Estar com os outros permanentemente, e tornar público o que é privado; aquela vida privada que uma pessoa tem fora do teatro, no teatro transforma-se, é exibido perante toda a gente (…) Há uma grande exposição e uma grande verdade (…) acreditam que a ficção existe, mas é sobretudo a partilha naquele momento das 9h30 às 11h30 da noite, de uma vida comum e de uma ideia comum (….) perante a fragilidade dos seres que se exibem perante os outros.
Esta é a essência do ofício do teatro, segundo as palavras de Jorge Silva Melo, numa entrevista dada ao programa Quinta Essência, de João Almeida, em Maio de 2007, e que a Antena 2 transmite hoje, dia 15 de Março, pelas 19h00.
Uma conversa sobre o seu percurso artístico e cultural, aquando do lançamento do livro memorialista Século Passado, editado pelos Livros Cotovia.
Também o programa Império dos Sentidos homenageou o encenador e ator, cineasta e dramaturgo, tradutor e crítico, editor e escritor, que faleceu ontem aos 73 anos.
Paulo Alves Guerra recuperou e trouxe à emissão desta manhã, conversas com Jorge Silva Melo, uma das quais tida em 2016 a propósito do seu documentário Ainda Não Acabámos: Como Se Fosse Uma Carta, e ainda algumas das suas preferências musicais, excertos da sua filmografia, entre outros arquivos da rádio, e que pode ouvir aqui.
Jorge Silva Melo colaborou várias vezes com a Antena 2, nomeadamente integrando a equipa fundadora de Um Certo Olhar, com Maria João Seixas e Gabriela Canavilhas, um programa de Luís Caetano, em 2005.
A Ronda da Noite revisita as palavras íntimas de Jorge Silva Melo, em Século Passado, mas também a sua voz e a sua lucidez na 1ª emissão daquele programa cuja colaboração semanal durou um ano. Para ouvir aqui.
Em entrevista a Luís Caetano, em outubro de 2016.
De realçar a intensa e duradora parceria, pelo menos desde Maio de 2008, entre Jorge Silva Melo e os ‘seus’ Artistas Unidos, com a Antena 2, em Teatro Sem Fios, o que possibilitou a gravação e transmissão de inúmeras peças de teatro radiofónico da autoria de diversos dramaturgos universais e contemporâneos.
Muitas destas dezenas de peças, além da sua direção de atores ou da sua participação como ator, incluem também curtas mas valiosas apresentações sobre o autor e a obra interpretada.
Jorge Silva Melo e os seus atores dos Artistas Unidos,
na gravação de um Teatro Sem Fios, em 2017.
Jorge Silva Melo (Lisboa, 7 de agosto de 1948 – Lisboa, 14 de março de 2022), o diretor artístico da companhia de teatro Artistas Unidos, foi ator e dramaturgo, encenador e realizador, tradutor e crítico, personalidade fundamental na cultura portuguesa desde o 3º quartel do século XX.
Depois de uma passagem pela licenciatura em Filologia Românica, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde integrou o Grupo de Teatro de Letras, decide, em 1969, partir para o Reino Unido. Com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian frequentou a London Film School, onde obteve um diploma em Realização.
Fundou e dirigiu, com Luís Miguel Cintra, o Teatro da Cornucópia, entre 1973 e 1979.
Bolseiro da Fundação Gulbenkian, estagiou em Berlim junto de Peter Stein e em Milão junto de Giorgio Strehler.
Acompanhou de perto a ação cinematográfica da geração que o antecedeu e a das que lhe sucederam. João César Monteiro convida-o, após ler uma crítica sua no Diário de Lisboa/Juvenil, para assistente no seu filme Sophia de Mello Breyner Andresen. Trabalha, com a mesma função, no filme seguinte do realizador, Quem Espera Por Sapatos de Defunto Morre Descalço, e no filme Pousada das Chagas de Paulo Rocha.
É ator em Silvestre, de César Monteiro, em A Ilha dos Amores, de Paulo Rocha, no filme Acabada de João Botelho e ainda em O Sapato de Cetim de Manoel de Oliveira. É argumentista em O Desejado, também realizado por Paulo Rocha, em Xavier de Manuel Mozos, entre outros.
É autor do libreto de Le Château des Carpathes (baseado em Júlio Verne) de Philippe Hersant, das peças Seis Rapazes Três Raparigas, António, Um Rapaz de Lisboa, O Fim ou Tende Misericórdia de Nós, Prometeu, Num País Onde Não Querem Defender os Meus Direitos, Eu Não Quero Viver (a partir de "Michael Kohlhaas" de Heinrich von Kleist), Não Sei (em colaboração com Miguel Borges) e O Navio dos Negros.
Fundou, em 1995, a sociedade Artistas Unidos da qual foi director artístico até agora.
Realizou as longas-metragens Passagem ou A Meio Caminho (1980), Ninguém Duas Vezes (1984), Agosto (1988), Coitado do Jorge (1992), António, Um Rapaz de Lisboa (2001), e a curta-metragem A Felicidade (2009). E ainda os documentários Conversas com Glicínia (2004), Conversas em Leça em Casa de Álvaro Lapa (2006), Nikias Skapinakis: O Teatro dos Outros (2008), Álvaro Lapa: A Literatura (2008), A Gravura: Esta Mútua Aprendizagem (2008), António Sena: A Mão Esquiva (2009), Ângelo de Sousa: Tudo o que sou capaz (2010) e Sofia Areal: Um Gabinete Anti-Dor (2016).
Traduziu obras de Carlo Goldoni, Luigi Pirandello, Oscar Wilde, Bertolt Brecht, Georg Büchner, Lovecraft, Michelangelo Antonioni, Pier Paolo Pasolini, Heiner Müller e Harold Pinter, entre outros.
Foi professor na Escola Superior de Teatro e Cinema.
A 25 de abril de 2004, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade.
Em Abril de 2021, a Universidade de Lisboa atribuiu-lhe o grau de Doutor Honoris Causa
Fotos Jorge Carmona / Antena 2