A Antena 2 apresenta a conversa entre o escritor nigeriano Wole Soyinka e Luís Caetano, que decorreu no último Folio, em Óbidos, a propósito do seu livro mais recente Crónicas do Lugar do Povo mais Feliz da Terra.
O Prémio Nobel da Literatura Wole Soyinka
em entrevista
Por Luís Caetano
de 20 janeiro 2023
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O escritor africano vencedor de um Nobel da Literatura, esteve em Portugal, para lançar a tradução portuguesa de Crónicas do Lugar do Povo mais Feliz da Terra, publicado pela Porto Editora, e participar no Festival Literário de Óbidos.
Foi na vila medieval do Oeste que teve lugar a conversa entre o primeiro escritor africano a receber o Prémio Nobel da Literatura e Luís Caetano.
Depois de 50 anos sem publicar, desde Season of Anomy, em 1973 (ainda sem edição portuguesa), Wole Soyinka voltou a pegar na caneta para escrever Crónicas do Lugar do Povo mais Feliz da Terra, “um murro na mesa contra os abusos de poder, dado por um dos mais aguerridos ativistas políticos em África e um gigante da literatura mundial.”
Numa Nigéria imaginada, a narrativa deste romance parte de situação de corrupção e de tráfico de partes de corpos humanos para uso em rituais, desenvolvendo-se num thriller político que ultrapassa as fronteiras desse país e envolvendo muitos outros poderes.
Um romance que é uma “pérola literária com um engenhoso mistério para desvendar, recheado de ironia e crítica à corrupção política, social e religiosa”.
Wole Soyinka foi o primeiro escritor africano negro a quem foi atribuído o Prémio Nobel de Literatura, em 1986, com cinquenta e poucos anos, mas já com uma grande e variada produção literária.
Nasceu em 1934 na Nigéria, na região de Ogum, numa família humilde, mas teve condições invulgares que lhe permitiram ter uma carreira literária. Estudou no país natal e no Reino Unido, e depois trabalhou com o Royal Court Theatre em Londres. Escreveu peças de teatro que foram produzidas nos dois países, em teatros e na rádio.
Retornando à Nigéria, dedicou-se ao estudo da dramaturgia africana, e lecionou, como professor de Literatura comparada, nas universidades de Lagos e Ifé.
Soyinka participou ativamente na história política da Nigéria e na sua campanha pela independência do domínio colonial britânico.
Em 1967, durante a Guerra civil nigeriana, foi preso pelo Governo federal por tentar mediar os partidos em guerra para se encontar a paz, mas foi detido e posto em isolamento.
Na prisão, escreveu poemas que mais tarde viriam a ser publicados sob o título Poems from Prison.
Soyinka foi libertado depois vinte e dois meses de cativeiro, e após movimentações internacionais de indignação com a sua situação.
Mais tarde, contou esta sua experiência no livro The Man Died: Prison Notes.
Soyinka tem criticado abertamente as administrações da Nigéria e de outras tiranias políticas pelo mundo, fazendo inclusive denúncias contra o regime de Mugabe de Zimbabwe.
Romancista, dramaturgo e poeta, Soyinka tem sido um incansável ativista político em África e defensor da democracia nigeriana. É considerado um dos gigantes da literatura mundial.
Da sua extensa obra, entre a ficção – romance e contos -, a dramaturgia com dezenas de títulos, quase uma dezena de volumes poéticos, e outros tantos de ensaios, destaca-se o romance de estreia, Os Intérpretes, publicado em 1965, e a peça Death and the King’s Horseman, originalmente interpretada em 1976.
Fotos Jorge Carmona / Antena 2