Mais de três dezenas de espaços e salas da cidade acolheram, ao longo deste percurso, centena e meia de artistas vindos de todos os continentes, representantes de diferentes gerações, estéticas e entendimentos da Música e do Som como forma de expressão e transformação pessoal e social profundas.
A edição de 2018 é, em múltiplos sentidos, uma nova viagem, com mais espaços para descobrir pelo centro da cidade, recheados de sonoridades singulares, e um formato que promove uma exploração ainda mais profunda.
Ao longo de dois dias são apresentados 25 espectáculos, divididos por várias salas, protagonizados por criadores portugueses, brasileiros, ingleses, italianos, alemães, finlandeses, eslovenos, lituanos, norte-americanos, iranianos e japoneses, dos 20 aos 80 anos de idade, do jazz ao rock às músicas electrónicas e a tudo o que se possa imaginar pelo caminho.
São dois dias que celebram a Música como aventura e descoberta, e o Barreiro como espelho de bravura, diversidade, criatividade e independência.
Programa
5 Outubro | 16h30
Edifício A4
O projeto Unearthing The Music desenvolve uma investigação que se propõe dar visibilidade às músicas experimentais criadas nos regimes não-democráticos europeus na segunda metade do séc. XX, com particular ênfase nos países situados para além da chamada ‘Cortina de Ferro’ no Leste Europeu. O projeto tem a autoria da OUT.RA – Associação Cultural, conta com parceiros formais na Letónia, Hungria, Roménia e Sérvia, e é financiado pelo Programa Europa Criativa da União Europeia.
instalação multimédia
Anton Nikkilä (Finlândia)
Literal Translations, a nova obra audiovisual que apresentará no Barreiro, é um filme-sem-filme, montada num sistema quadrafónico ‘vertical’ e ‘anti-imersivo’, cuja matéria-prima conceptual é a sua interpretação histórica do vanguardismo artístico soviético.
Concerto
Vladimir Tarasov (Rússia/Lituânia)
Nascido em Archangelsk (Rússia), mas de nacionalidade lituana, Vladimir Tarasov é uma das figuras-maiores do jazz para além da ‘Cortina de Ferro’; percussionista extraordinário, fez parte durante década e meia do superlativo GTC / The Ganelin Trio, com o qual, juntamente com Viatcheslav Ganelin e Vladimir Chekasin, ajudou a fazer a história do free jazz europeu construindo pontes fundamentais entre regimes, geografias e políticas.
Editou, em cerca de quatro décadas, mais de 100 discos, divididos entre o trio, orquestras, álbuns a solo e colaborações com figuras míticas ocidentais como Andrew Cyrille, Anthony Braxton ou o Rova Saxophone Quartet, bem como pares incontornáveis do leste europeu como Gyorgy Szabados ou o recentemente falecido Thomas Stanko.
Thinking of Khlebnikov, a peça para percussão solo que apresenta no Barreiro, é um diálogo imaginado entre Tarasov e o icónico poeta e dramaturgo Velimir Khlebnikov, ator central no movimento Futurista russo do início do séc. XX.
5 Outubro | 21h30
ADAO – Associação Desenvolvimento Artes Ofícios
Toda Matéria (Portugal)
Joana da Conceição (artista plástica e sonora que faz parte da história do OUT.FEST desde a sua 1ª edição e através das subsequentes atuações enquanto parte do duo Tropa Macaca) convidou, no início deste ano e como forma de celebrar a sua exposição individual Cores em Silêncio na Galeria Lehman + Silva, no Porto, várias cúmplices de diferentes disciplinas artísticas para um momento performativo singular, experiência que adaptou aos palcos, subsequentemente, para uma actuação na Galeria ZDB a propósito de um especial da Resident Advisor em Lisboa.
