A 27 de Setembro, António Barros Veloso, um dos primeiros músicos portugueses de Jazz, cumpre 90 anos de idade. Em 2020 completa também 70 anos como pianista amador de jazz. Uma vida dedicada à Medicina, à Música, ao estudo da azulejaria e à história da ciência. Percurso poliédrico celebrado numa série de iniciativas a que a Antena 2 se associa.
27 Setembro
90º aniversário de Barros Veloso
Na Antena 2:
– Quinta Essência | 26 setembro 10h00 | 1 outubro 17h00 (repetição)
Entrevista a António José Barros Veloso, realizada por João Almeida, em 2016.
Uma conversa sobre o jazz, a medicina, a azulejaria, a astronomia…
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– Jazz a 2 | 28 setembro 21h00
Programa especial de João Moreira dos Santos dedicado a António Barros Veloso
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– Império dos Sentidos | 20 Dezembro 2021
No final das comemorações dos 90 anos do médico-músico, biógrafa e biografado conversam com Paulo Alves Guerra a propósito do livro António José de Barros Veloso – Uma Vida, Vários Mundos, da autoria de Margarida Bastos.
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Iniciativas durante 2020-21:
– Edição do disco Jazz Trintage, 1987 – Ao vivo no Hot Clube (Edição HCP) [Outubro 2020]- Série de 15 vídeos com testemunhos de músicos com os quais tocou nos últimos 70 anos, disponibilizados no Youtube, um por dia, do dia 14 até ao dia do aniversário:
1 – Bernardo Moreira (Binau – contrabaixo)
2 – Maria Viana (cantora)
3 – Nanã Sousa Dias (saxofonista)
4 – Henri Sousa (baterista)
5 – António Sousa (guitarrista)
7 – Carlos Azevedo (pianista)
8 – Filipe Melo (pianista)
9 – Marta Santos Silva Hugon (cantora)
10 – Bruno Santos (guitarrista)
11 – Paula Oliveira (cantora)
12 – Gonçalo Filipe de Sousa (harmonicista) e Cláudio Alves (guitarrista e cantor)
13 – Ricardo Toscano (saxofonista)
14 – Diogo Duque (trompetista)
15 – Inês Cunha (presidente do Hot Clube de Portugal)
– Documentário Barros Veloso – O Doutor do Jazz, realizado por João Moreira dos Santos e Fernando Mendes [a apresentar até ao final de 2020].
– Publicação da biografia ilustrada, da autoria de Margarida Bastos: António José de Barros Veloso – Uma Vida, Vários Mundos (ed. By the Book, 2021).
Barros Veloso é considerado um dos primeiros músicos portugueses de Jazz a filiar-se na linguagem do jazz moderno. Fê-lo através do cultivo do bebop, estilo que despontara na Nova Iorque do início dos anos 1940.
Pianista amador, profissionalmente dedicou-se à medicina interna. A sua dupla vertente de músico e médico valeu-lhe o cognome de Dr. Jazz, provavelmente cunhado por Luís Villas-Boas, com o qual desenvolveu uma longa amizade. Já Duarte Mendonça, futuro produtor do Cascais Jazz e Estoril Jazz, deu-lhe o cognome de Doc Monk.Nascido em Coimbra, a 27 de Setembro de 1930, cresceu no Caramulo, o que se deveu à doença da mãe, dirigindo o pai, médico de profissão, os serviços laboratoriais de um sanatório local.
Quando findavam os anos 1930, cruzou-se ali com Luís Possolo, então em convalescença de tuberculose. No gramofone daquele novo amigo, escutava atentamente os discos da orquestra de Glenn Miller. Tal bastou para instigar em Barros Veloso, então com oito anos, o gosto pelo swing, posteriormente aprofundado pela audição das orquestras de Tommy Dorsey e Artie Shaw e, muito especialmente, pela voz de Frank Sinatra.
