Temporada de Concertos Antena 2
21 maio | 19h00
Auditório do
Instituto Superior de Economia e Gestão
Entrada gratuita
Aires Pinheiro
Recital de guitarra
Homenagem a J. Duarte Costa
Programa
J. Duarte Costa (1921-2004)
– Abalada (1942)
– Sonho de Amor “Nocturno” (c. 1948)
– Procissão (1950)
– Ansiedade “Momento Musical” (c. 1951)
– Sintra “Abertura” (1952)
– Balada do Trovador (1962)
– Balada da Solidão (1974)
– Balada Celestial (c. 1980)
– Balada do Sonhador (1981)
– Chula “Dança do Norte – original para guitarra” (c. 1969)
– Fantasia Oriental II “Chino-Árabe” (1954)
– Marcha Militar II (c. 1958)
Notas ao programa
Abalada (1942), é provavelmente a obra mais antiga de Duarte Costa. Trata-se de uma elegia, um lamento fúnebre à memória de Liliana, a sua namorada de então, que faleceu bastante jovem.
O Noturno intitulado Sonho de Amor (c.1949), é uma obra introspetiva que retrata um novo estado de espírito do compositor. A sua introdução hemiólica, que nos faz pairar entre os compassos 3/8 e 6/8, é indicador da dualidade sentimental que o autor provavelmente atravessaria na altura, com o despertar de uma nova paixão. Adaptada do segundo andamento da sua obra concertante Festa Portuguesa, com o mesmo nome,
Procissão (1950) é nas palavras do autor “uma peça de carácter religioso, quase uma Ave Maria e que traduz com os seus harmónicos na introdução os sinos que hão-de anunciar o desfile da procissão”.
Com a indicação de Andante Apassionato, Ansiedade (c.1951) é um momento musical, que retrata o desejo que Duarte Costa sente, de estar junto da sua jovem esposa – Aurora Celeste, dedicatária desta obra, que acabara de dar à luz o seu filho Miguel.
A abertura Sintra (1952), é uma obra virtuosa que apresenta também um carácter de reverie. Esse carácter de sonho está patente na segunda e terceira seções da obra, onde Costa nos coloca a viajar pelas idílicas paisagens da serra de Sintra.
Uma década depois de Sintra, Duarte Costa compõe a Balada do Trovador (1962), obra evocativa do imaginário Coimbrão, escrita num período de franca expansão do autor, a nível profissional.
Balada da Solidão (1974) trata-se de uma obra que retrata o estado de espírito do autor, mimetizado através do som. Composta num período conturbado da vida de Duarte Costa, trata-se de uma obra que capta a atenção do ouvinte, desde o primeiro ao último momento.
Por sua vez Balada Celestial (c.1980) evoca um ambiente metafísico, através da utilização de harmónicos naturais e oitavados, entremeados por sequências de arpejos que, por sua vez, contribuem para a estabilidade estrutural da obra.
A Balada do Sonhador (1981) simboliza, uma vez mais, o estado de espírito de José Duarte Costa que aos sessenta anos de idade ainda se permite embalar no seu sonho de vida – a guitarra. Ao longo da sua vida Duarte Costa expressou através da guitarra a realidade que o circundava, bebendo inspiração nas mais diversas manifestações do seu quotidiano.
Uma das fontes privilegiadas foi o folclore português, no qual se inspirou diversas vezes. É o caso de Chula (1969), inspirada no folclore duriense.
O Oriente inspirou também Duarte Costa que compôs Fantasia Oriental II “Chino-Árabe”(1954), que evoca um ambiente oriental através da utilização de intervalos de quarta perfeita para simbolizar a música chinesa e o recurso a melodias de caracter melismático, para simbolizar a música árabe.
Costa, encontra também inspiração nas várias paradas militares que eram uma constante de uma Lisboa capital de um império colonialista, onde a força militar era o garante da sua manutenção. Marcha Militar II (1954) apresenta um estilo marcial que remonta às características marchas militares, onde o compositor explora efeitos de tambora, cordas entrelaçadas e harmónicos naturais, numa imitação eficaz do toque de caixa (de rufo), do tambor e do clarim.
Transmissão direta
Apresentação: Pedro Ramos
Produção: Anabela Luís, Alexandra Louro de Almeida
José Duarte Costa (1921-2004), foi uma figura chave, no que respeita ao desenvolvimento da prática da guitarra, em Portugal. A sua ação enquanto intérprete, compositor, pedagogo e empreendedor, foi determinante para o reconhecimento e aceitação da guitarra, como instrumento de música erudita, no nosso País.
