O romancista, poeta, ensaísta e dramaturgo grego Theodor Kallifatides, um dos mais conceituados escritores da Suécia, esteve em Lisboa, na cidade do céu azul.
Nos estúdios da Antena 2, esteve à conversa com Luís Caetano tendo como ponto de partida o seu último livro, Outra Vida para Viver.
Theodor Kallifatides em entrevista
a Luís Caetano
em A Ronda da Noite
de 5 de Julho de 2022
Para ouvir, clicar aqui.
Depois de anos a escrever em sueco, Theodor Kallifatides volta à sua língua natal, à sua voz natural para um relato autobiográfico, poético e melancólico, mas também esperançoso.
A minha primeira língua é um coração que bate, a segunda [o sueco] um pensamento. A primeira vinha-me das entranhas, a segunda do cérebro.
O problema estava como conciliá-las (…) grego e sueco correm por canais diferentes
[além disso,] o pretérito imperfeito que não existe em sueco.
Após 55 anos, Theodor Kallifatides regressa de “um país sem pretérito imperfeito” nem “natal”, para a terra que o viu nascer há 84 anos.
Do choque destas duas realidades, de “ritmos diferentes”, cria Outra Vida Para Viver, entre duas línguas – “e cada língua tem a sua escrita”, um livro que se equilibra entre países que são quase opostos.
Theodor Kallifatides nasceu na aldeia de Molaoi, em Laconia, na Grécia, em 1938. O seu pai Dimitrios Kallifatides, era professor originário de Pontus e a sua mãe Antonia Kyriazakou, de Molaoi. Quando criança, aos 5 anos, e durante a invasão pela Alemanha nazi, foi obrigado a presenciar na sua localidade a execução por fuzilamento de um concidadão grego por um capitão fascista. Esta vivência marcante faz com que o pequeno Theodor agarre num lápis e papel e escreva o seu primeiro escrito.
Em 1946, a sua família e ele se mudaram para Atenas, onde terminou o ensino médio e estudou na escola teatral de Karolos Koun.
Tinha 26 anos quando a Grécia caiu nas mãos do poder militar e foi instaurada a ditadura; sem perspetivas de futuro, decide mudar-se para a Suécia. Durante seus primeiros anos neste país, encontrou muitas dificuldades e trabalhou em vários empregos.
Depois aprender sueco, tão bem que começou a escrever e a publicar os seus primeiros livros na língua adoptiva, publicou seus primeiros livros suecos, que foram muito bem recebidos. Desde então, publicou 40 livros em sueco, dezoito dos quais também estão disponíveis em grego.
Entre 1969 e 1972, ensinou Filosofia na Universidade de Estocolmo, e foi diretor de uma revista literária, a Bonniers Litterära Magasin.
A partir de 1976 passou a viver exclusivamente da escrita, quer dos seus livros, quer de traduções e da colaboração com jornais e revistas.
Recebeu vários prémios.
Entre os seus títulos de fição, ensaio, autobiografia e autofição, estão Mães e Filhos ou O Cerco de Troia.
Outra Vida Para Viver
Ed. Quetzal
«Depois dos setenta e cinco anos, já quase ninguém escreve», disse-lhe um amigo. Aos setenta e sete, lutando contra a ameaça do «bloqueio de escritor», Theodor Kallifatides toma a difícil decisão de vender o estúdio onde escrevia em Estocolmo e onde trabalhou durante décadas – reforma-se. Incapaz de escrever, mas sobretudo incapaz de não escrever, decide ir para a Grécia natal, na esperança de redescobrir o prazer da escrita na sua língua perdida.Neste livro de memórias, Kallifatides tenta estabelecer um nexo entre a sua vida e a sua obra, ambas intensas, além de responder à eterna questão sobre como aceitar o peso da idade e o envelhecimento. Ao mesmo tempo, reflete sobre assuntos preocupantes para a Europa contemporânea – desde a intolerância religiosa e os preconceitos contra imigrantes até às crises das cidades – e manifesta tristeza pelo estado de destruição da sua amada Grécia.
Pela mão de um grande escritor, esta é uma meditação eloquente, elegante e motivadora sobre a escrita e o lugar de um autor num mundo em mudança.
Pela mão de um grande escritor, esta é uma meditação eloquente, elegante e motivadora sobre a escrita e o lugar de um autor num mundo em mudança.
“Um livro realmente belo, sobre a verdadeira morte e o renascimento espiritual, um milagre contado com a tranquila naturalidade com que se contaria uma história comum e trivial.”
Mario Vargas Llosa
“Uma autobiografia poética e filosófica. Uma leitura inquietante e provocadora.”
World Literature Today
“Outra Vida para Viver é um deleite e uma aula magistral sobre existência, pertença, desenraizamento, desamparo metafísico e liberdade.”
Las Librerías Recomiendan
“Kallifatides oferece ao leitor uma visão política pessoal do ser humano.”
Siri Hustvedt
Fotos Jorge Carmona / Antena 2