Libreto: Felice Romani sobre Prévôt
Estreia: (Milão) Scala, 14 de Fevereiro 1829
PersonagensAlaide, a Estrangeira
Barão de Valdeburgo
Senhor de Montelino
Isoletta, filha de Montelino
Arturo, Conde de Ravenstel
Superior dos Hospitalares
Osburgo, confidente de Arturo
Antecedentes"O Pirata" foi levada a cena pela primeira vez no Scala em Outubro de 1827. Esta era a primeira ópera de Bellini com libreto de Felice Romani, e o sucesso foi tal que, do dia para a noite, não apenas o compositor passou a ser considerado uma referência fundamental da ópera em Itália, como a dupla Bellini-Romani se tornou um exemplo de excelência da relação música-libreto. Porém o segundo trabalho que fizeram juntos obteve um sucesso bastante inferior. Estamos a falar de "La Straniera", levada a cena, também no Scala, dois anos mais tarde – mais precisamente a 14 de Fevereiro 1829.
É sempre difícil encontrar-se motivos para o sucesso ou insucesso duma ópera. No caso de "La Straniera" temos uma referência que talvez possa ser levada em consideração: a sua reposição um ano mais tarde no mesmo teatro mas com um elenco diferente. Para essa nova estreia o papel de Arturo foi interpretado pelo famoso Rubini, um dos cantores predilectos de Bellini, para o qual o compositor se deu ao trabalho de subir a tassitura. Essa forçosa mudança de tonalidade, ligeiramente mais aguda, provavelmente mais brilhante, talvez tenha tido alguma influência no impacto desta segunda apresentação de "La Straniera" – que obteve um sucesso memorável.
1º ActoA acção passa-se nos arredores do Castelo de Montolino na Bretanha por volta de 1300. Arturo, Conde de Ravenstal, noivo de Isoletta, apaixonou-se pela estrangeira Alaide. Os aldeões tinham-lhe pedido para averiguar se Alaide era uma bruxa. Arturo ignora que Alaide é de facto Agnese, irmã do Barão de Valdeburgo, que já fora esposa do Rei de França. O soberano vira-se forçado a separar-se de Agnese para voltar para Isemberga, a sua primeira mulher. Fora então que Alaide, aliás Agnese, se vira desterrada para a Bretanha. E é pelos campos da Bretanha que agora deambula coberta por um espesso véu.
A ópera inicia-se durante os preparativos para o casamento de Isoletta que revela ao Barão de Valdeburgo, que Arturo está apaixonado pela misteriosa estrangeira.
Ao tentar descobrir a sua verdadeira identidade, Arturo chega à cabana de Alaide. Ouve-se ao longe a voz da estrangeira entoando uma balada. A voz vai-se aproximando e Alaide aparece. Ao ver Arturo confessa que também o ama, mas diz-lhe que não pode voltar procurá-la.
Na cena seguinte Arturo diz a Valdeburgo que já não ama Isoletta. Quando Alaide aparece Valdeburgo reconhece-a e vai cumprimentá-la – o que levanta as suspeitas de Arturo que julga que o Barão é amante da estrangeira. Confrontado com essa suspeita, Valdeburgo desmente-a, e tenta sossegar o amigo.
A cena seguinte passa-se num lugar remoto perto do lago onde fica a cabana de Alaide. Arturo está entregue a pensamentos sombrios. No meio duma tempestade observa Valdeburgo despedir-se afectuosamente da estrangeira. Quando Alaide regressa ao interior da cabana Arturo ataca e fere o Barão que cai para o interior das águas. Desperta pelo ruído da luta, Alaide volta a sair. Quando diz a Arturo que Valdeburgo é seu irmão, Arturo corre para o lago para tentar salvá-lo, enquanto a estrangeira grita por socorro.
Chegam alguns homens de armas que, ao ver Alaide coberta de sangue, e segurando a espada ensanguentada de Arturo, acusam-na de assassinato.
O acto termina quando a tempestade atinge o clímax enquanto Alaide, desesperada, grita ter sido a causa da morte do seu amante.
2º ActoO 2º acto inicia-se com o julgamento de Alaide pelo tribunal dos Cavaleiros Hospitalares. Ela nega ter morto Valdeburgo, mas recusa-se a retirar o véu ou a revelar ao Superior da Ordem a sua verdadeira identidade. Arturo entra e confessa a sua culpa. O tribunal prepara-se para condenar os dois quando, para surpresa de todos, Valdeburgo aparece. Ele inocenta Alaide e Arturo, e convida a estrangeira a acompanhá-lo. Então Alaide revela o rosto ao Superior da Ordem, que a reconhece e a autoriza a sair com o Barão.
Na floresta perto da cabana de Alaide, Arturo espera a estrangeira para que ela lhe perdoe pelas suas suspeitas. Valdeburgo sai da cabana e, ao ver Arturo, aconselha-o a não procurar a irmã já que ela está ainda muito magoada. O Barão acaba por consentir que Arturo a veja, com uma condição: que ele se case com Isoletta.
Entretanto, no castelo, Isoletta lamenta o seu infortúnio – lamento que se transforma em alegria quando é informada que Arturo irá casar-se com ela.
A última cena passa-se à entrada da capela dos Cavaleiros Hospitalares onde se deverá realizar a cerimónia. Arturo espera à porta enquanto os Cavaleiros entram. Alaide observa tudo escondida. Arturo está relutante, e Valdeburgo tenta convencê-lo a cumprir o prometido. Quando Arturo reconhece Alaide, confessa abertamente o seu amor. Perante essa confissão, Isoletta diz renunciar ao casamento com um homem que claramente não a ama. Então a estrangeira decide intervir, e conduz ela própria Isoletta e Arturo para o interior da igreja. Pouco depois sai recriminando-se por aquele casamento a tornar tão infeliz. Enquanto se ouvem os coros que celebram a união, Arturo corre para fora da capela, desesperado, seguido pelos Cavaleiros. Então o Superior da Ordem reconhece Alaide, aliás Agnese, e anuncia-lhe que Isemberga morreu: ela é agora Rainha de França. A ópera termina com o suicídio de Arturo seguido do desmaio de Alaide.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
2001 – 15 de Novembro
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.