Iniciou a sua atividade artística, integrado na troupe Jazz Os Lusíadas, como tocador de Banjo, tendo-se dedicado posteriormente à aprendizagem da guitarra, como autodidata. Começou a estudar com o Professor Martinho D’Assunção, em 1936, vindo a integrar o seu grupo de guitarras. Conheceu, em 1939, o Dr. José Mendonça Braga, médico e cultor da guitarra, que se tornou seu mentor artístico e mecenas. Sob o patrocínio e mentoria do Dr. Mendonça Braga, prosseguiu a aprendizagem aprofundada do instrumento, na vertente da música erudita, estabelecendo-se como concertista e professor de guitarra, a partir de 1946. Entre 1946 e 1952 frequentou os cursos especiais de guitarra, organizados pelo Conservatório Nacional de Lisboa, ministrados pelo eminente guitarrista, compositor e pedagogo Emílio Pujol. Por indicação deste, obteve, em 1949, uma Bolsa do Instituto de Alta Cultura, para estudar uma temporada em Espanha. Ao longo desta temporada, contou com o apoio de Pujol, tendo ainda a oportunidade de contactar com os eminentes guitarristas Regino Sainz de La Maza, Daniel Fortea e Narciso Yepes.
Em 1953 fundou, em Lisboa, a Escola de Guitarra Duarte Costa, estabelecendo-se definitivamente como uma referência do ensino da guitarra em Portugal. O sucesso do seu ensino, baseado no seu Método para Guitarra em cinco partes, composto em 1947, levou a que, em 1964, fundasse uma escola em Coimbra, em 1968, uma escola no Porto e em 1973, uma escola em Faro.
Paralelamente à sua atividade pedagógica, Duarte Costa foi um compositor prolífico, tendo composto centenas de obras e exercícios para guitarra, destacando-se entre elas as duas obras concertantes: Festa Portuguesa (1950) e Concerto Ibérico (1974).
A sua carreira como concertista é também digna de nota, uma vez que tocou em vários países, espalhados por três continentes, nomeadamente Europa, América e África. Destaca-se particularmente a sua colaboração com a Orquestra Sinfónica do Porto, com a qual se apresentou na estreia dos seus dois concertos para guitarra e orquestra, em 1963 sob a batuta do Maestro Joaquim Silva Pereira e em 1979, sob a batuta do Maestro Günter Arglebe.
Aires Pinheiro (1979) | Iniciou os estudos musicais na Escola de Música Vasco da Gama de Fornelo. Aos catorze anos dedicou-se ao estudo da guitarra como autodidata, recebendo paralelamente aulas de solfejo e de teoria musical com Carlos Costa. Estudou com Mário Adélio Amorim na Academia de Música de S. Pio X de Vila do Conde, concluindo o Curso Complementar de Guitarra com a classificação de vinte valores. Foi, durante cinco anos, bolseiro da Fundação Dr. Elias de Aguiar. Obteve o 1º Prémio do Concurso Nacional de Guitarra – Legato, em 1999. Licenciou-se em guitarra pela Escola Superior de Música e das Artes Espetáculo (ESMAE) sob a orientação de José Pina e obteve o grau de Mestre em Ensino da Música – especialidade de Guitarra, pela Universidade de Aveiro, sob a orientação de Paulo Vaz de Carvalho. Posteriormente, trabalhou com Pierre Beaudry, no âmbito do Projeto de Carreira para o qual foi selecionado pela Tiziano Rossetti International Music Academy (Suiça).
Paralelamente à sua atividade académica, participou em Masterclasses sob a orientação de Artur Caldeira, Paulo Vaz de Carvalho, José Pina, Ken Murray, Julius Kurauskas, Gunnar Spjüth, Benjamin Verdery, Franz Haslaz, Josef Zsapka, Betho Davezac, Margarita Escarpa, Alberto Ponce e Leo Brouwer.
É regularmente convidado a orientar Masterclasses e a realizar conferências sobre temáticas relacionadas com a guitarra, bem como a integrar o Júri de Concursos Nacionais e Internacionais.
Em 2012 publicou um livro de caráter pedagógico intitulado Iniciação à guitarra, pela editora AVA, que recebeu excelentes críticas por parte de guitarristas de renome internacional. Atualmente integra o corpo docente do Conservatório de Música, Teatro e Dança de Vila do Conde e do Conservatório Bomfim de Braga. Vários alunos seus têm sido premiados em concursos nacionais e internacionais para jovens músicos. Frequenta o Doutoramento em Música – Área de Estudos em Performance da Universidade de Aveiro, onde prepara uma tese sobre o guitarrista português “José Duarte Costa”, sob a orientação de Paulo Vaz de Carvalho.
É Diretor Artístico da SIME – Semana Internacional de Música Erudita de Vila do Conde e do “sextas às sete – ciclo de concertos didáticos”. Dirige a nível Pedagógico e Artístico, o PROFILAR – Projeto Filarmónico de Vila do Conde. Desempenha desde 2013, o cargo de Diretor Pedagógico no Conservatório de Música, Teatro e Dança de Vila do Conde. É Formador certificado pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua, para as áreas de Educação Musical e Didáticas Específicas de Música.
O seu álbum Homenagem a José Duarte Costa foi galardoado com um Global Music Award, nos EUA, com um Music and Stars Awards (Espanha) e com o 1º prémio da 3rd International Lugano Music Competition (Suiça). Integra o Opus Trio, formação com a qual venceu Gold Prize nos Euterpe Awards, em Berlim e obteve o primeiro prémio na Birmingham International Music Competition.
Fundou o Aquaeductus Ensemble, uma formação que tem como missão promover a descentralização da música erudita.
Fotos Jorge Carmona / Antena 2