LibretoNahum Tate
EstreiaEscola Josias Priest’s girls’ em Londres no verão de 1688.
Antecedentes e resumoDesde o início do reinado de Henrique VIII, que a corte inglesa se deleitava com um género de espectáculo musical chamado de mascarada, em certa medida comparável ao ballet de corte francês ou às outras festas da renascença. Carros magnificamente decorados representavam cenas alegóricas, cujos protagonistas cantavam, recitavam ou se limitavam a mostrar as suas máscaras. Até ao século dezassete, as mascaradas da corte têm muito pouco interesse dramático ou musical; são, em geral, homenagens ao rei, à rainha ou a alguma outra grande figura do estado, executadas por membros da família real e da corte. Mas o florescimento do teatro isabelino, impõe critérios artísticos de alto nível, e o público que se acotovelava nos novos teatros de Londres e subúrbios, para aplaudir as peças de Marlowe e de Shakespeare, tornou-se exigente. A partir de 1612, a colaboração entre o dramaturgo Ben Johnson, o arquiteto Inigo Jones, os compositores Alfonso Ferrabosco e Nicholas Lanier, fez da mascarada um género lírico de qualidade, um verdadeiro espectáculo musicado, em que o centro deixa de ser o rei, e sim a ficção imaginada pelo poeta e embelezada pelo músico. Os carros desaparecem e são substituídos por um estrado escalonado com espaços preparados para as diferentes cenas.
Em 1617, a mascarada Lovers made men de Ben Johnson com música de Nicholas Lanier utiliza já o novo estilo de recitativo à italiana. Contudo ainda seriam necessárias cerca de quatro décadas até que se começasse a esboçar aquilo que viria a ser a ópera inglesa. Esta só adquire forma bem lentamente a partir de 1650, não imitando os franceses ou os italianos, mas num estilo original, em que o fantástico e o humor são explorados como arte. A consagração definitiva desta ópera inglesa vem finalmente com John Blow e a sua "Vénus e Adónis", uma mascarada para diversão do rei, representada em 1682 diante da corte, com Mary Davies, a amante de Carlos II, no papel de Vénus, e a sua filha no papel do Cúpido.
Um pouco mais tarde, em 1689, é o aluno de John Blow, Henry Purcell que vai dar a maior cartada na consagração da ópera inglesa. A pedido de um colégio de raparigas em Chelsea, Henry Purcell vai encenar aquela que se tornaria na sua obra-prima: a ópera Dido e Eneias. O carácter privado da representação permitiu que Purcell realizasse o seu ideal dramático, sem precisar de ceder ás exigências da moda. O libreto era de Nahum Tate e deixava muito a desejar, mesmo assim, Purcell conseguiu criar com Dido e Eneias algumas das mais belas páginas da história da ópera. Uma prova do génio dramático de Purcell que, na sua breve carreira, sobressaiu em todos os géneros: música de teatro, música religiosa, ode, cantata de câmara, sonata à italiana e o velho consort de violas.
Quer fosse através de ópera ou de mascaradas, tanto a língua como o génio poético dos ingleses prometia ao seu teatro musical um desenvolvimento original e uma influência duradoura. No entanto, a ópera inglesa não sobreviveu a Purcell, falecido com apenas trinta e seis anos. Quinze anos após a sua morte, quando Handel chaga a Londres, os teatros da cidade são autênticos bastiões da ópera italiana.
A acção de Dido e Eneias é baseada na Eneida de Virgílio. Passa-se em Cartago após a chegada de Eneias. Este e os seus homens vêm procurar auxilio depois de terem fugido de Tróia quando destruída pelos gregos.
A viúva Dido, rainha de Cartago, deixou-se encantar pela beleza do jovem troiano, contudo mostra-se relutante em declarar o seu amor. A sua aia, Belinda e a corte, incentivam-na a avançar. Quando Eneias a pede em casamento, Dido aceita.
Entretanto Bruxas malévolas planeiam a desordem. Levantam uma tempestade, e uma delas, disfarçada de Mercúrio, vai relembrar Eneias de que deve continuar o seu caminho para Itália. Para grande satisfação das bruxas Eneias acata as ordens do falso Mercúrio e deixa Cartago. Desolada pela traição de Eneias, Dido despede-se da Vida.