A Antena 2 continua a assinalar os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões (1524-1580), desta vez com a transmissão da sua peça Auto de El-Rei Seleuco, uma comédia em forma de auto, trabalhada ao estilo vicentino. Numa adaptação para a rádio em 1972, esta peça escrita em 1545 e que faz uma sátira à nobreza, conta com um prestigiado elenco de atores, como Arnaldo Assis Pacheco, Carmen Dolores e João Perry, entre outros.
500 anos | Luís Vaz de Camões | Auto de El-Rei Seleuco
19 Novembro | 19h00
Produção de Alexandra Louro Almeida
Transmitido originalmente a 7 de junho de 1972
no programa Teatro das Comédias.
Gravação oriunda do Arquivo Histórico da Radiodifusão Portuguesa
Auto de El-Rei Seleuco
Texto de Luís Vaz de Camões
Adaptação para a rádio de Eduardo Jacques
Direção de atores de Álvaro Benamor
Assistência técnica de Fernando Pires
Realização de Horácio Gonzaga
Personagens e Intérpretes
El-Rei Seleuco: Assis Pacheco
Rainha: Carmen Dolores
Príncipe Antióco: Mário Pereira
Pagem Leocádio: João Perry
Fraulata: Maria Dulce
1º físico: Luís Filipe
2º físico: Rui Furtado
1º criado: Carlos Rosa
2º criado: Mário Sargedas
Sinopse
Escrito em 1545, o Auto de El-Rei Seleuco faz uma sátira à nobreza. A trama baseia-se na intenção do rei Seleuco de desposar a mulher que o seu filho, o príncipe Antióco, secretamente ama. Para evitar uma crise dinástica e, dado que a rainha Estratonice também ama Antióco, o velho rei cede heroicamente a sua jovem mulher ao filho.
Ler texto integral, em Teatro de Autores Portugueses do séc. XVI
(Menu: Luís de Camões / Obras: Auto del Rei Seleuco)
Luís Vaz de Camões é uma das maiores figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental. A sua obra mais conhecida é a epopeia Os Lusíadas. Crê-se que terá nascido em Lisboa em 1524, assinalando-se em 2024 os 500 anos sobre a data do seu nascimento. Luís de Camões terá falecido a 10 de junho de 1579 ou 1580, em Lisboa. Logo após a morte a sua obra lírica foi reunida na coletânea Rimas, tendo deixado também três obras de teatro cómico: o Auto dos Enfatriões ou Anfitriões, o Auto d’El Rei Seleuco e a Comédia de Filodemo. O amor é o tema base presente nestas três peças.
O Auto de El-Rei Seleuco é uma comédia em forma de auto, trabalhada ao estilo vicentino. A atribuição deste auto a Camões é controversa. A sua existência não era conhecida até 1654, quando apareceu publicada na primeira parte das Rimas na edição de Craesbeeck, que não dá detalhes sobre a sua origem e teve poucos cuidados na edição do texto.
O Auto del-Rey Seleuco, consta do próprio conteúdo ter sido representado em Lisboa, em casa do cavaleiro-fidalgo Estácio da Fonseca, reposteiro de D. João III, a quem deveu a nomeação de almoxarife dos Paços da Alcáçova e recebedor dos dinheiros das aposentadorias da corte. Como logo na apresentação do auto, O Mordomo ou Dono da Casa aluda à festival noite que está decorrendo, e, em que o auto põe remate o mesmo Dono da Casa, agora já designado por seu nome – Estácio da Fonseca – Martim Chinchorro convide os assistentes a festejar os noivos, julgou Storck ser finalidade da festa a celebração, não da noite de Natal, como pensou Teófilo Braga, mas dum noivado. E os noivos seriam chamados, ele Mendes e ela Gonçalves, precisamente os dois patronímicos daquela cantiga – Com vossos olhos Gonçalves… / Este meu coração Mendes – que mais tem suscitado a lucubrações os exegetas camonianos.(…)
O local da representação deste auto não permite estabelecer a sua data, senão na época do esplendor palaciano da vida do Poeta. Alude-se nela aos Apóstolos, designação porque eram conhecidos os Jesuítas, vindos para Portugal em 1540. Camões julga-se ter vindo de Coimbra para Lisboa em 1542, iniciando então a sua frequentação da Corte e dos salões aristocráticos. Será assim este termo a quo, devendo fixar-se o termo ad quem no ano da sua partida para a Índia, senão no da partida para Ceuta. Prazo largo, de vagos limites, mas… não há possibilidade de mais encurtar nem melhor precisar.
O Auto del-Rey Seleuco teatraliza o episódio, contado por Plutarco, sobre a paixão de Antíoco por Estratonice, mulher del-Rei Seleuco, seu pai. Conta o biógrafo que, como o príncipe declarasse um dia que o seu mal era um desejo culposo, mas que não imaginava maneira de lhe pôr termo, e, sob color de doença que lhe provocava fastio, se privasse da alimentação e dos cuidados que carecia, o médico Erasístrato em breve reconheceu que era o amor a causa do mal. Para se certificar de qual era o objecto de tal sentimento, ficou por todo um dia junto do príncipe, nele observando quando qualquer pessoa lhe entrava no quarto, a reacção da sua alma através dos movimentos e afecções do seu corpo. Quando o visitava Estratonice, só ou acompanhada do rei, logo no príncipe, calmo em todas as outras ocasiões, se tornavam sensíveis todos os efeitos descritos por Safo: o suspender da fala, o sombrear dos olhos, o rebentar do suor, o alterar do pulso, enfim, a angústia, o tremor, a palidez da alma subjugada. A conclusão que disso o médico tirou confirmava-se a circunstância de que só o amor destes podia assim provocar a tortura silenciosa ante o impossível e o inconfessável.(…)
in obras completas
por Prof. Hernani Cidade
Fonte: TEC