A Antena 2 esteve na Womex 2021, a grande montra das músicas do mundo, do convívio das ideias e projetos que agitam o mundo da world music em conexão com outros géneros musicais como o jazz, a pop ou a música erudita. Uma feira que pode ser considerada símbolo do caráter universal da música e da sua capacidade para unir povos e culturas de todo o mundo.
Há mais de um quarto de século que a Womex se impõe como o mais importante evento – feira de negócios; conferências; ponto de encontro de artistas, produtores e promotores; concertos – na área das músicas do mundo, World Music na gíria global.
Depois de uma edição exclusivamente digital, a Womex pós-pandemia veio para o nosso país, há vários anos no horizonte dos organizadores. A cidade do Porto e as suas várias estruturas e instituições acolheram os diversos e numerosos eventos da Womex 2021 que se desenrolaram entre 28 e 30 de Outubro.
Quarta-feira, 27 de Outubro, foi o dia da acreditação e concerto de abertura, na Casa da Música, com um desfilar de vários grupos portugueses – Sopa de Pedra; Retimbrar; Seiva e Galandum Galundaina com os Pauliteiros de Miranda.
Stands montados, salas prontas, estúdios de rádio a postos. Assim arrancou a manhã de quinta-feira, 28 de Outubro, na Alfândega do Porto, onde uma vasta equipa da RTP – parceira media da Womex – preparou, gravou e emitiu conteúdos para diversos canais e plataformas: Antena 1, Antena 2, Antena 3, RDP África, RTP Palco. Em direto da Alfândega do Porto, foi emitida diariamente a rádio Womex, com emissões em direto para a Antena 1, 3 e RDP África. A RTP Palco transmitiu concertos em live stream a partir do palco Lusofónica, no Teatro Nacional São João, por onde passaram, entre outros, Vitorino, Lúcia de Carvalho, Ayom e Tanxugueiras.
1. Um só mundo, muitas realidades e desigualdades
Reconstruindo a nossa indústria desmoronada num mundo desmoronado
Plano de ação para uma indústria mais justa e inclusiva
particular, expondo as diferenças:
Jackson Allers (EUA/Líbano), deu conta de uma dinâmica
interessante no Líbano, após a maior explosão não atómica de sempre, em Agosto
2020. O apoio estatal praticamente ausente e as dificuldades extremas,
agudizadas pela pandemia, levaram a um êxodo de muitos artistas, mas também à
criação de redes que operam à margem da indústria. Allers referiu que o Líbano
produziu igual número de álbuns que o Egipto, país muito maior. Apesar das
dificuldades, a criatividade encontrou formas de conectar as pessoas em redes
informais, num ambiente florescente.
moderadora do debate. Nas suas palavras, a Índia sempre teve problemas no apoio
das artes, o que se faz sentir ainda mais em nichos e formas de arte menos representadas.
A Covid acelerou o processo de “desaparecimento” de muitos artistas e
profissionais, que abandonaram a atividade musical. Plataformas digitais
fizeram surgir outras manifestações, fenómeno que Sonya vê como um raio de luz.
da situação oposta vivida no Canadá, país onde vive há muito. No Canadá o apoio
estatal é muito relevante e as instituições adaptaram-se rapidamente à
realidade pandémica. Apesar das bolsas e apoio a festivais e outras
iniciativas, houve muitos artistas que cessaram a sua atividade.
realidade, tendo um relevante papel de serviço à comunidade, mas a normalidade
ainda não regressou a muitas zonas do planeta. Houve muita música escrita
durante a pandemia que os próximos tempos trarão à luz e darão a conhecer.
privilegiado dos presentes no painel, que participam num evento mundial, mas
pediu para não esquecer os não presentes. Propôs um olhar global e falou da
importância de ações coletivas globais e não apenas locais. A título
exemplificativo, falou do coletivo Cultura 360 Culturas
360°, um coletivo de 17
festivais de todos o mundo que organiza uma rede de apoio e digressão de
artistas desses países. A pandemia e o desmantelamento da indústria mundial
permitiram uma descentralização na forma de organizar festivais, que têm a
responsabilidade de encontrar formas de “empoderar” os artistas.