Para este concerto, Joana da Conceição, Maria Reis, Mariana Pita, Sara Graça, e Sara Zita Correia voltam a formar Toda Matéria. Esta roda de cinco promete avaliar os contornos de energia, examinar a influência dos elementos e descobrir vazios, bem como áreas de energia acelerada, em colisão ou estagnada, afim de curvarem o tempo e abrir o espaço no que será um espectáculo multidisciplinar que cruza dança, música, luz e pintura.
João Pais Filipe (Portugal)
Baterista, percussionista e escultor sonoro do Porto. O seu percurso enquanto músico tem sido caracterizado pela imersão numa amplitude de estilos e linguagens, em bandas como os Sektor 304, HHY & The Macumbas, Montanha Magnética, entre outros, ao mesmo tempo que mantém uma atividade regular no universo da música improvisada, tocando com nomes como os de Evan Parker, Carlos “Zíngaro” ou Rafael Toral.
Um dos tomos dos saudosos Telectu de Jorge Lima Barreto e Vítor Rua, que agora é repescado pela recentíssima Holuzam, selo nacional com sede nos soldados por detrás da Flur, que decidiram – para já – pegar em relíquias da música electrónica nacional da década de 1980.
Estes Telectu são Vítor Rua e António Duarte, amigo do duo icónico, e crucial arquivista do material artístico do conjunto, que estreou esta celebração do 35º aniversário de ‘Belzebu’ no Teatro Maria Matos há meses. Material quase bíblico na cronologia da exploração sonora e musical em Portugal a reatualizar-se ao vivo, para que a fonte não pare de jorrar.
Group A (Japão)
Duo feminino japonês transgressor de ortodoxias estilísticas, logísticas e económicas, condutoras de um minimalismo não-onda, caravana da imaginação, denotando lições e inspirações do Dada, arte performativa e demais campos de fronteira, confronto e síntese quer a nível visual, quer musical dos que aprendem por si atirando-se no informe. Formadas em 2012, estão há dois anos baseadas em Berlim onde são peça nuclear na Mannequin Records, e encontram-se actualmente a trabalhar no seu próximo disco e numa peça de teatro com o encenador e coreógrafo de Montréal, Dana Gingras.
@ Wataru Fukaya
Nídia (Portugal)
Psicadélica, pioneira, confiançuda, multicolor, impiedosa, ‘Nídia é Má, Nídia é Fudida’. Produtora de música electrónica completamente fora do baralho e a dar mais cartas que quase quem quer que seja no mundo hoje em dia, nasceu na Margem Sul e prosseguiu no fim da adolescência para Bordéus. Já gracejou as páginas de algumas das publicações mais importantes do mundo, que se curvaram perante o poderio em questão, mas no fundo o que fica é a música – e que maravilha ela é.
O seu tempo em França deu-lhe maior familiaridade com o zouk e o decalé, que, acrescidos à familiaridade que já tinha com batida, kuduro, tarraxo e demais vocábulos da grande Lisboa negra, e à sua imaginação tão fantasiosa quanto construtiva, deu um caminho daqueles bons. Súmula riquíssima e depurada de pop e de várias formas de música de dança comunitária, destiladas num novo e individualizado vocabulário pessoal, que, no fundo, é de todos. Sem medo. Ponto adicional de interesse é o facto de a sua atuação no OUT.FEST ser preparada ao longo de um mês em residência artística no Centro de Experimentação Artística do Vale da Amoreira – um espectáculo que é, portanto, uma estreia absoluta.
@ Marta Pina
6 Outubro | 16h00
Sede do F.C. Barreirense
Concertos
Opus Pistorum (Portugal)
Heterónimo da jovem promessa barreirense Hélder Menor aka Tiny Montgomery, que sendo roceiro e adorando os Felt (dizemos nós), fez um raio de uma construção pop dançável, cancionetista, de feira popular metafísica, onde todos os tipos de confronto, fontes e vocabulários estilísticos têm que se degladiar pela oportunidade de fazer parte destes objetos sonoros. Fontes bem simples e frugais mas com brio e acabamento. A pica aqui é feita de sonho e das insondáveis capacidades analíticas dos artesãos da Margem Sul. Parte do colectivo Linha Amarela, que começa, ao seu jeito pioneirista, a encontrar o seu tipo de lugar no estranho e anímico “panorama” da música independente nacional atual.
