LibretoFrancis Money-Coutts
EstreiaTeatro Tívoli, Barcelona em 18 de dezembro de 1950
AntecedentesPode-se afirmar que não existe na história da música de Espanha mais nenhuma ópera com a ambição formal, vocal, dramática e musical como a ópera Merlin de Albéniz.
Para José de Eusébio, o maestro presente nesta gravação e também o grande responsável pelo ressurgimento desta ópera de Albéniz no repertório das grandes salas de teatro de todo o mundo, Merlin representa a derradeira aproximação da música espanhola á grande música que se fazia no resto da Europa. Tal só não chegou a ser verdade no tempo de Albéniz, porque Merlin nunca chegou a ser estreado.
Chega-se mesmo a dizer que se Merlin tivesse sido estreado no tempo de Albéniz, a história da música espanhola teria sido completamente diferente. Mais uma vez segundo Eusébio: "Não creio estar a exagerar ao dizer que o verdadeiro nacionalismo de Albéniz estava profundamente entroncado, principalmente no final da sua vida, na grande tradição lírica centro-europeia".
O libreto de Merlin pertence à trilogia do rei Artur, três dramas líricos baseados na morte do Rei Artur do escritor inglês "Sir Thomas Malory, e que foi escrita por Francis Burdett Money-Coutts que ao contrário do compositor que não conseguiu completar a música para esta trilogia, finalizou os libretos das duas restantes óperas: Lancelot e Guenevere. Infelizmente, os esboços conhecidos de Albéniz para a sua ópera Lancelot são insuficientes para a sua recuperação orquestral definitiva, e da ópera Guenevere, não se conhece qualquer esquiço musical.
Merlin é assim, a primeira parte de uma complexa trama lírica pensada por Coutts e Albéniz para estabelecer a ópera nacional inglesa em paralelo com o que Wagner tinha conseguido com a sua tetralogia, "O Anel do Nibelungo".
Resumo
O 1º acto tem início nas proximidades da catedral de São Pedro em Londres, pouco antes do raiar da aurora do dia de Natal. Ouve-se o canto dos monges que se encontram dentro da igreja.
Próximo de um muro encontra-se um bloco de mármore onde está presa uma esplêndida espada.
Merlin saúda o dia de Natal e exprime o desejo de ver Artur ser coroado Rei da Inglaterra antes do final do dia.
Nivian, uma escrava sarracena que, juntamente com as suas irmãs, seduz os gnomos para que Merlin lhes consiga roubar o ouro, suplica ao mago que cumpra a palavra de as libertar quando o rei for coroado. No entanto a única coisa que preocupa Merlin é que os seus planos não cheguem aos ouvidos de Morgana, por isso, não só ignora as preces de Nivian, como ainda a ameaça de grandes tormentos se ela ousar contar os seus intentos à fada Morgana.
Cavaleiros, nobres e damas saem da igreja em procissão, juntamente com os monges e o arcebispo de Cantuária. Merlin aproveita a ocasião para exortar todos os presentes e escolher um novo rei. Um grupo de homens relata o rumor de que o herdeiro do trono será revelado através da Graça Divina. O arcebispo lê a inscrição que se encontra na espada "excalibur" que diz que quem conseguir arrancá-la da rocha será o novo rei.
Morgana reclama a coroa para seu filho, pois ele tem sangue real. Mas a população prefere que seja "excalibur" a decidir. Gawain, instigado por seu pai, o Rei Lot, é o primeiro a tentar arrancar a espada. Fracassa. Depois é a vez de Mordred, filho de Morgana, que, apesar das advertências da mãe, não consegue suplantar a magia de Merlin e também falha. O arcebispo manda então chamar novos candidatos e Merlin ordena que a espada seja protegida. O torneio é anunciado.
Artur, que se encontra a passear com Kay, confunde a espada "excalibur" com a sua própria espada que julgava ter perdido e retira-a da rocha sem qualquer esforço. Quando Ector e Pellinore juram pelas Sagradas Escrituras que foi Artur quem libertou "Excalibur", Merlin revela à população que Artur é filho da Rainha Igraine, que no leito de morte, confiou o bebé Artur a Merlin e que este por sua vez o tinha deixado á porta de Ector, em quem confiava. Todos, excepto Morgana e os seus seguidores, proclamam solenemente Artur como o novo Rei.
