Museu do Oriente
Entrada gratuita
(+ info aqui)
Teresa Valente Pereira, violoncelo
Paulo Oliveira, piano
Joan Manén – Sonata di Concerto, Op. A. 42 p/ violoncelo e piano
1- Adagio-Allegro energico
2 – Andantino amabile
3 – Allegro ritmico e giusto
O Capricho de Klengel, é um cavalo de batalha para qualquer violoncelista – baseado num tema da Segunda Sonata de violino e piano de Schumann, as posteriores variações são bem representativas da capacidade virtuosística da que fora sua aluna.
A Página Esquecida de Lopes-Graça, escrita em 1955, viria a constituir o andamento lento de um futuro concerto que seria dedicado a Guilhermina. Infelizmente, tal nunca chegou a suceder.
Finalmente, a Sonata do catalão Joan Manén, violinista e compositor praticamente autodidata, apreciam-se temas de reminiscências catalãs e espanholas integrados numa linguagem original com influências musicais germânicas e francesas.
Guilhermina Suggia (27 Junho 1885 – 30 Julho 1950)
A vida de uma das maiores violoncelistas de sempre
Guilhermina Suggia nasceu no dia 27 de Junho de 1885 no Porto.
O pai, Augusto Suggia, era violoncelista, e aos 5 anos Guilhermina pediu-lhe que a ensinasse a tocar. Aos 7 anos Guilhermina deu o seu primeiro recital na Assembleia de Matosinhos. Foi um êxito, mas a garota queria ir mais além e não parou de estudar.
Aos 12 anos recebeu um convite para integrar o Quarteto Moreira de Sá e aos 13 anos era chefe do naipe de violoncelos da Orquestra do Orpheon Portuense. Os êxitos e as críticas elogiosas prosseguiram.
Em 1898, durante o verão, Pablo Casals veio a Portugal com um grupo de música de câmara para abrilhantar as noites do Casino de Espinho. Num dos dias tocava a solo. Augusto Suggia foi com a filha escutar o catalão que, apesar dos seus 22 anos, era já considerado um dos melhores violoncelistas do mundo. No final, foram falar com Casals. Augusto contou-lhe que a filha estudava violoncelo e tinha raras capacidades.Casals passou-lhe o violoncelo para as mãos e pediu-lhe que tocasse. Ao fim de poucos minutos ficou impressionado, de tal modo que se ofereceu para, durante todo o verão, lhe dar lições uma vez por semana.
Aos 15 anos Guilhermina Suggia tocou para a Família Real no Palácio das Necessidades. Foi um êxito tal que a Rainha D. Amélia, no final, tecendo rasgados elogios, foi dar os parabéns à jovem artista e perguntou-lhe o que mais ambicionava, tendo ela respondido que gostaria de estudar no estrangeiro. A Rainha prometeu envidar esforços na obtenção de uma bolsa de estudo numa escola europeia de primeira grandeza. Foi escolhido o prestigiado Conservatório de Leipzig na Alemanha, onde lecionava aquele que era considerado, na altura, o melhor professor de violoncelo: Julius Klengel.
O professor, ao ouvir Guilhermina, ficou de tal maneira deslumbrado que lhe propôs aulas particulares, uma vez que estava muito avançada e o Conservatório seria para ela uma perda de tempo. Passado um ano, Klengel disse que nada mais tinha para lhe ensinar e pediu a Arthur Nikisch, o maestro da Gewandhaus e da Filarmónica de Berlim, que escutasse a sua aluna. Nikisch ouviu Suggia e, siderado, convidou-a para tocar como solista com a orquestra. Klengel organizou um concerto com a aluna, tocando o Concertino Op. 72, para 2 violoncelos, de Romberg, mas entregando a parte de primeiro solista a Suggia, ficando ele com o papel secundário. Klengel justificou: “ela há-de ir tão longe que nunca ninguém a alcançará”.