A mensagem final foi um apelo para
olhar mais além do local e explorar the power of going global,
nomeadamente através de estruturas transnacionais como a Cultura 360.
fragilidade da mobilidade
(País de Gales/Reino Unido); Marie Fol (França/Holanda); Jess White (África do
Sul) – partilharam perspetivas muito distintas acerca da mobilidade, consoante
o país onde vivem e trabalham.
todos os privilégios que os cidadãos europeus têm e onde a mobilidade é muito
fácil, apesar das dificuldades que surgiram com a pandemia. Marie trabalha na
On the move https://on-the-move.org/ ,
organização de apoio a artistas e profissionais da cultura criada em 2002 e que
dá informação sobre mobilidade, fundos, impostos, visas, direitos de artistas,
estatutos legais, para além de agregar informação sobre regras de
vacinação/quarentena nos diferentes países.
mobilidade. Avisou, no entanto, que esses fundos não aumentam e são apenas
canalizados para áreas diferentes, como a mobilidade digital, por exemplo. É
por isso essencial ser-se criterioso com a aplicação desses limitados fundos
europeus.
com a nova administração, que se mostrou bastante proativa, no sentido de
ajudar os artistas e profissionais da cultura. O dia 8 de Novembro será um dia
marcante para os EUA, com uma maior mobilidade pós pandemia, mas há muitas
entrelinhas nas medidas aplicadas. Pela primeira vez na história recente dos
EUA ficou mais fácil os artistas do Global South (termo largamente usado
na Womex para se referir à América Latina, África e países do Sul do continente
asiático, muitos considerados países em desenvolvimento) viajarem para os EUA.
Artistas europeus puderam fazê-lo graças a um critério de exceção cultural.
privilégio. Zélie Flach falou, porém, da nova realidade pós Brexit, à qual os
profissionais da cultura ainda se têm de adaptar e conhecer as novas regras e
regulamentações. Houve igualmente exceções culturais que permitiram a
mobilidade durante a pandemia, mas apenas na Escócia e Inglaterra e não no País
de Gales e Irlanda do Norte. A Covid foi então um extra layer, uma
camada adicional de dificuldade na mobilidade, que depende do país de origem do
artista. Para Zélie Flach, não basta conhecer as regras aplicadas, mas sim as
regras para cada caso específico, como por exemplo serem convidados por
organizações com financiamento governamental ou não.
continente e do seu país, onde apenas 30% da população está vacinada, ao
contrário dos 85% da população portuguesa. A heterogeneidade de medidas dos 54
países africanos não permite falar de uma “realidade africana”.
Johnson, o que Jess White considera um privilégio pois são aceites na Europa e
EUA ao contrário da vacina russa, por exemplo.
Todavia, devido aos critérios de vacinação, os jovens artistas de 20
anos não estão vacinados e estão por isso impedidos de ir ao estrangeiro.
O conferencista deu o exemplo de vários artistas que, individualmente, viajam
até Joanesburgo para serem imunizados com a vacina de toma única Janssen
(Johnson). Isso permite-lhes ter um certificado de vacinação que é aceite
mundialmente. Jess White sugeriu que os organizadores do Global North
ajudassem os artistas do Global South pagando essa despesa. Os custos de
testagem Covid são uma significativa camada adicional de custos administrativos
para quem organiza concertos e digressões. Se os artistas optam por sair, podem
ficar sem conseguir pagar a renda durante um mês.
sempre que possível para as deslocações, a organização em bloco de digressões,
uma rede transnacional que permita uma digressão que passe por diferentes
países/regiões e uma maior valorização da cultura por parte dos governos e que
isso se reflita nas políticas tomadas. Acima de tudo, tentar que o futuro seja
melhor do que a situação que existia pré pandemia, evitando os mesmos modos de
tomada de decisão.
de Espanha
do projeto “Fala minha irmã”
pós descolonização
Bahule e Sidónio Givandás para falar do projeto “Fala minha irmã”. www.falaminhairma.org
primeiro Festival Nacional de Cultura em Moçambique. Cada uma das províncias
escolheu o seu representante para o festival, que fez uma digressão para dar a
conhecer as danças e músicas tradicionais das diferentes regiões moçambicanas.
para moçambicanos”, ponto de partida do Instituto do Filme de Moçambique, o
jovem realizador José Cardoso acompanhou o primeiro festival, registando a
música, dança e ambiente de cada um dos participantes/representantes. Assim
surgiu, em 1979/1980, o documentário “Canta meu irmão, ajuda-me a cantar”,
filme considerado revolucionário.