Império Pacífico (Portugal)
Duo de Luan Bellussi e Pedro Tavares, ligado essencialmente à música electrónica mas permanentemente aberto a todas as formas e meios cativantes de experimentação. Fazem no OUT.FEST uma das suas primeiras datas fora de Setúbal e Lisboa, num dos arranques mais interessantes da música independente portuguesa dos últimos anos. Depois de uma série de EPs digitais e físicos pela Alienação e Rotten Fresh, dois expoentes pertinentes da actividade da Grande Lisboa e subúrbios dos últimos anos, lançaram recentemente ‘Racing Team’, jogada representativa do seu movimento cada vez mais numa direcção inovadora das novas músicas de dança. Têm noções de estrutura, acabamento, narrativa, composição, pertinência pop, estranheza dialéctica, cruzando várias referências dos últimos 20 anos (Boards of Canada, Oneohtrix Point Never, James Ferraro, Mouse On Mars, mas tantas outras coisas). Gente com a cabeça a funcionar bem e rápido, mas com claras noções éticas e filosóficas do domínio da macronarrativa. Enfim, conversa cara para dizer que valem a pena.
Odete (Portugal)
Odete é uma Dj, produtora e artista plástica lisboeta numa missão de criação catártica e libertadora; igualmente à vontade nos meandros do techno industrial ou do noise, mas também do reggaeton e do dancefloor em geral, todo o seu trabalho se conecta intimamente com a sua história pessoal e a sua jornada enquanto mulher trans, deixando sonicamente patentes o contacto com fronteiras, emoções, equívocos e processos de empowerment. É uma das vozes mais activas e fortes da cada vez mais celebrada e saudavelmente heterogénea cena da música electrónica na capital.
Kerox (Portugal)
Kerox é António Queiroz, um dos produtores do portefólio da editora Xita Records, um entusiasmante selo lisboeta que tem dado cartas nos últimos anos com novos valores dos mais diversos campos estéticos.
Sarna, disco editado no início deste ano, é uma longa viagem em dois actos por uma electrónica transviada e cheia de ângulos inesperados, dançável de igual modo pelo corpo e pela cabeça.
6 Outubro | 16h30
Biblioteca Municipal do Barreiro
Concertos
Cândido Lima apresenta Oceanos (Portugal)
Compositor nascido em 1939 em Viana do Castelo, completamente fora do baralho mediaticamente digerível nas últimas décadas, que estudou com Xenakis no pico.
Rafael Toral Space Collective 3 plays Moon Field (Portugal / Itália)
Pioneiro da música exploratória em Portugal, do final dos anos 80 até hoje, e reiteradamente – e com o maior orgulho – repetente no OUT.FEST, Rafael Toral apresenta-se num trio lançado pela Room 40, etiqueta do tropa Lawrence English, que tem mantido a batalha acesa pelos cromos mais raros nos últimos anos largos.
Toral apresenta-se nesta formação num território entre um jazz modal atomizado, e as suas pesquisas acerca de como a eletricidade pura pode frasear num novo vernáculo, livre e solto como os passarinhos, entre acordes, silêncios e pausas. Um transporte para uma nova realidade onde tudo o que de natural, analógico e digital se funde, livremente.
Cada vez mais uma figura essencial das grandes evoluções da música electrónica mundial no último quarto de século, que neste ano viu a reedição do seu maravilhoso Wavefield, é com o maior orgulho que vemos as novas vistas que tem para nos mostrar – literalmente, uma vez que o concerto será acompanhado pela projecção dos maravilhosos desenhos de Rui Toscano que ilustram o disco Moon Field -, agora que virou o eremita mais produtivo da comunidade experimental portuguesa.
