Temporada de Concertos Antena 2
8 fevereiro | 19h00
Auditório do
Instituto Superior de Economia e Gestão
Entrada gratuita
Camila Mandillo & Filipe Gaio
Recital de canto e piano
Camila Mandillo, soprano
Filipe Gaio Pereira, piano
Programa
Harmonia no meio do caos – Guerra, Natureza e Amor
Aaron Copland – From “Twelve Poems of Emily Dickinson”
IV. The world feels dusty
George Crumb – Three Early Songs
I. Night
II. Let it be forgotten
III. Wind Elegy (W.E.W)
Nicholas McNair – Changes
– From Heart to Heart
Fernando Lopes Graça – O menino de sua mãe
Alma Mahler – Fünf Lieder
I. Die stille Stadt
II. In meines Vaters Garten
III. Laue Sommernacht
IV. Bei dir ist es traut
V. Ich wandle unter Blumen
Richard Strauss – From “Vier Letzte Lieder, op. 27″
IV. Morgen
Harmonia no meio do caos – Guerra, Natureza e Amor
Vemos regularmente nos noticiários imagens de guerra mas será que isso nos ajuda a entrar na realidade dos que estão na linha de fogo, ou acaba por nos distanciar do sofrimento deles?
Neste recital, mergulharemos nesta relação caótica através da música, numa viagem que procura iluminar a dinâmica complexa entre estes três aspetos fundamentais da experiência humana.
Começando com uma canção de Aaron Copland (1950), uma composição que retrata a desolação e o desgaste causados pela guerra, e com Three early songs (1947) de George Crumb, uma obra que nos transporta para um mundo mais abstrato, e que explora a conexão entre a natureza e o amor canções que desafiam o confronto entre a esperança e o medo no nosso percurso de vida.
Continuando com duas obras de Nicholas McNair, onde este confronto é mais explicitamente explorado na cantata a solo Changes (1976), que mistura livremente 5 textos de 4 séculos diferentes, numa viagem espiritual através da morte psicológica para uma nova esperança, enquanto From Heart to Heart (2024), com poemas exóticos de Zayra Yves pontuados pelas palavras de três poetas de Gaza, dois dos quais (Refaat Alareer e Noor Aldeen Hajjaj) foram mortos na mesma semana em dezembro de 2023 é dedicado às vítimas inocentes dos bombardeamentos, principalmente mulheres e crianças.
Seguimos com O menino de sua mãe (1936) de Fernando Lopes Graça uma confrontação crua sobre a inocência perdida durante tempos de conflito, entrelaçado com o ciclo de Alma Mahler Cinco canções (1910) onde a natureza e o amor tentam encontrar seu lugar no meio da adversidade obras que nos envolvem num mundo de emoções intensas, revelando a esperança e resiliência que surgem nos momentos mais sombrios.
Terminamos com Morgen de Richard Strauss, uma peça que nos leva a um lugar de serenidade e esperança, lembrando a beleza que emerge após a tempestade, e esperando que o sol brilhe de novo neste período tão negro da nossa história.
Textos de Nicholas McNair
Changes (1976) Cantata para Soprano solo
(Textos dos Psalmos, G. Chaucer, W. Blake, S.T. Coleridge, G.M. Hopkins)
I Behold, how good and joyful a thing it is, brethren to dwell together in unity!
II To Mercy, Pity, Peace, and Love
all pray in their distress,
and to these virtues of delight
return their thankfulness.
who cry, Beware! Beware!
to Caunterbury they wende,
The hooly blisful martir for to seke,
III This Jack, joke, poor potsherd, patch, matchwood, immortal diamond,
A damsel with a dulcimer
In a vision once I saw:
an Abyssinian
It is like the precious ointment upon the head that ran down unto the beard,
even unto Aaron’s beard, and went down to the skirts of his clothing.
Manshape
IV Manshape, that shone Sheer, a star, death blots black out; nor mark
Is any of him at all so stark But vastness blurs and time beats level.
must love human form, in heathen, Turk Jew;
there God is dwelling too.
