Temporada Gulbenkian
10 Novembro 19h00
Grande Auditório
da Fundação Gulbenkian
Magnificat
Händel & Bach
Direção musical: Ton Koopman
Eduarda Melo, Soprano
Maarten Engeltjes, Contratenor
Marco Alves dos Santos, Tenor
Klaus Mertens, Baixo
Jorge Matta, Maestro do Coro Gulbenkian
Maarten Engeltjes, Contratenor
Marco Alves dos Santos, Tenor
Klaus Mertens, Baixo
Jorge Matta, Maestro do Coro Gulbenkian
Pedro Ribeiro / Alice Caplow-Sparks, Oboés de amor
Sophie Perrier / Ana Filipa Lima, Flautas I-II
Sophie Perrier / Ana Filipa Lima, Flautas I-II
Baixo Contínuo:
Varoujan Bartikian, Violoncelo
Domingos Ribeiro, Contrabaixo
Ricardo Ramos, Fagote
Tini Mathot, Cravo e Órgão
Varoujan Bartikian, Violoncelo
Domingos Ribeiro, Contrabaixo
Ricardo Ramos, Fagote
Tini Mathot, Cravo e Órgão
Programa
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
Transmissão em direto
Realização e apresentação: João Almeida
Produção: Alexandra Louro de Almeida
Realização e apresentação: João Almeida
Produção: Alexandra Louro de Almeida
Notas ao programa
Georg Friedrich Händel (Halle, 23 de fevereiro de 1685-Londres, 14 de abril de 1759)
Funeral Anthem for Queen Caroline, HWV 264
Composição: 1737
Estreia: Londres, 17 de dezembro de 1737
Duração: c. 45 min.
A maior parte das obras sacras escritas por Georg Friedrich Händel em Inglaterra destinaram-se à Capela Real, a qual contava com um grupo de cantores permanente e constituía uma das principais estruturas musicais da monarquia, juntamente com os Royal Musicians ou King’s Musicians (agrupamento instrumental) e os Royal Trumpeters (banda real). Apesar de já ter composto outras obras para cerimónias reais, foi em 1723 que obteve a nomeação oficial de “Compositor da Capela Real”, com uma pensão anual de 400 libras e as funções adicionais de “Mestre de música das princesas”, com mais 200 libras. Händel forneceu música para serviços religiosos com diferentes graus de solenidade, desde a liturgia quotidiana aos grandes acontecimentos dinásticos e políticos, destacando-se neste último campo as imponentes Coronation Anthems e The ways of Zion do mourn / Funeral Anthem for Queen Caroline.
Carolina de Ansbach, casada desde 1705 com o filho do Príncipe Eleitor de Hanôver (Jorge I da Grã-Bretanha), que viria a suceder ao pai em 1727, tinha conhecido Händel ainda em território alemão e, já em Inglaterra, tornou-se uma importante protetora do compositor. A rainha faleceu a 20 de novembro de 1737 e Händel completou a sua Funeral Anthem (ode fúnebre) The ways of Zion do mourn, a 12 de dezembro. Foi interpretada nas cerimónias fúnebres de 17 de Dezembro pelos cantores da Capela Real, da Abadia de Westminster e da Capela de São Jorge, Windsor, acompanhados pelos instrumentistas da corte (King’s Musicians) e por reforços contratados para o efeito. Algumas crónicas da época referem um total de 180 músicos.
The ways of Zion do mourn é uma obra coral grandiosa de tocante beleza, com alguns traços comuns às Coronation Anthems (mas sem a inclusão de trompetes e tímpanos, associados a ocasiões festivas), que põe em música textos compilados por Edward Willes, sub-deão da Abadia de Westminster, a partir do Antigo Testamento. Uma Sinfonia em Sol menor, de tons sombrios, introduz uma sucessão de andamentos corais nos quais o Händel usa grande variedade de texturas e expressivos recursos harmónicos. Recorre também com frequência a melodias de corais luteranos em homenagem à tradição germânica e à fé religiosa de origem da soberana, igualmente partilhada pelo compositor. A obra inclui ainda evocações da música de Philipp Krieger (1649-1725), Heinrich Schütz (1585-1672) e de Jacob Handl (Gallus) (1550-91), cujo célebre motete fúnebre Ecce quomodo moritur justus é citado na frase “but their name liveth everymore”. No ano seguinte, Händel adaptou parte da música dedicada ao funeral da rainha Carolina a um outro texto (“The Lamentation of the Israelites for the Dead of Joseph”) que viria a converter-se na primeira parte da oratória Israel in Egypt, HWV 54.
