Maria Teresa Horta faleceu a 4 de fevereiro de 2025, em Lisboa, cidade que a viu nascer a 20 de maio de 1937. Escritora, poetisa, jornalista e ativista, é uma das mais destacadas feministas portuguesas. Melancólica e transgressora, menina e mulher, de fulgor e paixão, de poesia e de ficção. Insubmissa, desobediente às convenções morais e sociais, inquieta, apaixonada pela escrita, pelas letras, pela liberdade, pela vida.
A Antena 2 tem celebrado a sua obra, a sua voz e a sua vida, com diversos programas transmitidos durante a última semana: das várias horas de conversa com Maria Teresa Horta, destacamos uma entrevista de vida, várias conversas sobre os seus livros e a sua escrita, e a leitura dos seus próprios poemas, em voz própria.
4 fev. 2005 | Quinta Essência
Entrevista a Maria Teresa Horta por João Almeida
Realizada em agosto de 2009, a Antena 2 transmitiu esta conversa no dia do falecimento da escritora.
Uma hora de conversação sobre a sua vida, desde as memórias da infância e adolescência, às dúvidas juvenis, aos primeiros livros de poesia, a respetiva receção crítica e as retaliações sociais, à publicação de Novas Cartas Portuguesas e ao processo político e censório, às relações familiares, ao seu trabalho como jornalista em periódicos diários, generalistas e culturais, e em chefe de redação na revista Mulheres, à sua militância no Partido Comunista e o seu afastamento, e ao feminismo.
Tempo ainda de escutar uma música escolhida por Maria Teresa Horta, que fazia a “voar por dentro”, mormente durante a escrita de Inquietude, o Concerto nº 1 para piano e orquestra de Brahms.
8 fev. 2005 | A Força das Coisas
por Luís Caetano
Dedicado a Maria Teresa Horta, Melancolia e Fulgor, evoca, pela sua voz e pelas suas palavras uma das mulheres mais importantes na vida literária e social do século XX, em Portugal.
Recupera-se uma entrevista feita em 2006, sobre o seu livro de poesia, Inquietude, pontuada pela leitura de alguns excertos pela própria poetisa.
Na 2ª parte do programa, Luís Caetano emite a conversa tida em 2012, com a autora de As Luzes de Leonor (2011) – o seu romance sobre a Marquesa de Alorna -, e de Poemas para Leonor (2012).
5 fev. 2005 | A Ronda da Noite
por Luís Caetano
Maria Teresa Horta: Transgressão, melancolia, fulgor
Uma última conversa com Maria Teresa Horta em 2019, a propósito do seu livro Quotidiano Instável, editado pela Dom Quixote. São crónicas escritas no suplemento Literatura & Artes, de A Capital, entre 1968 e 1972; um olhar do quotidiano na cidade num retrato de um tempo sem liberdade. Tempo também para conversar sobre os livros Estranhezas e Eu sou a Minha Poesia.
6 fev. 2005 | A Ronda da Noite
por Luís Caetano
Uma conversa com Maria Teresa Horta, aquando da reedição de Ambas as Mãos Sobre o Corpo, inicialmente publicado em 1970, e seu primeiro livro de ficção. Conjunto de narrativas que, fundindo-se, se organizam num romance fragmentado; livro de momentos, de grandes pausas iniciáticas, de silêncios expressivos, cristalinamente fantástico porque dominado pela compreensão introspetiva e por um intimismo sagaz. Uma obra que é uma afirmação de liberdade.
7 fev. 2005 | A Ronda da Noite
por Luís Caetano
Uma conversa com Maria Teresa Horta sobre Les Sorcieres – Feiticeiras, poesia feita cantata. O poema transporta-nos ao âmago do perturbador mundo das bruxas, sensuais e sem pudor, através de uma escrita de audácia e comprometimento. António Chagas Rosa musicou esse texto, na forma de um conto cantado em português, onde os poderes mágicos das mulheres opuseram feroz resistência aos poderes estabelecidos, representados pelos inquisidores.
Livros de Maria Teresa Horta, em Última Edição
5 e 6 fev. 2025 | Última Edição
Maria Teresa Horta e as crónicas de um país cinzento
Luís Caetano conversou com a escritora Maria Teresa Horta em sua casa em 2019, a propósito da publicação pela Dom Quixote, do seu livro Quotidiano Instável, crónicas escritas no suplemento Literatura & Artes, de A Capital, entre 1968 e 1972; são o olhar do quotidiano na cidade num retrato de um tempo sem liberdade. Ocasião também para conversar sobre os livros Estranhezas e Eu sou a Minha Poesia.