O 2º acto tem início na sala do trono do castelo de Tintagel. Artur e Merlin conversam acerca da guerra contra Morgana que acaba de terminar. Perante a insistência de Merlin, Artur confessa a sua paixão por Guenevere mas Merlin adverte-o dos perigos de tal romance deixando o jovem rei furioso.
Os nobres vencedores entram em cena proclamando a sua vitória e trazendo consigo os vencidos: Morgana, Mordred e Pellinore. Artur procura descobrir os motivos que levaram Morgana a agir tão impiedosamente contra o seu próprio irmão.
Perante a ira de Merlin, da multidão e do cavaleiro Gawain, que viu morrer o seu pai às mãos de Pellinore, Morgana pede misericórdia. Artur proclama a paz e concede o perdão aos prisioneiros, que se ajoelham aos seus pés. Todos louvam a bondade do monarca, enquanto Mordred e Morgana pensam já na vingança.
Morgana prevê que Guenevere se tornará rainha, casando com o rei, e que essa união trará consigo a destruição da coroa. Mas, para isso, Morgana terá primeiro que se livrar de Merlin que, com a sua magia, protege Artur e implora a ajuda da princesa dos infernos.
Surge Nivian que relata a sua situação a Morgana, suplicando a sua ajuda para recuperar a liberdade. Morgana diz-lhe que só com astúcia se poderá vencer Merlin e revela-lhe o poder da varinha de condão que Merlin traz consigo bem como a fragilidade da rocha que tapa a entrada da gruta dos gnomos.
Merlin é assim enganado pelos artíficios de Nivian e pela sua própria ganância. O mago é aprisionado na gruta. Nivian ao ouvir os seus chamamentos vai ter com ele.
O 3º acto tem inicio no bosque. É primavera e as flores despontam. Ao longe ouve-se a canção de Maio. Artur, que dormia ao pé de uma faia, recorda Guenevere. Merlin conversa com Artur que o encarrega oficialmente de pedir a mão de Guenevere em casamento. Ao invés, o mago medita no modo de conseguir com que Artur esqueça a sua amada, pois a consumação desse amor provocará a destruição do reino. Antes porém terá que ir roubar mais ouro aos gnomos. Chama então Nivian e as suas companheiras que começam a dançar. Os Gnomos saem da gruta e perseguem as donzelas perdendo-se com elas no bosque.
Ao longe ouve-se o riso voluptuoso do amor. Um interlúdio descreve o pôr-do-sol, enquanto uma bruma envolve Merlin e Nivian. Nivian dança para Merlin enquanto Morgana vagueia por entre as árvores.
Seduzindo Merlin, Nivian pede-lhe um desejo: que lhe deixe pegar na sua varinha de condão. O mago dá-lha convicto que na sua mão a varinha perderá os seus poderes.
Com a varinha na mão, Nivian desaparece no bosque e Merlin, sozinho, proclama que a jovem recuperará brevemente a sua liberdade.
Preparando-se para entrar na gruta e despojar os gnomos do seu tesouro, Merlin diverte-se perante a possibilidade de Nivian perceber que tem nas mãos a única chave que poderá fechar a gruta dos Gnomos e, rindo-se, caminha para o seu interior.
Nivian aproxima-se com a varinha de condão na mão, invocando e proclamando o espírito de liberdade numa impressionante ária.
A jovem toca com a chave mágica na rocha que imediatamente se desloca bloqueando a gruta.
Alarmados com o estrondo, os gnomos precipitam-se desordenadamente sobre a rocha. Horrorizada, Nivian atira a varinha de condão e, enquanto se dirige para Morgana, canta desesperadamente a sua liberdade recém conquistada desaparecendo no bosque. Banhada pela luz da lua, Morgana medita no poder da inocência de Nivian que conseguiu triunfar sobre a mais poderosa das magias.
Com as palavras "Que assim seja, Princesa dos infernos!", Morgana entra também no bosque desaparecendo em seguida.
Assim acaba esta primeira ópera da trilogia arturiana de Albéniz, deixando-nos quer pela sequencia da história, quer pela própria musica a ideia de que estamos perante uma narrativa aberta, o que naturalmente atendendo ás intenções de Albéniz e Coutts, seguiria com Lancelot e Guenevere, esta ultima da qual não se conhecem quaisquer esboços.