Carolina de Ansbach, casada desde 1705 com o filho do Príncipe Eleitor de Hanôver (Jorge I da Grã-Bretanha), que viria a suceder ao pai em 1727, tinha conhecido Händel ainda em território alemão e, já em Inglaterra, tornou-se uma importante protetora do compositor. A rainha faleceu a 20 de novembro de 1737 e Händel completou a sua Funeral Anthem (ode fúnebre) The ways of Zion do mourn, a 12 de dezembro. Foi interpretada nas cerimónias fúnebres de 17 de Dezembro pelos cantores da Capela Real, da Abadia de Westminster e da Capela de São Jorge, Windsor, acompanhados pelos instrumentistas da corte (King’s Musicians) e por reforços contratados para o efeito. Algumas crónicas da época referem um total de 180 músicos.
The ways of Zion do mourn é uma obra coral grandiosa de tocante beleza, com alguns traços comuns às Coronation Anthems (mas sem a inclusão de trompetes e tímpanos, associados a ocasiões festivas), que põe em música textos compilados por Edward Willes, sub-deão da Abadia de Westminster, a partir do Antigo Testamento. Uma Sinfonia em Sol menor, de tons sombrios, introduz uma sucessão de andamentos corais nos quais o Händel usa grande variedade de texturas e expressivos recursos harmónicos. Recorre também com frequência a melodias de corais luteranos em homenagem à tradição germânica e à fé religiosa de origem da soberana, igualmente partilhada pelo compositor. A obra inclui ainda evocações da música de Philipp Krieger (1649-1725), Heinrich Schütz (1585-1672) e de Jacob Handl (Gallus) (1550-91), cujo célebre motete fúnebre Ecce quomodo moritur justus é citado na frase “but their name liveth everymore”. No ano seguinte, Händel adaptou parte da música dedicada ao funeral da rainha Carolina a um outro texto (“The Lamentation of the Israelites for the Dead of Joseph”) que viria a converter-se na primeira parte da oratória Israel in Egypt, HWV 54.
Johann Sebastian Bach (Eisenach, 21 de março de 1685-Leipzig, 28 de julho de 1750)
Concerto Brandeburguês n.º 3, em Sol maior, BWV 1048
Composição: c. 1720
Duração: c. 12 min.
A famosa série de seis concertos dedicada por Johann Sebastian Bach a Christian Ludwig, Margrave de Brandeburgo, constitui um ponto culminante do género do concerto barroco e também uma superação desse mesmo modelo. Os Brandeburgueses constituem uma espécie de compêndio das possibilidades abertas nas décadas anteriores, incorporando quer a herança do concerto grosso italiano (caracterizado pelo diálogo entre um pequeno grupo de solistas designado por concertino e um grupo mais amplo: tutti ou ripieno), quer do concerto para solista e orquestra ou, ainda, do chamado concerto di gruppo. As combinações solísticas, as texturas, a forma e o colorido da instrumentação são de uma diversidade inusitada, pelo que o termo “concerto” assume um significado amplo e dinâmico e faz convergir influências italianas, francesas e germânicas.
Na dedicatória da partitura autógrafa (com data de 24 de Março de 1721), Bach identifica-os como Six Concerts Avec plusieurs Instruments Dediées A Son Altesse Royalle Monseigneur CRETIEN LOUIS, Margraf de Brandenbourg. A designação mais comum de Concertos Brandeburgueses foi atribuída por Philipp Spitta, já no século XIX. É, contudo, pouco provável que todos os concertos tenham sido escritos de propósito para o Margrave. Bach terá provavelmente reunido as suas melhores obras do género compostas para os exímios instrumentistas da corte de Cöthen e nalguns casos terá mesmo iniciado a composição ainda nos últimos tempos de Weimar.