Em 1902 Suggia, com 17 anos, foi a primeira mulher solista a tocar na Gewandhaus. No final os aplausos e os gritos de “bis” foram de tal modo intensos que, contrariando as rígidas normas estabelecidas, Nikisch deu ordens para que o concerto fosse repetido na íntegra.
A partir daí, as portas dos grandes centros musicais europeus abriram-se de par em par. Guilhermina não mais parou de ser chamada a tocar, sempre com críticas que a classificavam como excecional.
Entre 1906 e 1913 viveu uma intensa relação afetiva e artística com Pablo Casals em Paris. Ambos foram considerados os maiores violoncelistas da época.
Em finais de 1913 a relação terminou e Suggia partiu para Londres onde foi repetidamente aclamada, enchendo salas e recolhendo aplausos sem fim.
No dia 1 de Novembro de 1924, Virginia Woolf escreveu no seu diário: “Como sempre, estou cheia de trabalho, estafada. O que me vale é pensar que na 3ª feira vou ouvir Suggia”.
Em meados dos anos 20 Guilhermina regressou ao Porto, sua cidade natal.
Em 1927 casou com o médico José Carteado Mena, tendo ficado a residir na Rua da Alegria e prosseguindo a carreira internacional, sem mácula, até à sua morte, em 30 de Julho de 1950.
Guilhermina Suggia, violoncelista, foi um génio ímpar que dedicou toda a sua vida à música com uma entrega e paixão sem limites.
Apresentação: João Almeida
Produção: Anabela Luís, Alexandra Louro Almeida
Teresa Valente Pereira | Nasce em Lisboa. Inicia o estudo do violoncelo com Alberto Campos e Maria José Falcão, termina com distinção a licenciatura em Instrumentista de Orquestra na classe de Paulo Gaio Lima. Apoiada por instituições como a Fundação Gulbenkian, Carolina e o DAAD, prossegue o seu aperfeiçoamento na “Escuela Superior de Música Reina Sofia” com Natalia Shakovskaya, recebendo o diploma de aluna destacada em violoncelo e música de câmara (classe de Rainer Schmidt). Termina a sua formação na Folkwang Hochschule com Christoph Richter. Outros músicos como Walter Levin, Ferenc Rados, Xavier Gagnepain, Emmanuel Hieaux exerceram uma grande influência na sua personalidade artística.
Como solista, tocou com as orquestras Gulbenkian, Sinfónica Portuguesa, Metropolitana, Orquesta da ESM Reina Sofia, Sinfónica de Bilbao, entre outras, apresentando-se em algumas das mais importantes salas e festivais também como integrante de grupos de música de câmara, como o Quarteto Albeniz, o Trio Pangea, o Enol Ensemble ou Soinuaren Bidaia.
Paulo Oliveira (n. 1979) | Um dos mais destacados pianistas portugueses da sua geração. Natural de Vila do Conde, iniciou os seus estudos musicais aos nove anos com Joaquim Bento. Seguidamente ingressou na Academia de Música de S. Pio X como bolseiro da Fundação Dr. Elias de Aguiar. Nesta instituição estudou com Margarida Almeida e Felipe Silvestre, tendo finalizado o Curso Complementar de Piano em 1998 com a classificação máxima. Posteriormente estudou com Tania Achot, concluindo o Curso Superior de Piano na Escola Superior de Música de Lisboa, uma vez mais com as mais altas classificações. Continuou a sua formação com Sequeira Costa na Universidade do Kansas, com quem estudou durante quase uma década, herdando assim os mais fiéis conhecimentos da era dourada do piano, que o seu mestre tinha recebido diretamente de Vianna da Motta, Mark Hamburg, Edwin Fischer, Marguerite Long e Jacques Février. Nesta universidade concluiu estudos de mestrado em 2005, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Posteriormente, em 2009 concluiu com distinção o seu doutoramento com uma bolsa de estudos da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Outros professores relevantes na sua formação foram Helena Sá e Costa, Luiz de Moura Castro, Andrei Diev, Vladimir Viardo, Vitaly Margulis, Aldo Ciccolini, Paul Badura-Skoda e Dmitri Bashkirov.