[1ª parte]
[2ª parte]
7 fev. 2025 | Última Edição
Anunciações, de Maria Teresa Horta
Este livro recebeu o Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Autores 2017. É m romance escrito sob forma de poesia, uma história de amor entre o anjo Gabriel e Maria, na qual se encontram o divino e o terreno, emergindo na dignidade da sua condição humana.
Anunciações desenrola-se ao longo de 280 poemas e 14 estações (tantas quantas as da paixão e morte de Cristo), até à gestação do filho de ambos, Joshua.
Poesia escrita e lida por Maria Teresa Horta, em A Vida Breve
5 fev. 2025 | Pequenos dizeres sobre a mulher
6 fev. 2025 | As Bibliotecas
7 fev. 2025 | Poema
10 fev. 2025 | A Leitora
11 fev. 2025 | Carta a Maria
12 fev. 2025 | Trajecto na escrita
Maria Teresa Horta estreou-se na poesia em 1960, com Espelho Inicial; no ano seguinte participou com “Tatuagem” em Poesia 61, e tem a sua obra poética editada em Portugal (17 títulos, entre os quais o inovador Minha Senhora de Mim, recentemente reeditado) coligida em Poesia Reunida (2009). Posteriormente, publicou Poemas para Leonor (2012), A Dama e o Unicórnio (2013), Anunciações (2016) – Prémio Autores SPA / Melhor Livro de Poesia 2017 –, Poesis (2017), Estranhezas (2018), vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa / Correntes d’Escritas 2021, e a antologia pessoal Eu Sou a Minha Poesia (2019).
Na ficção, é autora de Ambas as Mãos sobre o Corpo (1970), Ana (1974), Ema (1984), Cristina (1985) e A Paixão segundo Constança H. (1994).
Foi coautora, com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, das internacionalmente reconhecidas Novas Cartas Portuguesas (1972), marco inquestionável na história da literatura portuguesa. Banido e censurado pelo regime do Estado Novo por alegada ofensa à moral pública, fez manchetes e inspirou protestos em todo o mundo. O impacto internacional da obra deu-se pouco depois da sua divulgação em França pela escritora feminista Simone de Beauvoir, e pelo conhecimento público do processo de que as “Três Marias” estavam a ser alvo, com a cobertura do julgamento feita por meios de comunicação internacionais (entre os quais Le Monde, Time, The New York Times, Nouvel Observateur e televisões norte-americanas), e consequentes manifestações feministas em várias embaixadas de Portugal no estrangeiro, assim como a defesa pública da obra e das autoras por várias personalidades internacionais, como Marguerite Duras, Doris Lessing, Iris Murdoch e Delphine Seyrig.
Foi “um libelo contra a ideologia vigente no período pré-25 de Abril (denunciando a guerra colonial, o sistema judicial, a emigração, a violência, a situação das mulheres), revestindo-se de uma invulgar originalidade e atualidade, do ponto de vista literário e social. Comprova-o o facto de poder ser hoje lido à luz das mais recentes teorias feministas (ou emergentes dos Estudos Feministas, como a teoria queer), uma vez que resiste à catalogação ao desmantelar as fronteiras entre os géneros narrativo, poético e epistolar, empurrando os limites até pontos de fusão.”, como descreveu esta obra Ana Luísa Amaral.
Em 2011, publicou As Luzes de Leonor, romance sobre a sua antepassada, a poetisa Marquesa de Alorna, distinguido com o Prémio D. Diniz, da Fundação da Casa de Mateus. Em 2014, ano em que lhe foi atribuído o Prémio Consagração de Carreira pela Sociedade Portuguesa de Autores, editou o volume de contos Meninas.
Com livros editados no Brasil, em França e Itália, Maria Teresa Horta foi a primeira mulher a exercer funções dirigentes no cineclubismo em Portugal e é considerada uma das mais destacadas feministas da lusofonia.
Foi jornalista, publicou diversos textos em jornais e foi também chefe de redação da revista Mulheres, que tinha um forte cunho feminista e essencialista, a convite do Partido Comunista Português, do qual foi militante durante catorze anos entre 1975 e 1989.
Em 2004, foi agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, e em 2022, com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.
Em dezembro de 2024, foi incluída numa lista de 100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo, elaborada pela estação pública britânica BBC, que inclui artistas, ativistas, advogadas ou cientistas.
Fotos Jorge Carmona / Antena 2
(em outubro de 2019, em casa da escritora)