pesquisa à cultura contemporânea, mantendo a ideia de contar histórias de
moçambicanos, por moçambicanos, para moçambicanos. Referiu que a música é
habitualmente criada por homens, por isso a sua abordagem é feita no feminino,
para “celebrar a voz criativa das mulheres moçambicanas através do filme”. O
seu documentário é composto por várias partes, filmadas por equipas distintas a
quem foi dada formação, mantendo o espírito do filme original que está na base
do projeto. Sidónio Givandás, moçambicano radicado no Reino Unido, é
responsável pela distribuição do “Fala minha irmã”. Do site, destacaram a dança
Xigubu, feita por jovens raparigas que se apropriaram de um ritual guerreiro
exclusivamente masculino e que, graças à sua persistência e atitude, conseguiram
alcançar fama nacional.
moçambicana que cresceu num meio urbano, ouvindo música na rádio. Fascinada
pela cultura visual e musical brasileira, decidiu ir viver para o Brasil. Este
desenraizamento acordou a sua vontade de descobrir a música tradicional do seu
país natal. Bahule notou que o Brasil trata a sua cultura negra africana como
um tesouro a preservar e isso deu-lhe outra perspetiva sobre Moçambique e sobre
si própria. Foi graças a esta troca de países que Lenna Bahule se reapropriou
das suas raízes através da voz – línguas, sonoridades, ritmos, referências
culturais etc. Nas suas palavras, “estar no Brasil foi passado, presente e
futuro” e agora tenta “manter o fogo da sua ancestralidade” em si e na música
que faz.
de cooperação de digressão ibérica
Cunha – juntou-se o espanhol Cruz Gorostegi. Os três falaram da situação
portuguesa e espanhola e como os governos/ministérios da cultura dos dois
países têm as costas voltadas.
ibéricos, referiu sentir um ambiente mais acolhedor em Espanha, incluindo os
media, do que em Portugal, onde nota menos recetividade para a música
espanhola. Defensora de um mercado cultural ibérico, Ana Paulo defende que a promoção
da cultura é, acima de tudo, uma responsabilidade dos governos.
primeira fase, em que o artista não é conhecido, é necessário apoio do estado e
de organizações que o possam ajudar a promover o seu trabalho. Numa segunda
fase o artista já garante a venda de bilhetes que permite a organização e
realização de uma digressão, sem serem necessário apoios extra.
significa sustentabilidade via bilheteira e não algum tipo de compromisso na
qualidade musical. Como conseguir chegar a essa segunda fase? Ana Paulo fala em
boa energia e amor colocado naquilo que se faz. António Cunha refere a
originalidade do projeto, que o torne distintivo. Os promotores devem tentar
apoiar os artistas mais interessantes para o seu mercado, acrescenta.
media, que ainda têm um papel relevante para os divulgar. Aparecer na
televisão, por exemplo, traz uma grande visibilidade, mesmo em época de
plataformas digitais. António Cunha afirmou que a qualidade e impacto do
jornalismo ligado à música e cultura diminuiu bastante e as pessoas já não
seguem o que pessoa X ou Y recomenda. Plataformas como Spotify ou YouTube
ganham relevância para a promoção dos músicos.
política para a criação de uma confederação cultural ibérica. Apesar de tudo, a
relação Espanha/Portugal está melhor agora do que no passado, remataram.
de sustentabilidade ecológica e financeira
atual das digressões ecológicas
A caminho de uma maior mobilidade?
sustentabilidade ecológica nas digressões foi o assunto discutido por um painel
formado por quatro mulheres – Gwendolenn Sharp (França), Maria Clara
Espinel (Colômbia), Naïssam Jalal (França/Síria) e Martyna van Nieuwland
(Polónia).
pandemia, como tornar as digressões mais sustentáveis na sua pegada ecológica?
concertos e digressões canceladas por problemas associados a alterações
climáticas. Os confinamentos e a consequente mudança para plataformas digitais
não corresponderam a uma vantagem ecológica, uma vez que os servidores estão
algures e têm um enorme consumo energético.
como exemplos de práticas sustentáveis a organização de pequenas digressões
entre países vizinhos, com o transporte feito por via ferroviária. Praga,
Bucareste, Berlim, Viena, Ostrava foram algumas das cidades que receberam concertos
de músicos que puderam circular desta forma na Europa central.
polaca no último ano e meio, foi a criação de residências artísticas, que
permitem aos artistas passar uma semana ou mais num determinado local. As
residências amplificam o impacto artístico e humano da presença de artistas
internacionais, que trabalham localmente com comunidades. Martyna apelou a um
maior entendimento e coordenação entre promotores, de forma a optimizar a
presença destes artistas nas diferentes regiões.
