá-la para que arda para sempre.
Perante tanto sofrimento, Iole esquece o seu infortúnio para chorar o terrível destino do conquistador. Então um sacerdote anuncia que foi vista uma águia mergulhar no inferno de fogo onde Hércules se consumia, o que só pode querer dizer que ele se foi juntar aos deuses no Olimpo. O sacerdote revela igualmente a vontade de Júpiter: a princesa de Oechalia deverá casar com o filho de Hércules, e a ópera termina com o coro enunciando os feitos do semi-deus e a benção de paz e de liberdade que trouxe ao país.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
2001 – 28 de Junho
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.