So hadde I spoken with hem everichon That I was of hir felaweshipe anon,
V For he on) honey-dew (hath fed,
Like as the (dew of) Hermon,
At nyght was come (into that hostelrye In felaweshipe,) and pilgrimes were they (alle,
Weave (a circle round him thrice, And) close your eyes (with holy dread,
wherever an elm arches,
For Mercy has a (human heart, Pity, a) human face,
O pity and (indignation!)
VI hem hath holpen that were seeke.
earth bare of yestertempest’s creases;
the Lord promised blessing and life
VII I within me symphony and song, To such a deep delight
I know nothing but desire everything
From Heart To Heart (2024) Ciclo para Soprano e piano
Poemas de Zayra Yves
Textos
My greatest dream is that my country will have peace, that children will smile more brightly than the sun, that we will plant flowers in every place a bomb once fell, that we will trace out our freedom on every wall that has been destroyed. That war will finally leave us alone, so we can for once live our lives. (Noor Aldeen Hajjaj d. 2.12.2023)
If I must die, let there be hope (Refaat Alareer d. 6.12. 2023)
I write now while I’m shivering, and this is because of cold and fear (Ahmed Mortaja)
1.) Purple lanterns and dragonflies
Their voices were lifted
by the wind, the wine and aromas,
feeling their mouths howling with red
and I left them.
I left the purple lanterns, the torchlights,
I left the brother pouring wine,
And belly-dancers dancing,
I left gardenias tanked on perfume –
More beautiful than before.
I left them with the music floating away
From my glittering head
I followed the wind,
Calling through the walls
of magenta, orange and green
I walked transparent
In a blue dress
Following wings
Following Egypt
Listening to the dragonflies in my heart
Kissing.
I left my funny valentine
And I heard the mountain
I heard the paintings above the ballads
I left my clothes
Left my poems
I left
Lost
At last
2.) Madonna of the Sun
In the desert of your heart
lives a secret
only the gods have heard
you whisper
in the haze of clove
and gravity –
through the sound
of jasper stones
now worn with carnelian
in hope
of resurrection.
3.) The Star of Friendship
From the sharp wind I have scars
and from the waters I have wrinkles.
It is in the hide of buffalo,
the long grace of a horse
and span of a raven’s wing.
The sun has gathered my life
and left a message for all to read.
It is in the eyes of an elephant,
the face of a Silverback
and curve of dog’s snout.
From the earth I have a heart that bleeds
and from the heavens an infinite soul.
It is in the death of a star,
the devouring planets of hunger
and caverns of great sorrow.
The moon carries the secrets of my birth
and illuminates eternity like a Ghost Keeper.
It is in the sinews of a tree,
the blackness of a cloudless night
and stories of Grandmother Spider.
But from you I have the dream of kindness
and walk in beauty with sadness behind me.
It is in the warmth of your hand,
companionship of your presence
and the courage of your smile.
4.) Ablutions
I need you like the rain
to fall into the shrine
of my chest where my heart
sits in flames, burning
from too much of this
world, too much of this
pain, burning with desire
to feel the flowers
of love bloom again.
Transmissão direta
Apresentação: Pedro Ramos
Produção: Anabela Luís, Cristina do Carmo
Camila Mandillo | A soprano é diplomada pela Hochschule füür Musik Hanns Eisler Berlin, onde terminou o mestrado com distinção, com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian.
Recebeu também, bolsas de mérito tais como: Deutshland Stipendium; Yehudi Menhin Live Music Now Berlin, e.V; Vladimir Piontkovsky Memorial Scholarship; Bernbeck Stiftung; Freunde Junger Musiker e. V Berlin; DMR Stipendienprogramms 2022 im Rahmen von Neustart Kultur.
Iniciou os seus estudos musicais na Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa, onde terminou ambos os cursos de canto e guitarra clássica. Foi membro fundador e solista do Coro Infantil da Universidade de Lisboa.
Apresenta-se regularmente em recitais de música de câmara e Lied, masterclasses, produções de ópera e música contemporânea – campo no qual tem vindo a obter particular notoriedade.
No ramo da ópera destacam-se, entre outros, os seguintes papéis: Donna Anna e Zerlina em Don Giovanni de Mozart; Susanna em Le Nozze di Figaro de Mozart; Pamina em Die Zauberflööte de Mozart; Giulia em La Scala di Seta de Rossini; Morgana em Alcina de Handel; soprano solista em Canti D’Amor II Musiek Jongenopera Transparants.
