Concerto gravado pela RTP/Antena 2
no Museu do Dinheiro, em Lisboa,
a 22 de novembro de 2024
Uma produção de Os Músicos do Tejo
em parceria com Antena 2/RTP e Museu do Dinheiro
com o apoio da DGArtes
Os Músicos do Tejo
Direção de Marcos Magalhães e Marta Araújo
Cantores solistas:
Sandra Medeiros (soprano), Johanna Falkinger (soprano), Marco Alves dos Santos (tenor) e Lucía Caihuela (mezzo-soprano)
Nuno Mendes (concertino), Denys Stetsenko, Lígia Vareiro e Luís Santos, violinos I
Raquel Cravino, Álvaro Pinto e Sara Llano, violinos II
Paul Wakabayashi e João Abreu, violas
Hugo Paiva, violoncelo
Nicolas André, fagote
José Carvalho, oboé I
Sofia Rosa, oboé II
Paulo Guerreiro, trompa I
Catarina Martins, trompa II
Jean Michel Forest, contrabaixo
Marta Araújo, cravo
Marcos Magalhães, cravo e direção musical
Programa
Árias Inéditas de Francisco António de Almeida
Novas descobertas da música barroca portuguesa
Francisco António de Almeida (1702-1755)
– Sinfonia em Fá Maior – Allegro assai – Stacatto – Andante e piano sempre – Allegro
[Sandra Medeiros (soprano)]
“T´accheta e non voler” – Allegro. Ária de Il Vaticinio di Pallade e di Mercurio (1731)
“Se già m’ingannasti” (Argante) – A tempo giusto. Ária extraída de Il Vaticinio
[Marco Alves do Santos (tenor)]
“Frà tant’alme” (Ulisse) – Tempo giusto. Ária extraída de Il Vaticinio
”Impalidisce, e trema” (Ulisse) – Allegro. Ária extraída de Il Vaticinio
[Johanna Falkinger (soprano)]
“Mio bel tesoro” (Bradamante, esposa de Ruggero) – Ária extraída de Gl’incanti D’alcina (1730)
“Se vincitor tu sei” (Calipso) – A tempo giusto. Ária extraída de Il Vaticinio
[Lucía Caihuela (mezzo-soprano)]
“Ogni fronda” (Calipso) – Andante. Ária extraída de Il Vaticinio
“Crude furie dispietate” (Alcina) – Furioso. Ária extraída de Gl’incanti
– Introduzione da oratória La Giuditta – Andante sostenuto – Grave – Allegro
[Marco Alves do Santos (tenor)]
“Ne prieghi rimproveri e pianti” (Ruggero) – Andantino-Allegro-Andantino-Allegro. Ária extraída de Gl’incanti
[Sandra Medeiros (soprano)]
“Rasserena quel dolore” – A tempo giusto. Ária extraída de Gl’incanti
[Lucía Caihuela (mezzo-soprano)]
“Nave agitata” (Calipso) – Allegro. Ária extraída de Il Vaticinio
[Johanna Falkinger (soprano)]
“Só ben, ch’è penoso” (Pallade) – Amoroso. Ária extraída de Il Vaticinio
Esta nova gravação de obras de Francisco António de Almeida (1702-1755) insere-se na continuidade do trabalho de visitação à obra deste compositor genial por Os Músicos do Tejo. Graças ao seu empenho estão disponíveis gravações em CD de duas obras primas deste autor português, como La Spinalba e Il Trionfo d’Amore, muito bem acolhidos pela crítica especializada nacional e internacional.
Com esta nova gravação em som e imagem Os Músicos do Tejo pretendem continuar na senda da redescoberta e difusão do património musical português por músicos portugueses.
As árias constantes do programa são os únicos números musicais das obras Gl’incanti D’alcina (estreada em 1730) e Il Vaticinio di Pallade e di Mercurio (estreada em 1731) de Francisco António de Almeida que chegaram até nós graças a um manuscrito guardado na Biblioteca Nacional.
Letras das Árias Inéditas de Francisco António de Almeida
(original em italiano e tradução em português)
[Sandra Medeiros (soprano)]
“T´accheta e non voler”
Ária de Il Vaticinio di Pallade e di Mercurio (1731). p. (14)
T’accheta; e non voler
Con barbaro pensier
Opporti a quel divieto,
Che il ciel già decretó.