O Concerto Brandeburguês nº 3, em Sol maior, BWV 1048, destina-se a nove partes de cordas, mais concretamente a três grupos formados por violino, violeta e violoncelo. Estes dialogam entre si num perfeito equilíbrio onde impera um curioso jogo em torno da simbologia do número três. As nove partes reúnem-se para formar o tutti ou dividem-se em grupos solísticos. Bach atribui a todos os instrumentos intervenções individuais, mas multiplica igualmente os contrastes entre grupos num discurso pleno de brilho e energia. O primeiro andamento possuiu uma estrutura tripartida próxima da ária “da capo” (A-B-A’), correspondendo o segundo A (ou A’) a uma secção mais desenvolvida e mais ousada tonalmente. Bach reutilizou este andamento (adicionando-lhe dois oboés e duas trompas) como Sinfonia da Cantata Ich liebe den Höchsten, BWV 174 (1729). O Allegro final é uma página de grande virtuosismo que recorre à matriz da Giga à italiana, desenrolando-se num movimento perpétuo de grande força motriz, donde emergem rápidos comentários individuais de cada instrumento. Entre estes dois andamentos, Bach anotou dois acordes com a indicação Adagio, que deixam o discurso em suspenso e que têm dado origem a várias interpretações, desde a improvisação de uma cadência à possibilidade de intercalar um andamento lento proveniente de outra obra. Neste concerto ouviremos a proposta do maestro Ton Koopman.
Na dedicatória da partitura autógrafa (com data de 24 de Março de 1721), Bach identifica-os como Six Concerts Avec plusieurs Instruments Dediées A Son Altesse Royalle Monseigneur CRETIEN LOUIS, Margraf de Brandenbourg. A designação mais comum de Concertos Brandeburgueses foi atribuída por Philipp Spitta, já no século XIX. É, contudo, pouco provável que todos os concertos tenham sido escritos de propósito para o Margrave. Bach terá provavelmente reunido as suas melhores obras do género compostas para os exímios instrumentistas da corte de Cöthen e nalguns casos terá mesmo iniciado a composição ainda nos últimos tempos de Weimar.
O Concerto Brandeburguês nº 3, em Sol maior, BWV 1048, destina-se a nove partes de cordas, mais concretamente a três grupos formados por violino, violeta e violoncelo. Estes dialogam entre si num perfeito equilíbrio onde impera um curioso jogo em torno da simbologia do número três. As nove partes reúnem-se para formar o tutti ou dividem-se em grupos solísticos. Bach atribui a todos os instrumentos intervenções individuais, mas multiplica igualmente os contrastes entre grupos num discurso pleno de brilho e energia. O primeiro andamento possuiu uma estrutura tripartida próxima da ária “da capo” (A-B-A’), correspondendo o segundo A (ou A’) a uma secção mais desenvolvida e mais ousada tonalmente. Bach reutilizou este andamento (adicionando-lhe dois oboés e duas trompas) como Sinfonia da Cantata Ich liebe den Höchsten, BWV 174 (1729). O Allegro final é uma página de grande virtuosismo que recorre à matriz da Giga à italiana, desenrolando-se num movimento perpétuo de grande força motriz, donde emergem rápidos comentários individuais de cada instrumento. Entre estes dois andamentos, Bach anotou dois acordes com a indicação Adagio, que deixam o discurso em suspenso e que têm dado origem a várias interpretações, desde a improvisação de uma cadência à possibilidade de intercalar um andamento lento proveniente de outra obra. Neste concerto ouviremos a proposta do maestro Ton Koopman.
Magnificat em Ré maior, BWV 243
Composição:1732
Duração: c. 12 min.
O Magnificat, texto transmitido pelo Evangelho segundo São Lucas, no qual é entoado pela Virgem Maria por ocasião da sua Visitação à sua prima Isabel, foi adoptado por diversas tradições do Cristianismo e deu origem a um extenso conjunto de obras musicais ao longo dos séculos. No plano litúrgico, este cântico que exalta a humildade de Maria e a misericórdia de Deus para com o povo de Israel, fazia parte do Ofício de Vésperas, tanto no culto católico como luterano. No entanto, neste último caso, era normalmente usada a tradução alemã (Meine Seele erhebet den Herrn), restringindo-se a versão em latim a três grandes festas do calendário litúrgico: Natal, Páscoa e Pentecostes. Era esta a prática que vigorava em Leipzig, quando Bach assumiu o cargo de Kantor da Igreja de São Tomé em 1723, ano em que compôs uma versão do Magnificat (BWV 243a) para as celebrações natalícias, que incluía textos em alemão intercalados entre a poesia latina. Mas nas revisões de 1728 e 1731 (ou 1732), o compositor suprimiu porém as peças em alemão, criando a célebre versão BWV 243. Esta difere da anterior na tonalidade (Ré maior em vez de Mi bemol maior), nalguns detalhes do discurso musical e na instrumentação, com a substituição das flautas de bisel por oboés e a inclusão de flautas transversais.