proibido transportar instrumentos musicais na linha ferroviária. Na sua
opinião, a SNCF (companhia ferroviária francesa) visa apenas o lucro e não
facilita esta prática sustentável. Está a ser feita uma campanha junto do
Ministério da Cultura francês para sensibilizar e permitir o transporte de
instrumentos musicais por comboio.
concertos exclusivos, o que impede os músicos de tocar em locais próximos num
menor espaço de tempo e apelou a uma mudança de atitude. Abordou também a
questão do tempo – da digressão ou das residências artísticas. No seu caso
particular, viveu 3 anos no Egipto e vai passar um mês à Índia, mas tem
consciência de que esta não é uma situação ao alcance de todos e que significa
uma escolha difícil de tomar.
distinta, a da Colômbia, onde não há rede ferroviária e onde as distâncias são
grandes. Referiu também a escassa consciência ecológica, num país mais
preocupado com a sobrevivência do que com questões ambientais e onde os
ativistas são perseguidos, ameaçados ou mortos. A sustentabilidade ecológica na
América Latina passa, então, pelos artistas, que têm a dupla função de
sensibilizar organizadores e promotores culturais para uma prática mais verde,
evitando plásticos descartáveis, etc. e por uma educação ecológica, feita
durante os concertos e digressões. Falou ainda do seu trabalho com pequenas
comunidades locais, no Norte do país, em Santa Marta.
cachets, quando festivais de jazz pagam metade do seu orçamento a um só artista
norte-americano, ficando a outra metade distribuída por muitos outros
agrupamentos. Pediu para não se privilegiar uns outsiders em detrimento
de outros e alertou que se deve apoiar artistas locais sem descurar a relação
com os de fora.
colaboração numa lógica coletiva.
das artes
Funding/Financing – – WOMEX,
para muitos a melhor conferência desta edição da Womex.
moderou um debate onde participaram o alemão Philip Küppers, do Instituto
Goethe no Senegal, e a libanesa Rima Mismar, do Fundo Árabe para as Artes e
Cultura.
financiamento e das suas diferentes dimensões.
inicialmente no setor privado e agora como representante do setor público
(Instituto Goethe), definiu sustentabilidade como um equilíbrio entre o
financiamento público e privado. Para o obter é necessário diálogo, equilíbrio
e tempo – um ou dois anos no mínimo para se desenvolver um projeto.
criativas da cultura, mas há uma desconexão entre quem pede apoio e os fundos
disponíveis, desenhados por pessoas que não pensam para quem são dirigidos.
Também afirmou que é fácil dar formação e criar um sector, mas que não se pode
dar formação para a criação de arte. Se o produto final não for bom, foi feito
um investimento que não criou interesse ou mais valia.
Líbano, sustentabilidade é poder continuar (carry on), já que a
continuidade no trabalho e nas iniciativas traz um impacto positivo. Isso
implica um espírito crítico, que questiona continuamente a pertinência de um
projeto. O dinheiro tem de ser aplicado com critérios que correspondam a uma
certa visão e estratégia. Na opinião de Rima Mismar, a diversificação dos
investimentos e do financiamento é essencial. Quando o financiamento é apenas
estatal não há pressão nem exigência e há uma grande dependência do governo.
noutras indústrias. O impacto da cultura não pode ser contabilizado em números,
que não levam em consideração o impacto emocional e social, cujo lastro a longo
prazo é muito relevante.
detrimento de financiamento (resourcing vs funding). Falou em diversos
canais de recursos (streams of resources) e que quantos mais diferentes
tipos de doadores coexistirem, melhor, já que se complementam.
requisitos mínimos:
– de tipos de financiamento, de mecanismos e de agentes (players).
Monopólios não são saudáveis e fundações independentes têm agilidade que
grandes instituições não possuem
– ser possível aceder a informação essencial – exemplo é site On the move On the Move (on-the-move.org), que ajuda na
mobilidade e facilita complexos processos logísticos e administrativos
do financiamento
dos que pagam
– um ecossistema que se adapta às mudanças (ex. pandemia)
conhecer os potenciais financiadores – quem são, quais as suas motivações,
porque querem financiar a cultura. Conhecer o doador, estabelecer uma relação
de escuta, confiança e respeito é essencial para que se torne um parceiro e não
apenas um financiador de um projeto. Ouafa reitera que é precisa perceber de
onde vem o dinheiro, para se poder saber o que pedir dele. Afirmou que a
filantropia independente é mais ágil, rápida e simples que instituições ligadas
ao estado, mais pesadas e lentas.
ser feito por profissionais dedicados a 100% a esta atividade e que conhecem o
seu funcionamento, sendo que os artistas não costumam ser os melhores advogados
de si próprios.
passa pelas plataformas digitais e redes sociais
digital?
economia controlada pelas plataformas de streaming?
