A Antena 2 assinala os 500 anos do nascimento de um dos mais relevantes expoente da reflexão estética no Renascimento
Francisco de Holanda (1517-1585)
Por ocasião da efeméride do nascimento deste pintor, desenhador, arquiteto, iluminador, teórico da arte e humanista, a 6 de Setembro, evocamos esta personalidade maior da cultura portuguesa em dois programas:
Um programa de Paulo Alves Guerra
6 Setembro | 9h00
Convidada: Teresa Lousa,
Um programa de João Chambers
3 Setembro | 16h00 | Parte I
| repetição 9 Set. 12h00 |
Assinalados quarta-feira, dia 6, os 500 anos do nascimento de Francisco de Holanda (1517-1585) e o tratado “As Idades do Mundo”: as visões progressistas da Criação deste eminente escultor, desenhador e humanista da Renascença, exemplificadas através de repertório de Duarte Lobo, Giovanni Pierluigi da Palestrina, Alessandro Striggio, Manuel Cardoso, Gregorio Allegri, Damião de Góis e Johannes Flamingus, todos contemporâneos no Portugal, na Península Itálica e nos Países Baixos do século XVI.
10 Setembro | 16h00 | Parte II
|repetição 16 Set. 12h00 |
Comemorados na passada quarta-feira, dia 6, os 500 anos da nascença de Francisco de Holanda (1517-1585), pintor, teórico, arquitecto e iluminador que, como o mais influente conselheiro artístico, esteve ao serviço da corte de D. João III e do período de regência de D. Catarina, ilustrado através de obras de Pedro de Cristo, Manuel Rodrigues Coelho, Gregorio Allegri, Benedictus Appenzeller, Estêvão de Brito, Giovanni Pierluigi da Palestrina, Thomas Crecquillon, Filipe de Magalhães, Manuel Cardoso e de um autor anónimo, todos coevos no Portugal, na Península Itálica e nos Países Baixos do século XVI.
“O segundo dia da criação do mundo” – De Aetatibus Mundi Imagines ou
“Imagens da Idade do Mundo” – Biblioteca Nacional de Espanha, Madrid.
Nascido, em Lisboa, aos seis dias andados do mês de Setembro de mil quinhentos e dezassete, como então se dizia, e filho de um famoso iluminador que serviu Portugal como rei de armas e escrivão da nobreza, Francisco de Holanda foi o primeiro a introduzir no nosso país a Filosofia através do tratado designado Da Pintura Antiga, derrubando, assim, a definição redutora desta arte como “imitação da natureza”. Inspirado pela doutrina de Platão e pela ciência de Miguel Ângelo, afirmou ser uma declaração do pensamento que exige uma ascensão espiritual até às ideias, as quais, através do desenho, devem logo ser projectadas no papel. Como pano de fundo da teoria desenvolvida acerca da “criação artística”, definiu a concepção de prisca pictura, ou seja, a produção, de origem divina e universal, no tempo e no espaço, que via ressurgir nas obras arrebatadoras daquele grande mestre do Renascimento ultramontano.
Em Roma, onde viveu entre 1538 e 1540, observou a qualidade superior das estátuas avitas face às modernas, desenvolvendo o conceito de antiqua novitas transcrito e longamente explicado no livro “Antigualhas”. Não existindo contradição entre os cânones restritivos daquela abstracção e a natureza transcendental da ideia de prisca pictura, definiu a “novidade da arte antiga” do seguinte modo:
“No significado dos preceitos dos antepassados para os contemporâneos devem os procedimentos ser assimilados na aprendizagem de todos os autores, ao passo que a ideia se mantém como o domínio do “verdadeiro pintor” capaz de criar algo de génio.”.
Demonstra, pois, na perfeição, as duas facetas desta abordagem: por um lado, numa análise de “antiquário”, minuciosa e essencialmente filológica e epigráfica, enriquecida por uma pesquisa da norma de origem vitruviana, e, por outro, numa visão neoplatónica e universalizante inspirada na Prisca Theologia de Marsilio Ficino, músico, filósofo e um dos grandes representantes do humanismo florentino.
João Chambers
O pintor Miguel Ângelo, retratado por Francisco de Holanda (Álbum dos Desenhos das Antigualhas)
Breve cronologia da vida de Francisco de Holanda
1517/18 Nasce em Lisboa. Filho do pintor e iluminador António de Holanda. Desconhece-se o nome da mãe.
1537 D. João III patrocina a sua viagem a Itália.
1541/42 Regressa a Portugal com o Álbum dos Desenhos das Antigualhas.
1545 Inicia As Imagens das Idades do Mundo.
1548 Termina Da Pintura Antiga, que inclui Diálogos em Roma.
1549 Escreve Do Tirar polo Natural.
c. 1550 Casa-se com Luísa da Cunha de Siqueira.
1551 D. João III concede-lhe uma renda anual e vitalícia de 20 mil reais.
c. 1552 (?) Pinta a Adoração a Santa Maria de Belém e, no reverso da mesma tábua, Descida de Cristo ao Limbo (MNAA).
1553 A 15 de agosto, escreve a Miguel Ângelo.
1555 Desenha com o pai as moedas de S. Tomé e de S. Vicente.
1563 Tradução para castelhano de Da Pintura Antiga.
1568 Em 17 de fevereiro, D. Sebastião concede-lhe uma tença anual e por três anos de 16.000 reais, que se torna vitalícia em novembro.
1569 Conclui Louvores Eternos e Do Amor da Aurora, ambas as obras desaparecidas.
1571 Termina Da Fabrica que Falece à Cidade de Lisboa, que dedica a D. Sebastião, e que complementa com De Quanto Serve a Ciência do Desenho e Entendimento da Pintura na República Cristã Assim na Paz como na Guerra.
1576 A Inquisição censura Da Fabrica que Falece à Cidade de Lisboa. O livro será aprovado, mas não publicado em vida do autor.
1583 Filipe II faz-lhe mercê para que, após o seu falecimento, sua mulher receba mais dois anos de tença “para pagar dívidas que diz que tem”.
1585 Francisco de Holanda morre a 19 de julho.
Algumas obras de Francisco de Holanda publicadas:
– Álbum dos Desenhos das Antigualhas. Lisboa: Livros Horizonte, 1989.- Da Ciência do Desenho. Lisboa: Livros Horizonte, 1985.
– Da Fábrica que falece à cidade de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte, 1984.
– Da Pintura Antiga. Lisboa, INCM, 1984; Da Pintura Antiga. Lisboa: Livros Horizonte, 1984.
– De Aetatibus Mundi Imagines, Ed. Fac-similada com estudo de Jorge Segurado, Lisboa: INCM, 1983.
– Diálogos em Roma, Lisboa: Livros Horizonte, 1984.
– Do Tirar Polo Natural, Lisboa: Livros Horizonte, 1984