A 10 de Dezembro perfazem-se 400 anos sobre a morte do historiador Diogo do Couto, e o programa Musica Aeterna assinala esta efeméride com uma emissão dedicada a esta personalidade da cultura portuguesa.
Musica Aeterna
um programa de João Chambers
Diogo do Couto
4 Dezembro 16h00
repetição a 10 Dezembro 12h00
Para assinalar o tetracentenário da morte de Diogo do Couto, falecido a 10 de Dezembro de 1616, o programa Musica Aeterna dedica a sua emissão a este escritor. historiador e homem das letras e da cultura do século XVII.
Para ouvir, clicar aqui.
Diogo do Couto nasceu em Lisboa em 1542, filho de nobres. Com 17 anos foi para a Índia, tornando-se escritor e cronista. Passada uma década, em 1969, quando está de regresso a Portugal, encontra Luís de Camões, na Ilha de Moçambique, que terminara Os Lusíadas; vêm juntos na nau Santa Clara e chegam a Lisboa em Abril do ano seguinte. No final desse ano de 1570, regressa ao Oriente e por lá fica, até à sua morte, em 1616.
Antes da viagem recebeu do rei a incumbência para prosseguir as “Décadas” de João de Barros. Escreveu da IVª à XIIª Décadas, mas só publicou completas as Décadas IV, V e VII e um resumo da Década Oitava.
Entretanto, em 1589, Diogo do Couto solicitara autorização ao rei Filipe I de Portugal para fundar, em Goa, uma Torre do Tombo, propondo escrever a crónica da história dos portugueses nas Índias desde 1580. Em 1595 é-lhe concedida autorização e é nomeado Guarda-Mor da Torre do Tombo de Goa. Diogo do Couto torna-se um dos primeiros indólogos europeus.
Nesta emissão de Musica Aeterna, é lida por Luís Miguel Cintra, uma das dez canções de Luís de Camões, obra-prima da lírica maneirista portuguesa que integrou a primeira edição, de 1595, das suas “Rimas”; em termos musicais são escutadas obras do repertório de Miguel da Fonseca, de Estêvão Lopes Morago, de Frei Manuel Cardoso, de Pedro de Escobar, de João Lourenço Rebelo, de António Carreira, de Manuel de Tavares, de Heliodoro de Paiva, de Fernando de Almeida, de Pedro de Cristo, de Duarte Lobo, de D. João IV, de Manuel Rodrigues Coelho, de Filipe de Magalhães e de um autor anónimo.
Páginas interiores de Década Oitava
Descendente de uma família da alta nobreza lisboeta, cujos membros tinham acesso ao Paço ou às zonas circundantes, o que lhe valeu, ainda jovem, ser tido em alta consideração quando ao serviço do infante D. Luís, Diogo do Couto nasceu em dia indefinido de 1542. Aquele proveu à sua educação, a qual, todavia, foi encurtada, porquanto o infante faleceu e, pouco depois, o pai. Apesar de uma notória atracção pelas letras, foi constrangido a trocá-las pelas armas e a demandar a imprevisibilidade da longínqua e desconhecida Índia.No primeiro período, de cerca de dez anos, sentia-se um militar ambientado aos assuntos locais e neles mais entendido do que numerosos fidalgos que por lá davam ordens e auferiam rendosos proventos. Delineou, então, não só obter a justa paga pelos serviços prestados mas, também, fazer valer um incomensurável saber, uma vez que a leitura nunca abandonada e a cultura adquirida com conceituados pedagogos o situaram a um nível que facilitava as boas relações. Este projecto traduziu-se no primeiro diálogo do “Soldado prático”, o seu alter-ego, uma crítica mordaz à administração portuguesa do Oriente, de vagas semelhanças, no que diz respeito ao trato entre as personagens, com “O Príncipe” de Maquiavel. Ali, tal como hoje se generalizou neste pobre país à beira-mar plantado, pôs, cruamente, a descoberto, a violência, a corrupção, a ostentação, a imoralidade, o amor ao luxo, a falta de dignidade, a ambição da riqueza, a opressão aos pobres, a deslealdade nas informações, os abusos dos detentores de cargos públicos e a míngua da devoção de serviço ao monarca ou a Deus.Antes do termo da milícia, instruiu, no quotidiano, um distintíssimo aristocrata, o qual acabou por ser nomeado vice-rei sem nunca lá ter estado. Porém, nos primórdios de 1569, embarcou para um rápido vaivém à Capital do Império e, na escala em Moçambique, encontrou Camões em rude miséria, a quem ajudou na paga da viagem, o qual lhe requereu uma análise à obra-mestra da nossa lírica maneirista que havia de integrar a primeira edição, de 1595, das suas “Rimas”.
(João Chambers)
Fotos do livro de Jorge Carmona / Antena 2 RTP