Descansa; e não queiras
Com bárbaro pensamento
Opôr-te ao interdito,
Que o céu já decretou,
Chi i Numi non contende,
Da i cenni lor’ dipende
E saggio incontra lieto
Ciò, che fuggir non puó.
Quem não contraria os Numes
Dos seus sinais assim depende
E, sábio, encontra alegre,
Aquilo de que não pode fugir.
“Se già m’ingannasti”
Ária extraída de Il Vaticinio di Pallade e di Mercurio 1730-1731. p. 26
Se già m’ingannasti,
Infida, ti basti;
Del vario tuo affetto
A un cor semplicetto
Riserba il favor.
Se já me enganaste,
Traiçoeira, contenta-te;
Do teu variado afecto
A um coração singelo
Reserva o favor.
Non vuò, che ristretto
Affanni il tuo petto,
Soffrendo a dispetto
D’un solo l’ardor.
Não quero, que apertado
Afligas teu peito,
Sofrendo apesar disso
De um único o ardor.
[Marco Alves do Santos (tenor)]
“Frà tant’alme” (Ulisse), Tempo giusto.
Ária extraída de Il Vaticinio di Pallade e di Mercurio 1730-1731. p. (18)
Frà tant’alme, che incatena
Cò i suoi lacci il Dio bendato,
Ne di me più sventurato,
Ne si vidde il più fedel.
D’entre tantas almas, que acorrenta,
Com seus laços o Deus vendado,
Nenhuma é mais infeliz que eu,
Nem se viu mais fiel.
Chi provó mai la mia pena?
Se adorando un bel sembiante;
Corrisposto, e amato amante,
Di lasciarlo a mio dispetto
Son dal fato ormai costretto
Con decreto si crudel.
Quem sentiu já a minha dor?
Se adorando um belo semblante;
Correspondido, e amado amante,
Deixá-lo, contra minha vontade
Sou hoje forçado pelo destino
Com decreto tão cruel.
”Impalidisce, e trema” (Ulisse), para tenor – Allegro (com Cor di caccie)
Ária extraída de Il Vaticinio di Pallade e di Mercurio 1730-1731. p. (5)
Impallidisce, e trema
Quel passagier, che il mare
Solcando vá, se appare
Picciola nube in Cielo;
Ancorche il mar non frema
Ne copra denso velo
Dell’ aria il bel seren.
Empalideça e trema
O passageiro, que o mar
Vai sulcando, se desponta
Pequena nuvem no céu;
Mesmo que o mar não trema
Nem denso véu cubra
Do ar a serenidade.
Così nel mar d’amore
Penar si vede un core:
Se di sospetto un ombra
Gli toglie ogni riposo,
E un tal timor l’ingombra,
Che della fè dubbioso
Se’n vive del suo ben.
Assim no mar do amor
Em penas se vê um peito:
Quando a sombra de uma suspeição
Lhe impede todo o repouso,
E um tal temor o invade
Que de fé inseguro
Vive face ao seu bem.
[Johanna Falkinger (soprano)]
“Mio bel tesoro” (Bradamante, esposa de Ruggero)
Ária extraída de Gl’incanti D’alcina (1730). p. 29
Mio bel tesoro
Dove ti celi?
Se non ti sveli,
Io già mi moro.
Dove t’ascondi,
Che non rispondi
Al mio dolor?
Meu belo tesouro
Onde te encobres?
Se não te desvelas,
Eu já me morro.
Onde te escondes,
Que não respondes
À minha dor?
Stelle spietate,
Purch’il mio bene
Non m’involiate,
Tutt’altre pene
In mè provate,
Eccovi il cor.
Estrelas impiedosas,
Já que o meu bem
Não me invejais (?),
Toda a sorte de penas
Experimentai em mim,
Eis o meu peito.
“Se vincitor tu sei” (Calipso), para soprano – A tempo giusto
Ária extraída de Il Vaticinio di Pallade e di Mercurio 1730-1731. p. (10)
Se vincitor tu sei
Del Padre, oh Dio,
Il fato rio
M’opprimerá;
E s’ei trionferá,
Col caro sposo
Il mio riposo
Io perderó.
Se és vencedor
Do Pai, oh Deus,
O cruel destino
Me oprimerá;
E se ele triunfar,
Com o caro esposo
O meu repouso
Eu perderei.