@ Nuno Martins
Ricardo Rocha (Portugal)
Nome incontornável do repertório da guitarra portuguesa e da composição contemporânea nacional. Agraciado já por duas vezes com o Prémio Carlos Paredes, assim como recipiente do Prémio Revelação Ribeiro da Fonte para Jovens Compositores e Troféu Amália Rodrigues para Melhor Guitarra Portuguesa, diz sempre ter distinguido e vivido “com muita disciplina os dois mundos: a guitarra e o mundo do fado, e depois poderia criar-se outro mundo paralelo ao do fado”. Ou como a editora Mbari propunha em 2010 pelo lançamento do seu segundo álbum Luminismo, apelando a entendê-lo para além da técnica fenomenal evidenciada, Ricardo Rocha “assemelha-se mais a um cirurgião, extraíndo o tumor ‘Fado’ de um instrumento que raramente conheceu vida própria, para além da inscrita nessa tradição de Lisboa”.
6 Outubro | 16h30
Concertos
Lea Bertucci (Estados Unidos)
Compositora e performer norte-americana emergente cujo trabalho se debruça sobre as relações entre os fenómenos de acústica e a ressonância biológica. Para além da sua técnica e prática instrumental em alto saxofone e clarinete baixo, as suas apresentações tendem a integrar difusão multi-canal nos sistemas de som, feedback electro-acústico, trabalho de colagem em fita, entre outros processos de experimentação em música e som, sem pruridos pelas expectativas musicais com que o público e a crítica a ela têm chegado.
@ Walter Wlodarczyk
Kaja Draksler (Eslovénia)
Nascida nos subúrbios de Ljubljana, Eslovénia, em 1987, Kaja Draksler tem formação superior em piano jazz (foi aluna de Vijay Iyer e Jason Moran) e em composição clássica, em Amesterdão, onde fixou residência e tem vindo a contribuir firmemente para a cena do jazz criativo e da música improvisada na Holanda.
Tem tocado regularmente um pouco por toda a Europa, em duo com a trompetista lusa Susana Santos Silva, com o seu próprio octeto (uma das formações mais notáveis e originais do actual panorama do jazz europeu) ou a solo, formato em que se apresenta neste festival.
@ Francesca Patella
Clothilde (Portugal)
Álias de Sofia Mestre, colorista, fotógrafa, desenhadora e não só, que se encontrou enquanto música na viragem para os 40. Trabalha a partir da herança de pós-minimalistas, improvisadoras e compositoras de mente aberta, como Pauline Oliveros, Maryanne Amacher, Daphne Oram, Eliane Radigue ou Delia Derbyshire, para criar a partir de bases electrónicas modulares – tecnologia feita pelo seu companheiro Zé, aka HOBO -, novas paisagens e realidades emocionais e estéticas.
Pelo facto de ter chegado relativamente tarde à criação musical, tem qualidades frontais punk que cruza com uma experiência de vida já assinalável, e é essa interseção, entre a clareza e fluidez do seu raciocínio e estruturação musicais, que a destaca da/os demais. Tudo o que está no seu disco de estreia Twitcher, lançado pela Labareda, tem o pulso vivo daqueles que querem sentir. Álbum que vale a pena ouvir, das mais entusiasmantes artistas lisboetas a desenvolver trabalho neste 2018.
6 Outubro | 17h30
Concertos
Espírito realmente curioso e arrojado, Jimi Tenor, cidadão finlandês, faz agora 53 anos. Está no nascimento da crucial Säkhö, que com amigos como Mika Vainio redesenhou o que seria o underground neo-futurista de Helsínquia. Anda nisto há muito, entre esse seu selo, a Kitty-Yo ou a Warp, e ajudou a derreter fronteiras de vocabulário musical e social.
