O Festival Todos regressa a Santa Clara para mais uma Caminhada de Culturas.
Depois das primeiras edições nas freguesias centrais da capital, nesta edição, como já tinha acontecido na anterior, o Todos ocupa espaços no limite norte, alongando-se pelo Jardim do Campo das Amoreiras, pela Igreja de São Bartolomeu da Charneca, no Largo Defensores da República, pela Quinta Alegre | Lugar de Cultura, por um recriado Cine Estrela, por um percurso que vai do Campo Pequeno às Galinheiras, e pela Escola Maria da Luz Deus Ramos nas Galinheiras.
A Antena 2 visitou estes lugares de Santa Clara e traz, pelo microfone da repórter Isabel Meira, quatro reportagens com pessoas que vivem e trabalham no território:
– Na Vila Borges, nas Galinheiras, onde mora Fumilayo Fonseca, 38 anos, natural de São Tomé e Príncipe. Foi atleta olímpica de marcha, chegou a desfilar com a bandeira do país nos jogos de Atenas, mas uma lesão afastou-a do atletismo. Chegou a Portugal há pouco mais de uma década e desde então é uma das moradoras das vilas das Galinheiras, núcleos habitacionais feitos de pequenas casas, muitas sem condições de habitabilidade.
A rua é a sala de estar, onde as famílias se juntam e partilham histórias como a da morte anunciada de Fumilayo.
Emitida em antena dia 01/09. Para ouvir, clicar aqui.- Na Associação de Moradores do PER 11, entre a Ameixoeira e a Alta de Lisboa. O PER 11 é um dos bairros criado há cerca de 30 anos pelo Plano Especial de Realojamento, programa de habitação pública que se propôs acabar com as barracas e outras construções precárias nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
Mauro Wha era uma criança quando se mudou com os avós e com os tios para os apartamentos do PER 11 e nunca mais se esqueceu da sensação de vazio e do silêncio que tomou conta das ruas. Criou a Associação de Moradores do PER 11, para que as crianças e jovens do bairro não se sintam perdidas.
Emitida em antena dia 02/09. Para ouvir, clicar aqui.
– Na Escola Básica Maria da Luz de Deus Ramos, nas Galinheiras. É uma das escolas de Lisboa que, na avaliação do LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil, está em mau ou péssimo estado de conservação. Os planos de demolição e reconstrução do edifício estão previstos para o próximo ano, altura em que a escola passará a funcionar em contentores.
Habituada a ultrapassar os obstáculos provocados pela degradação do edifício, a professora Fátima Cunha procurar convocar a comunidade para um diálogo permanente com a escola. O absentismo dos alunos é um dos desafios, que se agravou durante a pandemia de Covid-19. Também Susana Paiva, auxiliar de acção educativa e ex-aluna, sente que a ideia de família é um dos pilares que sustenta o funcionamento da escola no dia-a-dia.
Emitida em antena dia 08/09. Para ouvir, clicar aqui.
– Na Capela das Galinheiras, a única igreja de Lisboa que tem uma estátua de Nossa Senhora de África, segundo o pároco Alcindo Armas. Aos domingos, pelas onze da noite, chegam a estar cerca de 400 pessoas na missa dedicada à comunidade africana das Galinheiras, da Ameixoeira e de outros bairros da periferia de Lisboa. O Padre Alcindo conhece bem as dificuldades de muitas famílias e procurar ajudar a comunidade nas várias fases da vida.
Emitida em antena dia 09/09. Para ouvir, clicar aqui.
Se a maioria das atividades e eventos do Festival está concentrado no fim de semana de 10 e 11 de setembro, o Todos contudo inicia a caminhada deste ano no primeiro dia do mês, com um singular percurso entre o Campo Pequeno até ao Largo das Galinheiras, onde chega a 10 de setembro.
O projeto Lisboa Crossing, que já passou por Veneza (2012), Paris (2013), Nova Iorque e Tóquio (2015), atravessa algumas ruas e grandes vias da cidade, num percurso de 7 quilómetros, desafiando-nos a pensar sobre a importância de estarmos acompanhados e a rever algumas ideias sobre o que é o espaço público, o espaço privado e o espaço íntimo.
É também um modo de cativar pessoas de outras zonas da cidade para que se juntem nesta celebração intercultural que tem vindo a mudar o rosto de Lisboa, revelando-o na sua heterogeneidade e riqueza.
Além deste projeto, acontecem muitas outras iniciativas: espetáculos e performances de Música, de Teatro, de Dança e Novo circo, projeção de Cinema, exposições de Fotografia e Instalações, Culinárias do Mundo com Sabores de Felicidade e Mesas de Paz, Workshops e Oficinas várias, Visitas guiadas a lugares de Memórias e Paisagens, e muita ação de rua.
Alguns nomes e eventos se destacam no Todos deste ano: os teatros comunitários de Nuno Nunes com “Condomínio”, e Joana Brito Silva com “Não Existem Cabeças Bicudas”, o coreógrafo brasileiro Gustavo Ciríaco com um workshop e respetivo espetáculo, Catarina Requeijo com o seu “Não Há Duas Sem Três”, Miguel Jesus com contadores de contos, o espetáculo de música e dança flamenca pelo bailarino luso-espanhol João Lara, o encenador e diretor artístico Júlio Martin com um teatro com migrantes e refugiados, Pedro Salvador e o espetáculo no carrossel, Selma Uamusse com Orquestra Todos, Thomas Guérineau, o Coletivo La Persiana e Banda Venancio y los Jóvenes de Antaño com o seu espetáculo circense “Violeta”, a fotógrafa Valentina Vannicola, o Amoukanama Circus com um workshop de acrobacia com performance.
Não Existem Cabeças Bicudas
Uns com Outros
Violeta
Fotógrafa Valentina Vannicola em residência artística em Santa Clara
Projeto Ulisses – Desembarque em Santa Clara (Ensaios e Exposição)
Fotos Jorge Carmona / Antena 2
Em Todos e com Todos, celebra-se a arte – a música, o teatro, a dança, o circo, o cinema, a fotografia, etc. -, despertam-se emoções e reerguem-se memórias, através de projetos artísticos que ao questionar o racismo, a violência, a xenofobia e os preconceitos, promovem os direitos fundamentais dos seres humanos de todas as geografias, e simultaneamente convocam a festa e a diversão de todos com todos. Viaje pelo Mundo sem sair de Lisboa!
Para mais informações consultar o site de TODOS 2022.