In così duro affanno
Misera, e che farò?
Ah si: languir dovrò:
Mà se i lamenti miei
Non placheranno
L’irata sorte,
Con la mia morte
La placherò.
Em tais inquietudes,
Miserável, que farei?
Ah sim: terei de sofrer:
Mas se os meus lamentos
Não apaziguarem
O destino furioso,
Com a minha morte
O acalmarei.
[Lucía Caihuela (mezzo-soprano)]
“Ogni fronda” (Calipso), para soprano – Andante
Ária extraída de Il Vaticinio di Pallade e di Mercurio 1730-1731. p. (4)
Ogni fronda,
Ch’è mossa dal vento,
Ogni accento,
Che l’eco risponda,
Mi sgomenta con freddo timor.
Todo o ramo,
Movido pelo vento,
Todo o acento,
Que o eco responda,
Assusta-me com gélido temor.
E se tento con lieto consiglio
Di dar bando al sognato periglio
Più m’opprime l’interno dolor.
E se eu tentar com bons conselhos
Afastar o perigo sonhado
Mais me oprime a dor interior.
“Crude furie dispietate” (Alcina?, Rainha da ilha) – Furioso
Ária extraída de Gl’incanti D’alcina (1730). p. 25
Crude Furie dispietate,
O’ sorgete a vendicarmi,
O’ finite di stracciarmi
Questo sen.
Cruéis Fúrias impiedosas,
Ou levantem-se para me vingar,
Ou parem de me rasgar
Este peito.
E se manca a voi furore
Per punir quel traditore;
Nel mio cor vi satollate
Di velen.
E se vos falta furor
Para punir aquele traidor;
No meu coração saciai-vos
De veneno.
[Marco Alves do Santos (tenor)]
“Ne prieghi rimproveri e pianti” (Ruggero, amando Alcina)
Andantino-Allegro-Andantino-Allegro.
Ária extraída de Gl’incanti D’Alcina (1730). p. 23
Nè prieghi, rimproveri, e pianti,
Nè sdegni, furori, ed incanti
Potran di pensiero cangiarmi.
Nem rezas, repreensões, e lamentos,
Nem desdéns, fúrias e encantamentos
Poderão mudar-me os pensamentos.
Son rotti quei teneri lacci.
Non giova, che smani, e minacci;
Ch’in van crederesti arrestarmi.
Estão quebrados estes ternos laços,
Não adiantam ânsias e ameaças;
Pois em vão imaginarias prender-me.
[Sandra Medeiros (soprano)]
“Rasserena quel dolore”, para soprano – A tempo giusto.
Ária extraída de Gl’incanti D’alcina (27 Dezembro 1730). p. 21
Rasserena
Quel dolore;
La catena
Del suo core
L’Idol tuo non scioglierà.
Apazigua
Essa dor;
A corrente
Do seu coração
O teu ídolo não dissolverá.
Sarà lieve
Ritrosia,
Sarà breve
Gelosia,
Che più amante il renderà.
Será ligeira
Relutância,
Será breve
Ciúme,
Que mais amante o tornará.
[Lucía Caihuela (mezzo-soprano)]
“Nave agitata” (Calipso) – Allegro
Ária extraída de Il Vaticinio di Pallade e di Mercurio 1730-1731. p. (16)
Nave agitata
Fra i turbini, e fra l’onde
Spezzarsi sú le sponde
Ogn’or temendo vá;
Mà disperar non sá
Salvarsi in porto.
Navio agitado,
Entre os remoinhos, e as ondas
Despedaçar-se nas margens,
Toda a hora temendo vai;
Mas sem perder a esperança
De se salvar no porto.
Cosí turbata
Io sento l’alma in seno;
Che dal timor vien meno;
Mà poscia un nuovo ardir
Scacciandone il martir
Le dà conforto.
Assim aflita,
Sinto a alma no peito;
Que do medo já me esqueço;
Mas possa uma nova ousadia
Afastando o martírio
Dar-lhe conforto.
[Johanna Falkinger (soprano)]
“Só ben, ch’è penoso” (Pallade) – Amoroso
Ária extraída de Il Vaticinio di Pallade e di Mercurio 1730-1731. p. (7)
Só ben, ch’è penoso
Lasciar, chi si adora,
Convien pur tal’ora,
Che il laccio amoroso
Si sciolga dal cor.
