LibretoFriedrich Kind
Estreia18 June 1821 em Berlim
AntecedentesNo início do século XIX, a ópera alemã lutava para se libertar do domínio dos teatros reais e ducais, fortemente regulados, e da preferência pelas características da opera seria italiana. Como parte da revolução romântica, os compositores procuraram tratar uma gama de assuntos mais livre e quotidiana, baseada na história e nas lendas dos povos germânicos, e não nas personagens régias da mitologia clássica. A obra crucial deste período foi O Franco Atrirador (Der Freischütz) de Carl Maria von Weber, uma ópera que consubstancia o fascínio pelos aspectos mais sinistros do mundo natural e pelas trevas do passado medieval, fascínio esse que também dá cor a fenómenos culturais da mesma época, como os Lieder de Schubert, os contos dos irmãos Grimm e as pinturas de caspar David Friederich. O uso do diálogo falado, comum no género da ópera cómica alemã do século XVIII, o Singspiel, é outra das características a destacar no Franco Atirador, bem como os seus episódios mais ligeiros.
Depois da ocupação napoleónica, a cultura alemã preocupou-se com o restabelecimento das suas raízes nacionais, rejeitando simultaneamente a elegância e a simetria do Neoclacissismo e a filosofia racionalista do Iluminismo, que era na altura dominada pelos pensadores franceses. Em seu lugar, desenvolveu-se um fascínio pelos episódios mais distantes da história alemã, as paisagens de rios e florestas, o macabro folclore camponês – a época das pinturas de Caspar David Friederich, das investigações dos irmão Grimm e dos pesadelos imaginários de fantasistas românticos como E. T. A. Hoffmann. A ópera de Weber é outro produto deste movimento: trata-se de uma experiencia corajosa com a forma do Singspiel, tendo sido interpretada pela primeira vez no aniversário da batalha de Waterloo. Baseou-se num cenário histórico especifico (a Boémia, na sequencia da Guerra dos Trinta Anos), utilizou melodias populares nos coros e, para a cena culminante no Covil do Lobo, abriu as portas a um mundo de magia negra e invocação de demónios, dando aos técnicos a oportunidade de mostrarem uma bateria de efeitos especiais e de porem os espectadores de cabelos em pé. O sucesso de O Franco Atirador foi de tal forma instantâneo e duradouro que pode dizer-se sem exagero que acabou por determinar a agenda da ópera alemã para os cinquenta anos seguintes.
ResumoI Acto
Em frente a uma estalagem na floresta, Max, um dos couteiros do príncipe da Boémia, assiste com a morte na alma ao triunfo de Kilian, seu adversário num amigável concurso de tiro. Suporta a troça dos aldeãos, o que origina uma zaragata. Kuno, o chefe dos couteiros, recorda-lhe que se quiser casar com a sua filha Agathe, por quem Max está apaixonado, e obter a sua sucessão à frente dos guardas florestais, deve ganhar o concurso de tiro que terá lugar no dia seguinte e que conta com a presença do príncipe, tal como manda a tradição. Um colega de Max, Kaspar, que se tinha vendido ao demónio Samiel, aconselha o seu camarada a juntar-se-lhe à meia noite no Covil do Lobo para fundir as balas francas, balas mágicas que não falham o alvo.
II Acto
Ännchen esforça-se por distrair a sua prima Agathe, inquieta desde que um velho eremita a prevenira de um perigo grave que numa visão lhe revelara. Ficando só por um momento, Agathe canta um doce hino à Natureza e à noite. Max passa como uma rajada, muito nervoso. Ele diz que deve ir recuperar um despojo de veado perto do Covil do Lobo. À evocação desse maldito lugar, Agathe e Ännchen ficam apavoradas.
O Covil do Lobo consiste numa paisagem terrifica no meio da floresta, uma garganta profunda cercada de altas montanhas, povoada pelos pássaros da noite e por espíritos invisíveis. Kaspar é o primeiro a chegar. Prepara os seus acessórios e invoca Samiel o Caçador Negro, prometendo-lhe a alma de Max em troca da libertação da sua. Max chega por sua vez. Assiste à fundição de sete balas no meio de aparições medonhas.
III Acto
O dia nasceu. Kaspar e Max encontram-se na floresta. Resta uma bala a cada um, pois já dispararam as outras. Kaspar apressa-se a disparar a sua: só ele sabe que a ultima bala é a do diabo. Por seu lado Agathe prepara-se para os seus esponsais. Já inquieta com os sues sonhos assustadores da última noite, abre a caixa que contem o diadema de noiva e descobre lá dentro uma coroa mortuária.
Num belo vale romântico, o príncipe Otakkar vai presidir às provas de tiro. Tranquiliza Max e designa-lhe como alvo uma pomba branca. No momento em que dispara, Agathe sai da moita e desfalece. Samiel tinha desviado a bala para ela. Contudo ela só está desmaiada: o Eremita protegera-a… e Kaspar, que se tinha escondido lá, é mortalmente ferido. Samiel apodera-se da sua alma. Instado a explicar todas estas maravilhas, Max jura que utilizou uma bala de pólvora seca. É condenado ao exílio, mas o Eremita consegue o seu perdão. O príncipe aceita que ele case com Agathe no final de um ano probatório.