Destinado a um coro a cinco partes e cinco cantores solistas (que no âmbito das práticas da época podiam fazer parte do coro), o Magnificat recorre a uma orquestra próxima das que Bach usou nas cantatas festivas: três trompetes e timbales, dois oboés, duas flautas e baixo contínuo. Uma sucessão de andamentos curtos segue a estrutura dos versículos do texto e apresenta soluções musicais fortemente contrastantes e constantes mudanças nas combinações das vozes e instrumentos. O primeiro andamento, com um caráter festivo acentuado pela sonoridade brilhante dos trompetes e intervenções incisivas associadas à palavra “Magnificat”, requer muita agilidade dos instrumentistas e cantores, que fazem circular entre si motivos melódicos idênticos. Seguem-se duas pequenas árias ilustrativas do conteúdo do texto: “Et exultavit” para o Soprano solo II, cordas e contínuo, com um ritmo dançante; e “Quia respexit”, na qual o Soprano I dialoga com a meditativa melodia do oboé d’amore e que tem como secção conclusiva o imponente coro “Omnes generationes”. À ária para Baixo “Quia fecit mihi magna”, com um suporte de baixo contínuo aparentado com a “chaconne” e evocadora do imenso poder de Deus, segue-se a alusão à sua misericórdia num dueto para Alto e Tenor, com flautas e cordas em surdina, antes da explosão da magnificente fuga coral “Fecit potentiam”. “Deposuit potentis”, para Tenor solo, revela forte dramatismo e poder retórico na relação texto-música. Em “Esurientes”, para Contralto solo, regressa a calma com um delicado diálogo entre as flautas e os pizzicati do baixo contínuo. No trio “Suscepit Israel”, com os violinos e violas em uníssono, os oboés dão a ouvir a melodia gregoriana do Magnificat, à maneira de um prelúdio coral, e em “Sicut locutus est”, um fugato a cinco vozes remete para a antiga tradição contrapontística. O júbilo regressa no “Gloria Patri”, que nos transporta à luminosa música do primeiro andamento, com algumas variantes, fechando assim o círculo.
Destinado a um coro a cinco partes e cinco cantores solistas (que no âmbito das práticas da época podiam fazer parte do coro), o Magnificat recorre a uma orquestra próxima das que Bach usou nas cantatas festivas: três trompetes e timbales, dois oboés, duas flautas e baixo contínuo. Uma sucessão de andamentos curtos segue a estrutura dos versículos do texto e apresenta soluções musicais fortemente contrastantes e constantes mudanças nas combinações das vozes e instrumentos. O primeiro andamento, com um caráter festivo acentuado pela sonoridade brilhante dos trompetes e intervenções incisivas associadas à palavra “Magnificat”, requer muita agilidade dos instrumentistas e cantores, que fazem circular entre si motivos melódicos idênticos. Seguem-se duas pequenas árias ilustrativas do conteúdo do texto: “Et exultavit” para o Soprano solo II, cordas e contínuo, com um ritmo dançante; e “Quia respexit”, na qual o Soprano I dialoga com a meditativa melodia do oboé d’amore e que tem como secção conclusiva o imponente coro “Omnes generationes”. À ária para Baixo “Quia fecit mihi magna”, com um suporte de baixo contínuo aparentado com a “chaconne” e evocadora do imenso poder de Deus, segue-se a alusão à sua misericórdia num dueto para Alto e Tenor, com flautas e cordas em surdina, antes da explosão da magnificente fuga coral “Fecit potentiam”. “Deposuit potentis”, para Tenor solo, revela forte dramatismo e poder retórico na relação texto-música. Em “Esurientes”, para Contralto solo, regressa a calma com um delicado diálogo entre as flautas e os pizzicati do baixo contínuo. No trio “Suscepit Israel”, com os violinos e violas em uníssono, os oboés dão a ouvir a melodia gregoriana do Magnificat, à maneira de um prelúdio coral, e em “Sicut locutus est”, um fugato a cinco vozes remete para a antiga tradição contrapontística. O júbilo regressa no “Gloria Patri”, que nos transporta à luminosa música do primeiro andamento, com algumas variantes, fechando assim o círculo.
