No próximo domingo, dia 19, pelas 18h00, a Antena 2 apresenta a ópera-oratório Édipo Rei de Igor Stravinsky, gravada no Festival de Salzburgo de 2025, no programa Mezza-Voce de André Cunha Leal.
Obra em dois atos para orquestra, solistas e coral masculino, tem a particularidade de incluir um narrador, nesta récita gravada no Grande Auditório do Mozarteum, o ator austríaco Christoph Waltz. O maestro finlandês Esa-Pekka Salonen dirige o coro Wiener Singverein e a Orquestra Filarmónica de Viena. No elenco de solistas encontram-se o tenor Allan Clayton, como Édipo, a meio-soprano Marina Viotti como Jocasta, o barítono Michael Volle no papel de Creonte/Mensageiro, o baixo Albert Dohmen, como Tirésias, e o tenor Antonin Rondepierre no papel de Pastor.
Édipo Rei / Oedipus Rex é uma ópera-oratório neoclássica de 1927 com música de Igor Stravinsky, baseada na tragédia grega de Sófocles. A obra tem libreto de Jean Cocteau em francês, traduzido para o latim, embora a narração possa ser apresentada na língua do público.
Stravinsky compô-la para celebrar os 20 anos de atividade artística de Diaghilev. O texto, escreveu-o Jean Cocteau, confiando-o posteriormente ao seu amigo e abade Jean Daniélou, que o reverteu para latim. Inicialmente Stravinsky ponderou adotar a língua grega antiga, uma vez que se baseava na tragédia homónima do dramaturgo grego, mas decidiu-se depois pelo latim, pois considerava-o uma língua pura e material, ideal para a música, comparando-o a um bloco de mármore para a escultura.

Maestro Esa-Pekka Salonen
A primeira apresentação em concerto, que não foi particularmente bem recebida, ocorreu sob a batuta do compositor em 30 de maio de 1927 no Théâtre Sarah-Bernhardt, em Paris. Este local, onde os Ballets Russes de Sergey Diaghilev também se apresentaram, tinha fortes laços com Stravinsky pelos seus bailados (L’Oiseau de feu / O Pássaro de Fogo, 1910; Le Sacre du printemps / A Sagração da Primavera, 1913).
Só em 1928 foi encenada, tendo Stravinsky instruído que tivesse o mínimo de movimento e os cantores principais deveriam usar máscaras. Assim, foi apresentada pela primeira vez em palco como ópera, na Ópera Estatal de Viena, a 23 de fevereiro de 1928, e dois dias depois em Berlim, dirigida por Otto Klemperer e projetada no estilo pós-expressionista do movimento Neue Sachlichkeit (Nova Objetividade).
Édipo Rei tem sido considerado a obra mais monumental do período neoclássico de Stravinsky. Não sendo uma das suas obras mais conhecidas, é contudo uma das mais importantes. Oedipus Rex alicerça-se numa simplicidade sonora onde os intervenientes da tragédia de Sófocles se movem quase hipnoticamente, dando a impressão de estátuas vivas tal como pretendia o compositor. A natureza ritualística do drama é enunciada pelo narrador, assumindo-se o coro como um dos atores que comenta, segundo os cânones da tragédia grega, as contrariedades do jovem Édipo que, ao desvendar o enigma da temível esfinge às portas de Tebas, viria a transformar-se no mais humano e pungente dos mitos.
A obra segue o mito de Édipo, a história de um herói da mitologia grega que, sem o saber, matou o seu pai e casou-se com a sua mãe, Jocasta, cumprindo uma profecia feita por um oráculo.
A grandeza impessoal da releitura de Stravinsky é sinalizada pelo coro de abertura. Ao mesmo tempo, a queda de Édipo é vividamente delineada pela gradual angústia vocal. A trajetória musical – motor pulsante do destino – é tão inevitável quanto o drama. Apesar dos princípios e pronunciamentos de Stravinsky – de que a música “é impotente para expressar qualquer coisa” – a ópera culmina em catarse. A grande história de Sófocles sobre a submissão ao destino ressoa com a sensibilidade religiosa de Stravinsky: a submissão a Deus.

Meio-soprano Marina Viotti
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Mezza Voce é um programa de André Cunha Leal, com produção de Susana Valente.
Fotos de Marco Borrelli