Estreia 1892
AntecedntesMlada começou por ser um projecto proposto por Stepan Gedeonov ao Teatro Marinsky de São Petersburgo. Assim em Janeiro de 1872, formava-se um grupo para levar em frente este grandioso projecto cujo fio condutor seria a mitoligia eslava. César Cui ficava com a responsabilidade de compor o primeiro acto, Modest Mussorsky e Nicolai Rimsky-Korsakov os 2º e 3º actos, Alexander Borodin o 4º Acto, e o austríaco Ludwig Minkus ficava encarregado de compor os balets. A musica acabou mesmo por ser composta, no entanto seria apresentada desfasadamente e com o passar do tempo os próprios compositores iriam desinteressar-se, utilizando a musica composta para outras obras.
Dezassete anos depois, em casa de Borodin, Anatol Lyadov interpelava Rimsky-Korsakov acerca do projecto. Propunha-lhe que retomasse e assumisse ele próprio a tarefa de compor Mlada. Ora, nesse ano acabava de estrear na Rússia a Tetralogia de Wagner e naturalmente os grandes compositores russos como Rimsky-Korsakov não lhe ficaram indiferentes. A proposta de Lyadov surgia assim no momento certo: um enredo tirado da mitologia eslava, capaz de fazer a exaltação de uma identidade própria através dos seus heróis e dos seus feitos fantásticos, fazia agora, mais do que nunca, todo o sentido. Rimsky-Korsakov retomava o projecto.
O enredo de Mlada pode ser facilmente associado a La Sylphide de Fillippo Taglioni, ou até mesmo ao enredo de Giselle. No entanto, para além de La Sylphide as analogias com a tetralogia de Wagner são evidentes, mesmo que superficiais – Um anel fatídico e um apoteótico final que envolve a destruição de um lugar a que se segue uma inundação. A tudo isto junta-se a mitologia báltica e uma enorme influencia dos atavismos das religiões eslavas ancestrais.
O papel principal de Mlada é entregue a uma bailarina cuja caracterização dramática é posta simplesmente em termos das antigas convenções mímicas, já caídas em desuso na década de noventa do século desanove e que faziam parte de todo um conceito de ópera ballet como sendo essencialmente um espectáculo de corte – um conceito que apenas se mantinha vivo na única autocracia europeia.
Esta curiosa mistura de ópera com ballet, contou ainda com a recuperação de números da La Bayadère, originalmente escritos por Minkus para o projecto original de Mlada. Esta curiosa mistura de ballet e de ópera estreou em 1892.
ResumoO primeiro acto passa-se nas terras de Mstivoy. Festeja-se o solstício de verão. A filha de Mstivoy, Voyslava está perturbada. Voyslava assassinou Mlada, a noiva do príncipe Yaromir da Arconia, motivada por uma paixão fulminante. O príncipe sempre fiel à sua falecida noiva, rejeitou as posteriores aproximações de Voyslava e a jovem vê-se obrigada a apelar a Lada, a deusa do amor, no entanto o seu acto fez com que as divindades estivessem contra ela. Então surge a antiga ama de Voyslava, que promete ajudá-la caso ela se entregue a Morena, uma divindade do sub-mundo. Voyslava acede e, de repente, ouve-se um enorme trovão que mergulha a cena numa grande escuridão. Perante Voyslava está agora, não a sua antiga ama, mas a própria Morena, que invoca as forças do sub-mundo para virem em auxílio de Voyslava.
Voltando ao cenário onde se comemora o solstício de verão Yaromir também está reticente em juntar-se à comemoração. No entanto, o feitiço de Morena começa a surtir efeito e Yaromir repara na beleza de Voyslava. Mstivoy ordena que se inicie uma dança em honra do solstício e Yaromir cai num sono profundo. No seu sonho Yaromir assiste à maneira com Voyslava matou Mlada com o veneno do seu anel. Acorda confuso e é arrastado para o centro da festa pelos empregados de Mstivoy.
O segundo acto passa-se ao pé do templo de Radegast. Comerciantes vindos de todos os cantos do mundo, preparam-se para a continuação da festa do solstício. A uma tal afluência de gente quase resulta numa briga entre os Polabianos e os Novgorodianos, forçando o bardo Lumir a lembrá-los do seu inimigo comum: os Cristãos Teutónicos. A procissão é liderada pela princesa local. A cerimónia pelo Grande Sacerdote. Mstivoy dá ordens para que os festejos comecem. Dá-se início a um ritual onde casais se beijam periodicamente. Num desses momentos, quando Yaromir se prepara para beijar Voyslava, surge entre eles o espectro de Mlada, que se materializa e os separa. Voyslava esconjura Morena, cujo feitço se prova ser mais fraco que o amor de Yaromir por Mlada. Mstivoy conduz a sua filha para longe dali e ordena que se continue com a dança ritual.O terceiro acto passa-se à noite, num local conhecido por "três picos". O céu é regado por estrelas cadentes. A essa hora é a vez dos espectros das almas que já deixaram o mundo dos vivos festejarem o solstício de verão. O luar ilumina Mlada que conduz Yaromir pelas montanhas. Ele implora-lhe que ela o perdoe e que o leve com ela para o mundo das sombras silenciosas. Com um gesto Mlada deixa claro que primeiro o principe terá que enfrentar um julgamento, depois, a Mlada desaparece como que por artes mágicas. A lua começa a ficar encoberta e o céu avermelhado. Um trovão vindo das profundezas anuncia o inicio de uma noite das bruxas. As almas errantes dispersam-se e dão lugar aos demónios. Surge assim Morena que espera com que o deus do mal reverta a influência da deusa do amor sobre Yaromir e Mlada. Chernobog, o deus do mal, dá ordens à feiticeira Kashchey para conjurar o espectro de Cleópatra para seduzir o príncipe Yaromir. O canto do galo anuncia o fim da orgia e Yaromir é encontrado a dormir debaixo de uma árvore. Ao acordar ele decide voltar ao templo de Radegast e pede aos sacerdotes para lhe explicarem o significado das visões que acabara de ter.
E assim começa o quarto acto. No templo, o Grande Sacerdote pede a Yaromir que aguarde no escuro pelas almas dos heróis ancestrais que o vêm para revelar a verdade. É já alta noite quando finalmente os espectros chegam e lhe revelam que Voyslava realmente envenenou Mlada. Os espectros clamam por vingança. Nesse momento entra Voyslava que assume o seu crime desculpando-se com o amor que sentia por Yaromir. O príncipe fica de tal maneira perturbado que agarra Voyslava pelos cabelos e desfere-lhe um golpe mortal com a sua espada. No entanto, antes de morrer, Voyslava invoca Morena. A deusa comanda assim as forças malignas que destroem o templo com terramotos e tempestades; o nível da água do lago sobe e submerge Retra. Quando a tempestade perde força, as sombras de Yaromir e Mlada aparecem juntas por cima da rocha sagrada, rodeados de todos os espíritos bons e enquadrados pelo mais esplenderoso dos arco-íris.