A Antena 2 evoca Krzysztof Penderecki, um dos principais e mais inovadores compositores da música contemporânea que morreu no passado dia 29, em Cracóvia, com um programa especial pelo maestro Pedro Amaral.
Evocação | Krzysztof Penderecki (1933-2020)
Realização de Pedro Amaral
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O decano dos compositores do tempo presente, o último dos mestres do pós 2ª Guerra Mundial, um vulto à parte nessa geração de ouro que floresceu na Europa dos anos 50 e que transformou de forma irreversível o pensamento musical do Ocidente.
Pedro Amaral
Krzysztof Eugeniusz Penderecki nasceu em Dębica, na Polónia, a 23 de novembro de 1933. Aos 18 anos foi admitido no Conservatório de Cracóvia, tendo estudado ao mesmo tempo filosofia, história da arte e literatura.
A sua carreira teve início em 1959, quando as suas três composições Strophes, Emanations e Psalms of David ganharam os três primeiros prémios num concurso para jovens compositores em Varsóvia.
Nos anos 60, o compositor estabeleceu-se como uma das figuras de vanguarda, com a obra Trenodia às Vítimas de Hiroshima (1960), uma composição para uma ampla gama de instrumentos de corda, e pela qual é internacionalmente reconhecido.
Krzysztof Penderecki começou então a usar técnicas de composição invulgares, que faziam os instrumentos soarem de forma diferente. A sua música era rica em efeitos sonoros; o recurso a folhas de metal, apitos, pedaços de vidro e metal esfregados com uma lima, guizos, sons elétricos, serras, máquinas de escrever ou sirenes de alarme conferiam textura sonora às suas composições. Inovador também na notação musical, inventando símbolos correspondentes a estes novos meios de expressão musical.
Ao longo desta década, o compositor e maestro vai alcançando prestígio internacional e as suas obras, sucesso imediato.
Mais tarde, vai abandonando gradualmente a sua linguagem vanguardista, uma evolução criticada pelo mundo da música, mas aplaudida pelo público. Krzysztof Penderecki regressou então a uma escrita neo-tonal, pós-romântica, com um conteúdo e uma construção acessíveis a diversos públicos.
As suas obras mais conhecidas incluem a Trenodia às Vítimas de Hiroshima, a Sinfonia nº 3, a Paixão segundo São Lucas (1963–66), o Requiem Polaco, Anaklasis, Utrenja, quatro óperas, oito sinfonias e outras peças orquestrais, vários concertos para instrumentos solo, obras para coro de textos principalmente religiosos, além de numerosas obras de câmara e instrumentais. Com a sua estrutura e dramaturgia distintas, assim como a sua mensagem profundamente humanística, a sua música é apreciada por um amplo público.
Foi professor de composição em várias escolas de música em todo o mundo. Como maestro dirigiu as mais prestigiadas orquestras sinfónicas da Europa e dos Estados Unidos, e foi membro das academias de música de vários países.
Penderecki foi vencedor de quatro Grammy (em 1988, em 1999 – em duas categorias -, e em 2017), e compôs também para filmes de diversos realizadores, como Shining, de Stanley Kubrick, Shutter Island, de Martin Scorsese ou Wild at heart (Um Coração Selvagem), de David Lynch.
Em 2011, colaborou com Jonny Greenwood, guitarrista principal da banda inglesa Radiohead, e com o compositor de música eletrónica Aphex Twin, num álbum e numa digressão.
Ao longo da sua carreira recebeu inúmeros prémios, como o Prix Italia em 1967 e 1968, o Wolf Prize in Arts em 1987, o University of Louisville Grawemeyer Award for Music Composition em 1992, e o Prémio Príncipe das Astúrias das Artes em 2001.
A 29 de Março de 2020, e após doença prolongada, o compositor e maestro Krzysztof Penderecki, faleceu em Cracóvia, na Polónia.
Com esta morte, finda esta geração de ouro que nasceu entre conflitos mundiais e que pontificou desde o 2º quartel do século XX.
Fica-nos a sua herança, o seu extraordinário exemplo e a sua ausência tão presente.
Pedro Amaral