Notas de Cristina Fernandes / FCG
Ton Koopman, Maestro
Nasceu em Zwolle, na Holanda, em 1944. Depois da formação musical inicial, estudou órgão, cravo e musicologia em Amesterdão, tendo-lhe sido atribuído o Prix d’Excellence em ambos os instrumentos. Desde o início dos seus estudos, sentiu-se fascinado pelos instrumentos históricos originais e pelo seu som autêntico. Como organista e cravista, tocou nos mais famosos instrumentos históricos da Europa. Criou a sua primeira orquestra barroca em 1969 e em 1979 fundou a Amsterdam Baroque Orchestra, seguindo-se o Amsterdam Baroque Choir em 1992.
Como solista e maestro, atuou nas principais salas de concertos e festivais internacionais. Dirigiu as mais proeminentes orquestras mundiais, sendo também uma presença habitual nos concertos da Fundação Gulbenkian há mais de trinta anos.
Produziu um grande número de gravações, tendo em 2003 criado a sua própria etiqueta: a Antoine Marchand. Entre 1994 e 2004, dirigiu e gravou uma integral das Cantatas de J. S. Bach, um vasto trabalho pelo qual lhe foram atribuídos o Deutsche Schallplattenpreis – Echo Klassik, o prémio BBC 2008, o Prémio Hector Berlioz e o prémio Gramophone, tendo sido também nomeado para os Grammy.
Em 2000 foi-lhe atribuído um doutoramento honoris causa pela Universidade de Utrecht, em função do seu trabalho académico em torno das Cantatas e Paixões de J. S. Bach. Recebeu também o prémio Silver Phonograph e o VSCD Classical Music Award. Em 2006 foi distinguido com a Medalha Bach da Cidade de Leipzig. Desde 2005, ao longo de uma década, empreendeu um novo projeto de grande fôlego: a gravação da obra integral de Dietrich Buxtehude.
Ton Koopman é professor na Universidade de Leiden, Presidente da Sociedade Internacional Dieterich Buxtehude, Diretor Artístico do festival Itinéraire Baroque e Membro Honorário da Royal Academy of Music, em Londres.
Eduarda Melo, Soprano
Galardoada com o 2º prémio no Concurso Internacional de Canto de Toulouse, Eduarda Melo tem consolidado a sua carreira maioritariamente entre França e Portugal. Licenciou-se em Canto pela Escola Superior de Música e das Artes do Espetáculo do Porto e, depois da passagem pelo Estúdio de Ópera da Casa da Música, iniciou uma carreira internacional integrada no elenco do prestigiado CNIPAL, em Marselha. Desde então, tem vindo a interpretar um variado repertório de ópera que inclui, entre outros papéis: Rosina (O barbeiro de Sevilha) e Frasquita (Carmen), em Lille, Limoges, Caen, Reims e Dijon; Elvira (L’italiana in Algeri) e Stéphano (Romeo et Juliette) na Ópera de Marselha; Norina (Don Pasquale), Despina (Così fan tutte) e Corinna (Il viaggio a Reims) no Teatro de São Carlos; Musetta (La bohème) e Maria Luisa (La belle de Cadix de F. Lopez) no Festival de Saint-Céré; Vespina (L’infedeltà delusa de Haydn) na Ópera de Monte Carlo; Zemina (Die Feen de Wagner) no Théâtre du Châtelet. Participou também na estreia da ópera A Little Madness in the Spring, de A. Pinho Vargas, em Paint Me, de Luís Tinoco, e nas obras A Montanha, Rapaz de Bronze e Livro de Florbela, de Nuno Côrte-Real.
Colaborou com maestros como Jean-Claude Casadesus, M. Minkowski, A. Allemandi, M. André, L. Cummings, ou S. Ausbury, tendo interpretado em concerto o Requiem de Mozart, o Stabat Mater de Poulenc, o Requiem de Brahms, La Giuditta e L’Ippolito de F. A. de Almeida, e O King de Berio. Colabora regularmente com os grupos Ludovice Ensemble e Divino Sospiro.
