A Antena 2 estreia uma nova série do programa Caleidoscópio, intitulada O Fio de Ariadne, realizada por Ana Mântua / João Chambers, a 2 de Outubro. Até ao final de Dezembro.
O Fio de Ariadne
Domingos 22h00
Quartas 13h00
Devido ao nascimento do Minotauro, fruto do amor ilícito da sua mulher Pasífae com um belo touro enviado por Poseidon para o castigar, Minos, rei de Creta, pai de Ariadne, encarregou o grande arquiteto Dédalo de construir um local de reclusão para aquela criatura monstruosa de onde fosse impossível escapar. Foi assim que se concebeu o Labirinto. Uma vez lá dentro podiam seguir-se, infinitamente, os caminhos ziguezagueantes sem nunca ser possível encontrar uma forma de saída.
De nove em nove anos eram enviados desde Atenas, na época subjugada por Minos, sete rapazes e sete raparigas, todos virgens, para serem oferecidos em sacrifício ao Minotauro que, avidamente, os devorava.
Ariadne apaixonou-se, então, por um desses atenienses – Teseu – e logo engendrou um plano para o salvar de tão horrenda morte. Deu-lhe um novelo de fio que devia prender a uma grade e desenrolar à medida que avançava para o seu interior. Teseu conseguiu matar o Minotauro e, desta forma, encontrar o trajecto de fuga. Levou consigo Ariadne, refugiando-se ambos no barco que os havia de conduzir a Atenas. Porém, ao aportarem a ilha de Naxos, Teseu abandonou Ariadne e deixou-a entregue à sua sorte.
Este passo da mitologia grega serve de metáfora ao desinteresse a que, ao longo dos séculos, foi votado o génio e o engenho femininos. Tal como Teseu desprezou Ariadne, apesar de esta o ter salvado de uma morte certa, também os “homens”, em geral, ignoraram, talvez por uma questão de receio, o talento feminino.
Desconhecidas do grande público e descuradas pela História da Arte, as mulheres artistas, desde o Renascimento até à Revolução Industrial, cujos talento e sucesso foram sintomaticamente assimilados como “uma excepção” ou “um milagre da natureza”, são, na verdade, em número diminuto quando comparadas com o sexo oposto. Na origem desta disparidade, que a reabilitação de génios desconhecidos está longe de poder reduzir, encontra-se uma oposição entre feminino e masculino, a qual, baseando-se nas “leis naturais”, traçou uma divisória profunda e duradoura entre espaço social, doméstico, económico e simbólico, ao mesmo tempo que um sexismo da arte que sempre lhes foi desfavorável.
Da aprendizagem do ofício ao sistema da cena artística, aquelas que escolheram os pincéis em detrimento das agulhas, a fim de poderem reivindicar um papel para o qual o seu género “naturalmente” as não destinava, foram obrigadas a desenvolver estratégias complexas que frustrassem as proibições e os constrangimentos.
Ao longo de treze programas iremos dar luz e voz a algumas destas mulheres que a história, injustamente, deturpou ou negligenciou.
Ana Mântua / João Chambers
Programas
2 Outubro | 5 Outubro
A tipologia de freira-artista: Hildegard von Bingen (1098-1179), poetisa, visionária, iluminadora e “Sibila do Reno”, Catarina de Vigri (1413-1463) e Plautilla Nelli (1524-1588).
9 Outubro | 12 Outubro
Sofonisba Anguissola (c. 1532-1625), pintora de Cremona ao serviço da corte de Filipe II de Espanha.
16 Outubro | 19 Outubro
A violação e o processo de Artemisia Gentileschi (1593-c.1656), factores determinantes para o desenvolvimento da temática das “mulheres fortes”.
23 Outubro | 26 Outubro
Naturezas-mortas: o pioneirismo de Clara Peeters (c.1594-c.1659) e a generosidade de Giovanna Garzoni (1600-1670).
30 Outubro | 2 Novembro
Josefa d’Óbidos (1630-1684): a pintora do Barroco português.
6 Novembro | 9 Novembro
Rosalba Carriera (1675-1757), uma miniaturista veneziana na Real Academia de Pintura e Escultura de Paris.
Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun, Auto-retrato (1790)