Bem sei que é penoso,
Deixar quem se adora,
Convém nessa hora,
Que o laço amoroso,
Se desprenda do coração.
Chi giace languente
D’amor trà i legami,
Non cura i dettami,
Lo stimol non sente
Di gloria, d’onor.
Quem jaz languente
Entre as correntes do amor,
Desdenha os ditames,
O estímulo não sente
Da glória, da honra.
Os Músicos do Tejo | Fundado em 2005 e dirigido por Marcos Magalhães e Marta Araújo, o agrupamento tem desenvolvido um percurso assinalável no panorama europeu da música antiga. Festejaram em 2023 os 18 anos de existência num evento filosófico-musical com a presença de Peter Sloterdijk. O seu trabalho tem sido orientado por dois eixos complementares: dar a conhecer obras do património musical português inéditas ou pouco acessíveis, mas também desenvolver projetos inovadores e transdisciplinares, com artistas atuais, com vista a refletir criativamente sobre a música e o seu papel na sociedade de hoje.
No seu já extenso percurso, produziram cinco óperas em parceria com o CCB (La Spinalba, Il Trionfo d’ Amore, Lo Frate ´Nnamorato, Le Carnaval et la Folie, e Paride ed Elena), apresentaram-se em inúmeros concertos em Portugal e no estrangeiro (em locais tão variados como Lisboa, Porto, Évora, Mafra, Castelo Branco, Vigo, Brest, Paris, Goa, Sastmala, Madrid e Praga, entre outros) e gravaram seis CD’s: Sementes do Fado (2008), As Árias de Luísa Todi (2010), La Spinalba (2011), Il Trionfo d’Amore (2015), From Baroque to Fado (2017) e Il Mondo della Luna (2020).
Desde 2011, têm gravado exclusivamente para a editora Naxos que assegura uma distribuição mundial. Todos os CD’s tiveram excelentes críticas no âmbito nacional (Público, Diário de Notícias, Expresso, JL, entre outros) e internacional (Diapason, Classica, Opera, Songlines, Ritmo, Scherzo, Forum Opera, Klassik, Musicweb, Merker, entre outros). Il Trionfo d’Amore foi nomeado na Bestenliste do prestigiado Preis der Deustschen Schallplattenkritik. Com Il Mondo della Luna foram nomeados para o melhor álbum clássico nos Prémios Play da música portuguesa 2021.
Em Portugal, participaram em diversos eventos, tais como o Festival Internacional de Música de Póvoa de Varzim, CisterMúsica em Alcobaça, Natal em Lisboa/Egeac, Festival das Artes de Coimbra, Música nos Claustros/Eborae Musica, Ciclo Ciência na Música – Tejo no Thalia, entre outros. Em 2017, Os Músicos do Tejo obtiveram grande sucesso no Festival de Herne, num concerto com a participação de Joana Seara e João Fernandes que teve transmissão direta na rádio clássica alemã WDR3.
No âmbito do reavivar do património musical português, apresentaram, em 2018, a ópera ao gosto portuguez As Guerras de Alecrim e Mangerona (Cistermúsica e Artemrede) e a oratória La Giuditta de F. A. Almeida na TMSR.
São de destacar, também, programas de concerto fora dos modelos convencionais que cruzam a música com o teatro, história e literatura como sejam Veneza e os Limites da Moralidade com a atriz Luísa Cruz (Dias da Música, Évora e Teatro Nacional São João, no Porto) e To Play or Not to Play (Teatro Thalia, Castelo Branco, Dias da Música), um programa em torno de Shakespeare, com João Fernandes como cantor e ator, registado em DVD.
Projetos recentes, de assinalar, são a apresentação nos Festival de Almagro em Espanha, Festival de Marvão, As Filhas do Fogo no Festival Porto/Post/Doc e Guerras do Alecrim e Mangerona no CCB, Lo Fratte Nnamorato no Musikkitalo em Helsínquia, Finlândia, Paixão Segundo São João de J. S. Bach na Aula Magna, As Quatro Estações de Vivaldi – concertos EGEAC/Natal e Gala lírica em Madrid.
Os Músicos do Tejo têm o apoio da Direção Geral das Artes, da Câmara Municipal de Lisboa e da Biblioteca Nacional de Portugal.