Maarten Engeltjes, Contratenor
Começou a cantar aos quatro anos de idade. Reconhecendo o seu especial talento, em 1995 Sir David Wilcocks selecionou-o para cantar como solista as Coronation Anthems, de Händel, no Boy’s Choir Festival, em Haarlem, na Holanda. Estreou-se como contratenor aos dezasseis anos, tendo então interpretado as árias para contralto da Paixão segundo São Mateus de Bach. Em 2004 cantou, em concerto, com Michael Chance, duetos de Purcell e Blow. Em 2007 diplomou-se com distinção pelo Real Conservatório de Haia, onde estudou com Maria Acda, Manon Heijne, Michael Chance e Andreas Scholl. Ainda em 2007, apresentou no Concertgebouw de Amesterdão o seu primeiro CD (canções de Purcell, Dowland e Byrd). Muitas apresentações nacionais e internacionais se seguiram, tendo o contratenor holandês vindo a associar-se aos domínios da música barroca e contemporânea. Algumas das suas atuações mais recentes incluem: Tolomeo, em Giulio Cesare de Händel, com a Capella Cracoviensis; Bertarido, em Rodelinda de Händel, no Festival Via Stellæ, em Santiago de Compostela; L’Upupa de H. W. Henze, sob a direção de M. Stenz; Dresdner Requiem, de L. Auerbach, com a Staatskapelle Dresden e V. Jurowski; Magnificat de Bach, com a Filarmónica de Bergen e J. Mena; Christiano, em Rinaldo de Händel, na Ópera de Lausanne; Meraspe, em Artemisia de Cavalli, com La Venexiana; uma digressão europeia com Ton Koopman e os Amsterdam Baroque Soloists; e a Missa em Si menor de Bach, com a Akademie für Alte Musik Berlin e D. Reuss.
Marco Alves dos Santos, Tenor
Nasceu em Lisboa. Como bolseiro da Fundação Gulbenkian, licenciou-se em canto pela Guildhall School of Music and Drama, em Londres. Iniciou a sua carreira profissional em 2003. Apresentou-se como solista em Portugal, Espanha, França, Itália, Reino Unido e Alemanha, tendo interpretado vários papéis de opera e opereta: Tamino (A flauta mágica); Mr. Owen (Postcard from Morocco, de D. Argento); Gastone (La traviata); Tristan (Le Vin herbé, de F. Martin); Leandro (La Spinalba, de F. A. de Almeida); Orphée (La descente d’Orphée aux enfers, de Charpentier); Ernesto (Don Pasquale); Anthony (Sweeney Todd); Nathanael (Les contes d’Hoffmann); Duque de Mântua (Rigoletto); Prunier (La rondine); Kornelis (La princesse jaune, de Saint-Saëns); Pierre (The Wandering Scholar, de G. Holst); ou Ferrando (Così fan tutte). Em 2015/16 interpretou os papéis de Oddio (Armida, de Myslivecek), Malcolm (Macbeth), Yamadori (Madama Butterfly), D. Sancho (O Cavaleiro das Mãos Irresistíveis, de Ruy Coelho), Conde Barigoulle (Cendrillon, de P. Viardot), Conde Almaviva (O barbeiro de Sevilha), Berger (Oedipus Rex), bem o como o Evangelista nas Oratórias de Natal, de Páscoa e da Ascensão, de J. S. Bach, com a Orquestra Metropolitana, e tenor solista no Te Deum de Charpentier, com a Orquestra Gulbenkian. No âmbito do repertório sinfónico destacam-se ainda concertos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, o Remix Ensemble, as Orquestras do Algarve, das Beiras, Clássica de Espinho e do Norte, a Sinfónica Juvenil, o Divino Sospiro e o Ensemble MPMP.
