Nos 90 anos de Julie Andrews, a 1 de outubro, a Antena 2 celebra a musicalidade intrínseca à carreira de uma grande atriz. Dos temas musicais às personagens inesquecíveis, a crítica de cinema Inês N. Lourenço explora o percurso de uma mulher moderna que nunca deixou de ser clássica.
Também o programa Banda Sonora dedica-lhe o episódio sobre o filme Darling Lili, de Blake Edwards, protagonizado pela atriz.
1 Outubro | 22h00
Julie Andrews – 90 anos de uma rapariga moderna
Por Inês N. Lourenço
Uma vida entre o palco e o grande ecrã
Nascida a 1 de outubro de 1935, em Walton-on-Thames, Inglaterra, Julie Andrews permanece na evocação da infância de muitos espectadores como a ama de origem desconhecida que canta Supercalifragilisticexpialidocious e A Spoonful of Sugar. Mas, antes desse acontecimento chamado Mary Poppins, ela foi também uma artista precoce: começou aos 10 anos a trabalhar a voz com a mãe pianista e o padrasto cantor, num espetáculo de music hall, e, dois anos mais tarde, esse treino permitiu-lhe alcançar a própria estreia profissional com uma ária na peça Starlight Roof, encenada no Hipódromo de Londres.
Não muito depois, em 1954, entrava na sua primeira produção da Broadway, baseada na paródia musical britânica The Boy Friend. Seguiu-se, em 1956, o famoso papel de Eliza Doolittle noutro clássico da Broadway, My Fair Lady – um enorme sucesso, que valeu a Andrews notável aclamação pelo seu desempenho –, mas para a história fica a ironia de ter sido Audrey Hepburn a assumir a personagem de Eliza Doolittle no grande ecrã, mesmo não sabendo cantar… Tal escolha dos produtores de My Fair Lady (1964), o filme de George Cukor, resultou num mítico amargo de boca: na edição dos Óscares de 1965, Julie Andrews, uma debutante em Mary Poppins, venceria a sua primeira e única estatueta dourada, no caso, sem a competição direta da doce Audrey, que apesar de a ter substituído no cinema devido ao seu estatuto de estrela, não foi nomeada.
Com efeito, após My Fair Lady nos palcos, foi o papel de Rainha Guinevere em Camelot que a fez sobressair aos olhos de Walt Disney: estava escolhida Mary Poppins, a ama mágica que, logo a seguir, voou para outro êxito de bilheteira, Música no Coração (1965), estabelecendo uma imagem pública de jovem íntegra e sorridente; catalogação redutora de que Andrews se quis libertar. No ano seguinte enveredou pelo registo dramático em A Cortina Rasgada, de Alfred Hitchcock, e o próprio declínio do género musical começou a ditar uma fase de afastamento do ecrã (apesar de ser dessa altura outro dos seus deliciosos papéis musicais, em Millie, Rapariga Moderna, de George Roy Hill). Pela mão do marido, o realizador Blake Edwards, voltou a ganhar confiança no cinema sobretudo com o magnífico Victor/Victoria (1982), onde interpreta uma soprano que se faz passar por homem para conseguir emprego num clube noturno – se dúvidas houvesse sobre a versatilidade desta atriz de voz cristalina, o filme valeu-lhe a terceira nomeação ao Óscar, ditando futuras escolhas entre o drama e a comédia. Em 1995, revisitou Victor/Victoria na Broadway.
Nos últimos anos, tem-se dedicado a livros de memórias, oferecendo, de quando em vez, a voz como narradora em séries, filmes e animações. Agora, chega à marca dos 90.
Inês Lourenço
Em “Victor/Victoria” (1982)
5 outubro | 16h00 || 6 outubro | 13h00 (repetição)
Banda Sonora
Darling Lili / Lili, Minha Adorável Espiã
por Mafalda Serrano
A atriz Julie Andrews contracena nesta comédia musical com o ator norte-americano Rock Hudson. Filme de 1970, Darling Lili / Lili, Minha Adorável Espiã foi realizado por Blake Edwards, e a música original é da autoria de Henry Mancini. Neste filme, Julie Andrews foi nomeada para o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia/Musical.