DJ Marfox (Portugal) e Luna Olavarria Gallegos (EUA/Cuba) foram os quatro
participantes da conferência em torno das plataformas digitais.
pela plataforma SoundCloud, referiu sentir dificuldade em ver a sua música bem
categorizada. Música urbana de raiz africana, é muitas vezes etiquetada como
música do mundo, o que considera redutor. As redes sociais alteraram a forma de
divulgar e partilhar música – já não passa de mão em mão, uma simples notificação
no SoundCloud veio facilitar e acelerar o processo. Na sua perspetiva, deve
haver um uso regrado das redes sociais e não deixar o aparente sucesso de
milhares de cliques numa música subir à cabeça.
é a que se obtém com a internet desligada. A sua fonte de rendimento continua a
ser os concertos presenciais e não as plataformas digitais. A músicos mais
novos aconselha-os a reivindicar o seu lugar, em vez de estarem sempre a tentar
adaptar-se às diferentes plataformas em constante mudança. Defende o controlo
sobre a própria vida e arte, com equilíbrio entre a vida pessoal e profissional
nas redes sociais.
Cuba. Em 2016 tentou ajudar artistas independentes, que fazem música
considerada hostil pela administração política norte-americana. No entanto
deixou cair o projeto em 2019 por dois motivos. Por um lado, os artistas
ficaram demasiado permeáveis a influências do que ouviram – depois de estarem
fechados tanto tempo, descobrir a internet e tudo o que tem para oferecer foi
esmagador. Por outro lado, não era um sistema democrático no acesso à
tecnologia. O acesso básico à internet ainda não é uma realidade em Cuba, onde
o embargo norte-americano se faz sentir muito. Luna sugeriu a consulta ao site Belly of the Beast (bellyofthebeastcuba.com) , um documentário “underground”
sobre o impacto do embargo na vida de Cuba.
algoritmo? Longe dos centros tecnológicos e fora de uma comunidade como a que o
DJ Marfox encontrou na Grande Lisboa, os músicos cubanos “sem voz” continuam
sem ela. Para se ter sucesso em redes como o Instagram, é preciso ter
determinado comportamento nas publicações. O algoritmo não dá oportunidades
iguais a artistas do Global South e do Global North.
– the ethical music streaming co-op , uma plataforma digital de stream de música, gerida e
controlada pelos membros que nela participam, numa lógica mais equitativa e
justa que as plataformas dos gigantes tecnológicos.
da indústria da música é FAIR (justo)
o modelo de negócio da indústria musical
reuniu Andrew Dubber (Nova Zelândia/Suécia), Christine Merkel (Alemanha) e
Keith Nurse (Reino Unido), incidiu sobre a noção de comércio justo na área da
música nas plataformas digitais.
justo” revela, à partida, a falta de justiça do comércio e este deveria ser o
primeiro problema a abordar. As grandes plataformas digitais visam o lucro para
os seus acionistas, perpetuando uma lógica já existente. Referiu que a subscrição de plataformas como o Spotify
têm diferentes valores consoante os países. Por essa razão, os artistas recebem
menos dinheiro se a sua música tiver o mesmo número de cliques feitos no
Paquistão (onde a subscrição custa menos de 2 dólares) ou nos EUA (com
subscrição a 9 dólares).
a indústria da música entra em competição com muitos outros criadores de
conteúdos presentes em plataformas como o Tik Tok ou nos E-Sports. Na
área da música, estão a começar os diálogos com as grandes corporações
tecnológicas, mas é preciso coordenação do meio musical, para que haja um
impacto e alteração de modelo de negócio para o futuro e não se tomem apenas
ações isoladas e pontuais.
seu trabalho mais acessível. Data e metadata são essenciais para
que o trabalho dos artistas surja nos motores de pesquisa, tornando-os
visíveis. É a metodologia de organização da informação (data) que permite que a
Europa pague melhor aos artistas que os EUA, por exemplo.
Accessible
Interactive
Reusable
Christine Merkel, da UNESCO, defende uma maior regulação das plataformas
digitais. Andrew Dubber gostaria que a indústria ficasse mais acessível e justa
para todos e Keith Nurse não quer deixar ninguém para trás, mas deixa o alerta
– os países em desenvolvimento devem tomar controlo do seu futuro, não se devem
deixar ficar para trás.