A 23ª edição do Doc Lisboa arranca hoje e, até dia 26, propõe filmes das mais diversas geografias para ver na Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa e Cinema Ideal. Além das secções competitivas, o festival abre espaço a olhares sobre o mundo atual, mas também cruza os tempos como, por exemplo, com uma retrospetiva dedicada ao cineasta afro-americano William Greaves, um dos primeiros membros do Actor’s Studio e cuja obra transcendeu o próprio cinema para abarcar também os palcos do teatro e a música. Esta retrospetiva começa amanhã.
Hoje, pelas 21h00 (Cinema São Jorge) o filme de abertura é With Hasan In Gaza, de Kamal Aljafari.
“Num gesto de cinema direto ele pega em material filmado em 2001 e devolve-nos uma Gaza que não existe mais. Uma Gaza com conflitos, com tensões, mas também cheia de vitalidade”, explicou à Antena 2 Cíntia Gil, programadora do festival.
Três cassetes Mini DV que documentam a vida em Gaza em 2001 foram recentemente recuperadas. O que começou como uma busca por um antigo companheiro de prisão de 1989 transformou-se numa viagem do norte ao sul de Gaza com Hasan, um guia local. Uma reflexão cinematográfica sobre a memória, a perda e a passagem do tempo, registando uma Gaza antiga e vidas que talvez nunca mais se encontrem.
“Uma homenagem às pessoas, a tudo o que foi apagado e que recordei neste momento urgente da existência – ou não existência – palestiniana. É um filme sobre a catástrofe e a poesia que resiste” (Kamal Aljafari).

Videoheaven
Outro filme que a programadora também destacou, em palavras à Antena 2 é Videoheaven, de Alex Ross Perry (São Jorge, Sala 3, 18h00, repete dia 25, na mesma sala, às 21h00).
Ela mesma disse esta manhã na nossa emissão: “É um filme muito comovente sobre a cultura do videoclube. É um filme nostálgico, mas não só, sobre essa enorme cultura que parece que neste momento não existe mais. Mas existiu e foi muito importante nas nossas vidas”.
Centro sociocultural, meca do consumo e fonte de angústia existencial, o videoclube mudou a forma como interagimos com os filmes. Narrado por Maya Hawke e com imagens de centenas de fontes (de anúncios publicitários a filmes de grande sucesso), Videoheaven narra o impacto glorioso, confuso, inovador, às vezes sórdido, mas inegavelmente sísmico de uma indústria na cultura cinematográfica. Uma obra de paixão, que levou onze anos a fazer, reflete sobre as lojas de aluguer de VHS como espaços públicos onde tudo pode acontecer, de encontros românticos e situações embaraçosas ao início de belas amizades.