Klaus Mertens, Baixo
Ao longo de mais de quatro décadas de carreira, incluindo a concretização de mais de 200 gravações, o baixo alemão Klaus Mertens afirmou-se no domínio da música antiga como sinónimo de uma “retórica barroca natural”, em relação aos repertórios e aos estilos nacionais. Neste domínio, cantou sob a direção de grandes nomes como N. Harnoncourt, M. Haselböck, N. McGegan, G. Leonhardt, P. Herreweghe, S. Kuijken, R. Jacobs, ou F. Brüggen. Entre outras realizações, gravou as grandes obras vocais de J. S. Bach, incluindo uma integral das cantatas do compositor alemão, com a Amsterdam Baroque Orchestra and Choir e o maestro Ton Koopman. Outro feito de relevo são as suas gravações dedicadas às obras de D. Buxtehude e G. P. Telemann. Além disso, aborda também repertório clássico e romântico, bem como obras contemporâneas. Colabora regularmente com grandes orquestras como a Filarmónica de Berlim, a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig, a Filarmónica de Dresden, a Orquestra do Concertgebouw de Amesterdão, a Filarmónica de Roterdão, a Orquestra do Tonhalle de Zurique, a Sinfónica de Jerusalém, a Sinfónica de Chicago, a Metropolitana de Tóquio, a Sinfónica de São Francisco, ou a Filarmónica de Munique. É um convidado regular de prestigiados festivais internacionais e um ativo intérprete de canção de câmara, estendendo-se o seu repertório desde Monteverdi até aos autores contemporâneos. Em reconhecimento do seu trabalho como intérprete de música barroca, foi-lhe atribuído, em 2016, o Prémio Georg Philipp Telemann de Magdeburgo.
Coro Gulbenkian
Fundado em 1964, o Coro Gulbenkian conta presentemente com uma formação sinfónica de cerca de cem cantores, podendo atuar também em grupos vocais mais reduzidos. Assim, apresenta-se tanto como grupo a cappella, interpretando a polifonia dos séculos XVI e XVII, como em colaboração com a Orquestra Gulbenkian ou com outros agrupamentos para a interpretação das grandes obras do repertório clássico, romântico ou contemporâneo. Na música do século XX tem apresentado, frequentemente em estreia absoluta, inúmeras obras contemporâneas de compositores portugueses e estrangeiros. Tem sido igualmente convidado pelas mais prestigiadas orquestras mundiais, entre as quais a Philharmonia Orchestra de Londres, a Freiburg Barockorchester, a Orquestra do Século XVIII, a Filarmónica de Berlim, a Sinfónica de Baden-Baden, a Sinfónica de Viena, a Orquestra do Concertgebouw de Amesterdão, a Orquestra Nacional de Lyon, a Orquestra de Paris, ou a Orquestra Juvenil Gustav Mahler. Foi dirigido por grandes figuras como Claudio Abbado, Colin Davis, Frans Brüggen, Franz Welser-Möst, Gerd Albrecht, Gustavo Dudamel, Jonathan Nott, Michael Gielen, Michael Tilson Thomas, Rafael Frübeck de Burgos, René Jacobs, Theodor Guschlbauer, ou Esa-Pekka Salonen, entre muitos outros.
O Coro Gulbenkian tem participado em importantes festivais internacionais, tais como: Festival Eurotop (Amesterdão), Festival Veneto (Pádua e Verona), City of London Festival, Hong Kong Arts Festival, Festival Internacional de Música de Macau, ou Festival d’Aix-en-Provence. Em 2015 participou, em Paris, no concerto comemorativo do Centenário do Genocídio Arménio, com a World Armenian Orchestra dirigida por Alain Altinoglu. A discografia do Coro Gulbenkian está representada nas editoras Philips, Archiv / Deutsche Grammophon, Erato, Cascavelle, Musifrance, FNAC-Music e Aria-Music, tendo ao longo dos anos registado um repertório diversificado, com particular incidência na música portuguesa dos séculos XVI a XX. Algumas destas gravações receberam prestigiados prémios internacionais.
Desde 1969, Michel Corboz é o Maestro Titular do Coro Gulbenkian. As funções de Maestro Adjunto e de Maestro Assistente são atualmente desempenhadas por Jorge Matta e Paulo Lourenço, respetivamente.
Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de mais de cinquenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de sessenta instrumentistas que pode ser pontualmente expandido de acordo com as exigências de cada programa de concerto. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório que se estende do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas tradicionais, nomeadamente a produção orquestral de Haydn, Mozart, Beethoven, Schubert, Mendelssohn ou Schumann, podem ser dadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório Gulbenkian, em Lisboa, em cujo âmbito tem tido ocasião de colaborar com alguns dos maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos em diversas localidades do país, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, por sua vez, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo até agora efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas.
No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. A partir da temporada 2018-2019, o maestro franco-suíço Lorenzo Viotti assumirá as funções de maestro titular da Orquestra Gulbenkian.
Fotos Jorge Carmona / Antena 2 RTP