Grande Auditório
Lorenzo Viotti, Maestro
Programa
Johannes Brahms (1833-1897) – Schicksalslied (Canção do Destino), op. 54
Gustav Mahler (1860-1911) – Sinfonia nº 1, em Ré maior
Produção: Alexandra Louro de Almeida
DESR-Radiodifusão do Sarre | SIRTVS-Radiotelevisão da Eslovénia | ROROR-Radiodifusão Romena | AUABC-Radiodifusão da Austrália
Notas ao programa
por Luís M. Santos / FCG
Composição: 1868-1871
Estreia: Karlsruhe, 18 de outubro de 1871Johannes Brahms desenvolveu um estilo musical firmemente arreigado nos modelos e nas técnicas composicionais barrocos e clássicos, herança que aliou a idiomas folclóricos e de dança coevos, bem como a uma sensibilidade romântica própria, numa abordagem sempre diligente e perfeccionista ao processo criativo. Em 1868, pouco após a estreia de Ein deutsches Requiem, o compositor tomou contacto com o poema “Hyperions Schicksalslied”, do romance epistolar Hyperion, de Friedrich Hölderlin, iniciando desde logo o trabalho numa nova obra para coro e orquestra, intitulada Schicksalslied (Canção do Destino). Mas a sua gestação seria difícil, devido à indecisão do compositor relativamente ao modo como deveria concluir, tendo sido terminada já em 1871.
Gustav Mahler | Sinfonia nº 1, em Ré maior
Composição: 1887-1888
Estreia: Budapeste, 20 de novembro de 1889
Considerado hoje um dos mais destacados compositores da sua geração, Gustav Mahler representa um elo fundamental na transição entre a tradição austro-germânica do século XIX e o modernismo do início do século XX. O seu percurso criativo foi, numa primeira fase (c.1880-1901), marcado pela íntima e complexa proximidade entre canções e sinfonias. É o caso da Sinfonia nº 1, em Ré maior, que reutiliza as canções nº 2 e nº 4 do seu ciclo de canções orquestrais Lieder eines fahrenden gesellen (1884-85). Composta em Leipzig entre 1887 e 1888, seria estreada em Budapeste no ano seguinte com uma receção negativa. Planeada originalmente como um poema sinfónico em cinco andamentos, a obra conheceria várias revisões até tomar a sua forma definitiva em 1898, ano da sua publicação, renunciando ao título Titã (inspirado em Jean-Paul) e à descrição programática, bem como ao 2º andamento original, Blumine.
O primeiro andamento abre num ambiente misterioso, marcado por um motivo de quartas descendentes nas madeiras, clareando a atmosfera no momento em que esse motivo se torna no início do tema principal. O desenvolvimento recorda o material da introdução e, nos compassos finais, o motivo de duas notas encerra o andamento com humor. Segue-se um scherzo e trio inspirado num Ländler tradicional austríaco. O trio apresenta material lírico contrastante e o Ländler retorna abreviado e com uma orquestração mais pesada. O terceiro andamento é uma marcha fúnebre baseada na melodia infantil “Frère Jacques”, exposta por um contrabaixo solista e comentada pelo oboé. Após a evocação de um conjunto instrumental judaico e um episódio mais contemplativo, a marcha fúnebre encerra com a sobreposição dos três elementos temáticos e o seu desmoronamento. No Finale um tema em Fá menor é proclamado energicamente nos metais, contrastando com uma ideia poética nas cordas. O tema inicial surge em Ré maior, e as trompas apresentam uma versão modificada do motivo inicial de quartas, submergindo agora em nova secção lírica. O tema principal do Finale retorna em modo menor nas cordas, sendo reafirmado em Ré maior pelos metais e alcançando enfim um ponto culminante que leva à conclusão da obra em ambiente de fanfarra.
Fotos Jorge Carmona / Antena 2 RTP