Trabalha em canção ocidental pop, ritmos africanos, electrónica e acústica, canção e paisagem abstrata, mas no fundo fica a ideia que ele é um frontman de olhos postos no que pode ser. Trabalhou com Tony Allen (esse mesmo, o baterista de Fela Kuti) e variadíssimos outros, e já este ano edita um disco completamente pirata, Order of Nothingness, em que mistura sopros transcontinentais com polirritmias vindas de todos os cantos do globo. Um passarinho existencialista, com muitas faces, mas que dá a cara pelo que der e vier sempre em procura de uma coisa nova que lhe dê pica.
HHY & The Macumbas (Portugal)
Unidade sediada no Porto, reunida e liderada por Jonathan Uliel Saldanha (HHY), membro co-fundador do coletivo Soopa e músico que o Barreiro tem ainda fresco na memória após a sua inesquecível apresentação com o Coral TAB e Be Voice na Igreja de Santa Maria na edição de 2017. São das mais consistentes, fascinantes e únicas propostas na música nacional ao longo da última década. Música ritualista com o seu próprio conjunto de hábitos e referências, cruzando variadíssimas culturas ritmistas, fontes acústicas, eléctricas e electrónicas, onde basicamente vale tudo o que beneficie a hipnose coletiva – dos músicos e do público, que invariavelmente vira dançarino; seja em corpo ou em mente. A cada show vêm com uma ideia nova, seja um objecto, roupas, luzes, imagem, novas dicas de instrumentação. No seu elenco está um verdadeiro conjunto all-star de guerrilheiros nortenhos, que têm feito do Porto uma cidade com trincheiras artísticas e cívicas onde se pode ter fé. Gente que trabalha no campo a nível de composição, atuação, edição, promoção de eventos, desde o início deste século, e que se mantém, sempre a progredir. Para a frente, que é para onde interessa. Das grandes bandas de festa metafísica deste nosso país.
@ Mariana Vasconcelos
6 Outubro | 21h30
Concertos
Burnt Friedman é um nome histórico da música electrónica alemã e europeia; a sua carreira, que se aproxima já das quatro décadas, inclui colaborações com gente como David Sylvian, AtomTM ou o saudoso Jaki Liebezeit (baterista dos Can que se apresentou no festival há dois anos, poucos meses antes do seu falecimento), com o qual e durante 17 anos desenvolveu o projecto ‘Secret Rythms’, ainda hoje uma preciosidade absoluta, com o seu cruzamento da música eletrónica e da percussão orgânica num material sonoro alheio às fórmulas e referências de composição do Ocidente e de todo o Hemisfério Norte.
É precisamente essa longa colaboração com Jaki Liebezeit que primeiro é evocada no disco lançado no final de 2017 em duo com Mohammad Reza Mortazavi, mago iraniano da percussão que através do seu tombak (instrumento tradicional do Irão) desenvolve técnicas e trilhos que vão muito para além da tradição musical persa. YEK (nome dado ao projecto que une estes idiossincráticos criadores) é uma maravilha percussiva e simultaneamente ambient, na qual as fontes sonoras electrónicas e acústicas se completam e dissimulam em temas circulares e pequenas narrativas sónicas. Um trabalho de dois singulares mestres.
Lotic (Estados Unidos)
Dj e produtor J’Kerian Morgan de seu nome, crescido em Houston, Texas, onde fez estudos superiores em composição eletrónica e saxofone até se mudar para Berlim em 2012. Aí ajudou a nascer o influente coletivo Janus e afirmou-se como uma das vozes mais assertivas da frente avançada da club music europeia. O seu disco Hererocetera de 2015 na Tri Angle Records é um compêndio de eletrónica experimental vertendo melodias sintéticas espetrais em soluções de batidas niilistas mileniais. O seu longa duração de estreia Power foi editado em Julho, conceptualmente alicerçado na paixão do autor pelas marching bands do Texas e o livro Between The World And Me de Ta-Nehisi Coates.