No domínio da música contemporânea, salienta-se o debut num dos papéis principais na estreia absoluta de Neuen Szenen IV (Deutsche Oper Berlin); a participação solística no workshop ENOA “Composing for Voices and Orchestra with Kaija Saariaho” com a orquestra Gulbenkian no grande auditório da Fundação; a participação ativa em projetos com o Sond’Ar-te Electric Ensemble; a digressão Internacional da ópera A Laugh to Cry de Miguel Azguime (papel de soprano lírico) – que obteve o Alto Patrocínio da Presidência da República.
Projetos futuros incluem, entre outros, a abertura do Festival Música Viva 2024 com uma performance de Mysteries of the Macabre de Gyöörgy Ligeti, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa.
Filipe Gaio Pereira | Iniciou os seus estudos de piano aos 5 anos, na Escola de Artes do Norte Alentejano, em Portalegre, sob a instrução de Nataly Klatev, com quem estudou até ao término do 3º grau. Ainda em Portalegre, estudou com Conceição Fryxell e concluiu o 5º grau sob a orientação de Nuno Batoca, no Conservatório Regional de Setúbal. Posteriormente, foi orientado por vários professores em aulas particulares, entre os quais se destaca Philippe Marques, que o preparou para a entrada no ensino superior.
Em 2017 foi aceite na Escola Superior de Música de Lisboa, na classe de Miguel Henriques, tendo terminado o curso em 2021, com nota máxima no seu recital final. Ao longo da sua licenciatura, integrou a classe de música de câmara de Paulo Pacheco.
Atualmente frequenta o Mestrado em Interpretação de Música Clássica e Contemporânea na Escola Superior de Música da Catalunha, em Barcelona, guiado por Denis Lossev, enquanto termina o Mestrado em Ensino de Música na Escola Superior de Música de Lisboa, ainda instruído por Miguel Henriques.
Filipe Gaio Pereira tem-se apresentado em vários palcos nacionais, muitas vezes tendo oportunidade de tocar música portuguesa. Em 2021, apresentou-se a solo interpretando o Concerto nº 23 de Mozart com a Orquestra Sinfónica da ESML, sob a direção do maestro Vasco Pearce de Azevedo.
Tem tido aulas e masterclasses com algumas figuras de relevo tais como Jorge Moyano, Jan Wierzba, Filipe Pinto Ribeiro, Elisabeth Joyé (cravo), Henri Sigfridsson, Eldar Nebolsin e Milana Chernyavska.
Nicholas McNair | Residente em Portugal desde 1980, foi coralista principal na Catedral de Canterbury aos 13 anos, tendo posteriormente estudado na Universidade de Cambridge, bem como composição e piano no Royal College of Music em Londres.
Escreveu uma série de obras apoiadas pelo Arts Council of Great Britain, pelo RVW Trust e outras fundações, e deu o seu primeiro recital de improvisação em 1979.
Trabalhou na década de 1990 como editor com Sir John Eliot Gardiner, pesquisando e preparando para apresentação e gravação (com a DG Archiv) as principais óperas de Mozart e Beethoven.
Foi professor na Escola Superior de Música de Lisboa durante mais de 30 anos, sendo Diretor Artístico do seu Estúdio de Ópera 2011-2015.
Trabalhou regularmente com o Coro e a Orquestra Gulbenkian como organista e pianista, e fez música ao vivo para 150 filmes mudos na Cinemateca de Lisboa, tendo atuado também no Festival de Cannes, em 1995, e na National Gallery of Art, Washington D.C., em 1997.
Compôs música para teatro, e colaborou com vários compositores (como Philip Glass, Luís Tinoco, Vasco Mendonça e António Pinho Vargas) e encenadores na preparação de óperas contemporâneas.
Formou em 2021 um duo de improvisação à 2 pianos com o compositor e pianista jazz Samuel Gapp.
Vai defender em fevereiro de 2024 a sua tese de doutoramento sobre improvisação, como investigador do CESEM/Nova, e no mesmo mês vai ser lançado pela Cinemateca Portuguesa um DVD do filme O Destino (1922) com a sua música.
Fotos Jorge Carmona / Antena 2