LibretoLorenzo da Ponte a partir de Carlo Goldoni
EstreiaBurgtheater de Viena no ano de 1786
AntecedentesVicente Martín y Soler foi um dos compositores espanhóis mais importantes da segunda metade do século XVIII. Apesar de pouco divulgada a sua música nos dias de hoje, nos seus dias Vicente Martín y Soler foi comparado a Mozart, chegando a ser conhecido como o Mozart de Valência.
Vicente Martín y Soler nasceu no dia 2 de Maio de 1754 em Valência, tendo revelado desde cedo uma apetência especial para a música. Foi para Bolonha estudar com Giovanni Battista Martini e em 1775 compôs a sua primeira ópera Il tutore burlato, a partir da ópera de Giovanni Paisiello, La Frascatana – é precisamente com essa obra, após uma adaptação para o castelhano, que Martín Y Soler conhece o êxito na sua Espanha natal. Em 1777 foi para Nápoles onde compôs o seu primeiro ballet para o Teatro de São Carlos. Abria-se assim uma nova porta na sua carreira para o mundo da dança. Contudo Martín Y Soler nunca abandonou a ópera. Ainda em Nápoles estreou uma das suas óperas sérias mais importantes: Ifigénia. Em 1785 partiu para Viena, onde a sua música já era conhecida. Aí, Martín Y Soler conheceu Lorenzo Da Ponte com quem trabalhou em inúmeras óperas. Desse período destacam-se Una Cosa Rara, da qual Mozart extrairia melodias para a ceia de D. Giovanni, e Il Burbero di Buon Cuore ou o O Rabugento de Bom Coração, a partir da peça de Carlo Goldoni e estreada no Burgtheater de Viena no ano de 1786.
Resumo
O centro de O Rabugento de Bom Coração é a jovem Angélica, sobrinha de Ferramondo, um velho burguês com um feitio muito difícil. Angélica está apaixonada por Valério Argenti, um jovem de boas famílias. Entretanto, Marina, a governanta do velho rabugento, surge na história como a ajuda indispensável para o sucesso do amor de Angélica e Valério. Estes deparam-se com um único, mas grande obstáculo: o irmão de Angélica, Giacondo, está completamente falido e arruinado – a mulher de Giacondo, Lucilla, amante do luxo e das festas, conseguiu gastar tudo aquilo que tinha e ainda o que não tinha – por isso Giacondo planeia internar a sua irmã num convento para assim evitar ter que pagar um dote que ele já não tem. Quando Angélica descobre o plano, atribui as culpas de tudo a Lucilla. Contudo, por timidez, Angélica não consegue explicar ao seu tio que está apaixonada. Marina, a governanta, resolve então intervir: vai contar o plano de Giacondo ao seu patrão, Ferramondo. Este não está nada satisfeito com a conduta do seu sobrinho e recusa-se determinantemente a conviver com Giacondo e a sua mulher, mesmo tendo que viver debaixo do mesmo teto. Assim, Feramondo decide casar Angélica com um amigo e parceiro de xadrez, Dorval. Apesar de rabugento, o velho Ferramondo quer ajudar a sobrinha a não ir para o convento e oferece-se para pagar o dote de Angélica a Dorval que aceita casar-se com ela. As coisas ficam complicadas para a jovem e assim ela decide contar a verdade a Dorval. Confrontado com o amor que Angélica sente por Velerio Argenti, Dorval desiste da mão da jovem e ainda promete ajudá-la.
Angélica está metida numa grande alhada: está apaixonada por Valério, mas o seu irmão Giacondo destinou-lhe o convento para não ter que pagar o dote. Por sua vez Giacondo está completamente falido devido aos excessos da sua mulher, Lucilla. Como se não bastasse, o tio rabugento de Angélica, alertado pela governanta da casa, decidiu ajudar Angélica a não ir para o convento e arranjou-lhe um noivo: o seu amigo e parceiro de xadrez Dorval. Angélica não tem outra alternativa senão contar a verdade a Dorval que decide ajudá-la.
Entretanto Valério conseguiu introduzir-se na casa de Ferramondo com a intenção de falar com Giacondo. Quando se apercebe da situação vivida naquela casa, Valério oferece-se imediatamente para ajudar a solucionar os problemas financeiros do casal de gastadores, Giacondo e Lucilla. Valério quer ainda falar com Ferramondo. Ele está disposto a casar-se com Angélica mesmo sem dote. Quando se prepara para o fazer, Marina e Angélica aconselham-no a não revelar nada ao velho tio, dado que ele está pelos cabelos com os comportamentos de Giacondo e Lucilla. Valério faz-se assim passar por um mercador de moda.
Nisto, Giacondo pede para ser ouvido por seu tio. Pede-lhe perdão pela vida que tem levado juntamente com a sua mulher. Contudo Ferramondo não consegue esquecer a conduta de Lucilla e apenas concede o perdão ao seu sobrinho. Lucilla cai em si e tenta falar com Ferramondo para demonstrar o seu arrependimento. Ao ver que é rejeitada, Lucilla desmaia e Ferramondo fica desorientado. Quem aproveita logo a situação é Marina. Perante o estado débil do velho rabugento, Marina resolve interceder por Angélica, contando ao seu patrão que Angélica está e sempre esteve apaixonada por Valério. Ferramondo fica baralhado. Apesar de rabugento, o seu coração é grande. Primeiro desabafa: "Em minha casa todos actuam debaixo do meu nariz e por detrás das minhas costas"; Depois consente no casamento de Angélica com Valério.