@ Matt Lambert
Linn da Quebrada (Brasil)
Linna Pereira, mais conhecida como Linn da Quebrada, é uma actriz, cantora, compositora e ativista transexual, artista fundamental do Brasil e de São Paulo para o avanço artístico, humano e civilizacional na música brasileira no geral, e no funk em particular. Atravessa todas as barreiras cruciais a nível de género, classe, história, para que todos nós tenhamos menos medo e mais confiança naquilo que devemos fazer quando confrontamos. Em disco, fez o fantástico Pajubá, tudo pura produção e execução independente. Em palco, é absolutamente possuída pela fúria da verdade, pontuada com a classe e a serenidade natural de quem sabe absolutamente que o que está a fazer é precioso e deve ser bem tratado. Vem com toda a sua turma – Jup do Bairro na segunda voz, uma DJ, outro DJ, Domi na percussão, para show completo que tem feito explodir palcos por todo o Brasil e Europa. Um funk paulista não só sem medo do mundo, como absolutamente certo que vai na direcção que vale a pena. “Bicha, trans, preta e periférica. Nem ator, nem atriz, atroz. Performer e terrorista de género”. Puro fogo, totalmente necessário, de uma das artistas mais importantes a sair do Brasil este século, para um dos picos da nossa noite de sábado.
Fret aka Mick Harris (Reino Unido)
Lorde original dos blast beats como baterista nos Napalm Death, Extreme Noise Terror e Godflesh, com uma participação mítica também no trio Painkiller (junto a John Zorn e Bill Laswell), é porventura o seu trabalho com o pseudónimo Scorn que mais influenciou uma diversidade de criativos musicais a operar sob a égide transgressora do encontro entre a linhagem Industrial e a cultura Dub. Depois de um hiato de vários anos, está de regresso como Fret, proposta vencedora do escuro tecnóide como só ele aprimorou realizar, com o seu característico peso colossal de graves e insigne densidade textural.
6 Outubro | 02h30
Concertos / DJ sets
John T. Gast (Reino Unido)
Figura britânica vagamente misteriosa, inicialmente a surgir no horizonte como parte da milícia abstrata ligada aos Hype Williams e a Dean Blunt. Entretanto consta que tem estado por zonas litorais do sul nacional, entre ondas e terra, onde continua o seu trabalho de encriptação, iconografia de despiste e outras técnicas de desreferencialização (inventámos agora). Trabalha com várias fontes de gravação, músicos ao vivo que aparecem assim meio impromptu consoante os aliados que estão no terreno no tempo da actuação, e tornou-se importante também por fazer questão de ser tão vaporoso numa época obsessiva com vários tipos de processo de sobreposição. A cada vez que surge em gravações ou em palco, oferece visões onde o tempo e o local parecem sumir-se enquanto realidades claras, para tentar criar mundos e sensações paralelas. Cromo total, claro, e é por isso que faz parte do cardápio.
DJ Lycox (Portugal)
Prodígio do Portugal negro, atualmente a viver em Paris, é das figuras mais proeminentes da revolucionária movida da editora Príncipe. De todas as figuras provenientes da vida, cultura e expressão dessa recente portugalidade pancontinental, é dos mais talentosos do ponto de vista da pertinência e sensibilidade de ouro para uma grande melodia e para o poder pop que uma boa canção, mesmo que – quase sempre – instrumental pode ter. Por cima disso, é absolutamente diabólico a trabalhar as quebras rítmicas dos vários vocabulários em que manobra (estar em França deu-lhe informação disponível mais correntemente do que nos bairros de Lisboa e Margem Sul a nível de cultura globalista), rematando tudo com a sua própria visão de como calibrar as nossas tendências de compressão sonora da pop black norte-americana, mesmo que as raízes venham “do Congo”. Na sua última aparição nacional, na Galeria Zé dos Bois, mostrou o quão profícuo e magnético virou enquanto DJ, com sequências imparáveis de cores, ritmos e pura energia, que só não levou a um novo 25 de Abril porque não havia nem cravos nem AK’s na mão. Craque que encerra o OUT.FEST 2018 na mais alta das notas.
@Marta Pina