Barros Veloso imitando um maestro dirigindo um coro, no Caramulo em 1949
[acervo Barros Veloso]
Em 1950, fez amizade, em idêntico contexto, com Duarte Mendonça, que o iniciou no bebop, através da música de Charlie Parker. Ampliou, assim, o contacto que já tivera em Coimbra, onde cursava medicina, com os discos de vários modernistas do Jazz, particularmente George Shearing, Dave Brubeck, Stan Getz e Oscar Peterson.
Interessou-se pelo piano por influência da mãe, uma exímia intérprete de Chopin e de Beethoven, e professora de piano. Na segunda metade dos anos 1940, ainda adolescente, formou um grupo musical com alguns amigos do Caramulo.
Como pianista da Orquestra Ligeira Academica, anos 50
Como cantor da Orquestra Ligeira Academica, anos 50
Na década seguinte, já em Coimbra, integrou a Orquestra Ligeira Académica, da qual faziam parte, entre outros, José Luís Tinoco e Bernardo Moreira. Foi numa deslocação a Lisboa com essa formação que, em 1953, contactou pela primeira vez com o Hot Clube de Portugal. Nessa ocasião, viu-se mesmo convidado por Luís Villas-Boas para tocar ao vivo no programa radiofónico Hot Club. Fê-lo juntamente com Bernardo Moreira, Luís Sangareau e dois músicos brasileiros de passagem pela capital: o trompetista Ary de Magalhães e o baterista Jadir. Essa mesma formação, mas sem Sangareau, actuou depois no Jardim da Manga, tendo protagonizado aquela que foi a primeira jam-session promovida em Coimbra.
Primeira Jam session em Coimbra, no Jardim da Manga, em 1953
Em Setembro de 1956, concluída a licenciatura, fixou definitivamente residência em Lisboa, cidade onde realizou o internato médico e veio a exercer a profissão. Passou então a poder tocar regularmente no Hot Clube. Alternando entre o contrabaixo e o piano, participou, assim, em inúmeras jam-sessions, juntando-se a músicos como José Luís Tinoco, Ivo Mayer e Paulo Gil. Nesse mesmo ano de 1956, a vinda para Lisboa do jovem saxofonista belga Jean-Pierre Gebler, com quem tocou inicialmente, trouxe-lhe o vício do jazz mais tradicional.
Barros Veloso com Ivo Mayer e José Luís Tinoco no Hot Club, anos 50
Nos anos 60 e 70, o serviço militar, cumprido em Angola, bem como os condicionalismos profissionais, afastaram-no temporariamente do jazz, mas na década seguinte regressou à música. Serviu-lhe de palco principal a Drogaria Ideal. Ali, tocava regularmente com Gualdino Barros, Nuno Gonçalves, António Vilas-Boas, Paulo Gil, Maria Viana e Alberto Coronel, cantor com o qual viria a gravar um disco.
Com Paulo Gil na Drogaria Ideal, anos 80Ainda nos anos 80, foi assistente musical da RTP, assessorando a gravação do Cascais Jazz e colaborando no programa Clube de Jazz, no âmbito do qual concebeu um documentário sobre Charlie Parker. Em 1988, participou como convidado no disco de estreia de Maria Viana, juntamente com Pedro Moreira, João Moreira e Bernardo Moreira, músicos com os quais construiu uma estreita relação e actuou em diversos contextos.
Com os irmãos Moreira e Nuno Ferreira no Hot Club, anos 90
A histórica ligação ao Hot Clube de Portugal ganhou nova expressão na década de noventa, período em que assumiu a presidência da mesa da Assembleia-Geral. Mais importante, passou a tocar regularmente no clube, sempre às terças-feiras, levando os músicos mais jovens à descoberta dos standards, isto é, dos temas do cancioneiro popular norte-americano e dos clássicos cunhados pelos músicos de Jazz.
Texto de João Moreira dos Santos
Texto de João Moreira dos Santos
(escreve segundo o anterior A.O.)
Barros Veloso, no seu Doutoramento Honoris Causa pela Universidade Nova de Lisboa, em 2018