LibretoOttorino Respighi baseado no drama Marie Victoire, do escritor françês Edmond Guiraud
EstreiaÓpera de Roma em 2004
AntecedentesFilho de um professor de piano, Ottorino Respighi tornou-se num homem de grande cultura e falava várias línguas. Também era violinista, pianista e compositor de grande talento. Tímido, manteve-se afastado da controvérsia entre classistas e modernistas dos anos 1920 e 1930, embora por temperamento estivesse mais próximo dos primeiros. Após um começo incerto como compositor, estabeleceu os elementos essenciais do seu estilo como compositor no seu poema sinfónico As Fontes de Roma. Esta obra testemunha a mestria orquestral aprendida com Rimsky-Korsakov (e mais tarde com Ravel e Strauss), bem como a sua paixão pela música antiga, sobretudo italiana.
A sua ópera Marie Victoire é mais um exemplo do estilo caleidoscópico das suas obras orquestrais. Um épico, transformado em drama romântico que tem como cenário o ambiente explosivo da Revolução Francesa. Com estreia prevista para o ano de 1915 em Roma, a obra nunca chegou a ser apresentada na altura, não se sabe muito bem o motivo, muito embora se pense que a politica tenha desempenhado um papel determinante para tal adiamento – a ópera ficou completa na mesma altura em que rebentava a Primeira Grande Guerra Mundial e as autoridades italianas terão visto o argumento da ópera, com todo o seu ambiente revolucionário, multidões inflamadas e assassinatos políticos, como algo a evitar, desnecessário e até provocante. Por tudo isto, num gesto de alguma maneira revelador da personalidade de Respighi, a obra ficaria condenada a um estado de abandono que duraria cerca de noventa anos, apresentada pela primeira vez na Ópera de Roma em 2004.
ResumoI Acto
Marie Victoire está dividida em quarto actos e passa-se em França durante os anos da revolução. Marie Victoire de Lanjallay é uma condessa abastada e a ópera começa precisamente no palácio onde ela vive com o seu marido, Maurice. Marie está a tocar cravo enquanto canta uma pequena canção pastoral. O jardineiro, Cloteau está a assistir á cena e avisa a condessa de que se vivem tempos particularmente perigosos para se estar a cantar aquela canção que pode ser mal interpretada – a canção foi escrita por um inimigo da república.
Instala-se a confusão entre os empregados do palácio. Maurice incita Marie a continuar com a canção, mas a confusão entre os empregados transforma-se rapidamente numa multidão enfurecida que por sua vez começa a cantar a canção revolucionária "Carmagnole". Quando por fim a multidão se afasta, Maurice e Marie lamentam os tempos que vivem e confortam-se um ao outro. Contudo as más noticias continuam a chegar. Cloriviere, amigo intimo do casal, chega para dizer que o pai de Maurice, que vive na Bretanha, foi ameaçado pelos revolucionários.
Sem escolha, Maurice decide arriscar-se a ir ter com o seu pai. Depois de partir, Marie recomeça a canção, mas a multidão em fúria volta a passar acabando por deixar Marie a sós com os seus pensamentos.
II Acto
Quando o Segundo acto começa, Marie está presa numa cela que fora anteriormente a capela de um convento. O seu jardineiro, Cloteau, está entre os seus carcereiros, no entanto, no fundo, ele permanece leal a Marie. Junto a ela, na cela, encontram-se Cloriviere, o poeta Simon, e o marquês Laglande e a sua mulher. Foram todos detidos por ordem do Comité para a Segurança Pública, encabeçado pelo líder revolucionário Robespierre.
Lalglande tenta amenizar o ambiente incentivando os seus colegas de cela a improvisarem uma peça de teatro, mas Marie pensa que a leveza da peça não se adequa ao momento e tal como ela muitos se sentem devastados. É então que é feito um anúncio oficial: Marie e Cloriviere foram condenados à guilhotina juntamente com outros acusados.
Perante o fim eminente Cloriviere declara a Marie que há muito que está apaixonado por ela, mas Marie resiste. Acontece que, uma vez que ambos pensam que Maurice já fora morto, nada resta a Marie senão o suporte emocional de Cloriviere.
Entretanto, Cloteau, o jardineiro, encontra-se inconsolável por estar entre os captores de Marie e pede-lhe perdão. Ela mostra-se compreensiva dado que Cloteau também não tinha alternativa. Marie deixa Cloteau e junta-se a Cloriviere noutra sala.
Só passado algum tempo é que Marie volta a entrar naquela sala. Cloriviere fora levado para ser executado. A expressão de Marie indica que no momento final ela ter-se-á entregue ao amor de Cloriviere e agora está envergonhada.
O tempo volta a correr e é então que se ouvem alguns disparos do lado de fora. Robespierre foi assassinado. Perante aquelas notícias os presos políticos exultam de alegria e começam a fugir do cárcere, todos excepto Marie que confidencia ter preferido a guilhotina a uma vida condenada á solidão e à desgraça.
III Acto
O terceiro acto começa seis anos depois. Marie gere uma pequena chapelaria em Paris. Ela teve um filho de Cloriviere que se chama Georges. Cloteau continua com ela, mantendo-se sempre leal.
Enquanto pensa em Maurice, Marie recebe com alegria a noticia de que Cloriviere conseguiu escapar á execução e que está a caminho de Paris para a visitar antes de deixar definitivamente a França. Quando chega e vê Marie que lhe apresenta Georges, Cloriviere desata a chorar. Na verdade Cloriviere fora ter com Marie na esperança de que ela o pudesse consolar. Como ela não consegue perdoar-se pelo que fizeram enquanto estavam presos, Cloriviere parte destroçado.
Depois da partida de Cloriviere Marie é sobressaltada por uma nova surpresa. Batem à porta e… é Maurice o seu marido. Também ele escapou à revolução, tendo passado aqueles seis anos na América. Quando estão a trocar juras de amor são interrompidos por Georges que acaba de acordar. Ansioso, Maurice quer saber se Georges é seu filho, mas Marie admite a verdade sem com isso revelar a paternidade.
Ouvem-se cavalos lá fora e Cloriviere regressa inesperadamente, fugido das autoridades. Declara ter sido envolvido numa conspiração que visava o assassinato de Napoleão. Nesse momento Maurice apercebe-se de que Cloriviere é o pai do filho de Marie. Os dois homens enfrentam-se e Cloriviere é forçado a abandonar a loja de Marie.
A polícia chega e acusa Maurice do crime antes imputado a Cloriviere. Por julgar que perdera o amor de Marie, Maurice aceita dar-se como culpado. A policia vandaliza a loja e leva Maurice com eles, deixando Marie desesperada a chamar por Maurice.
IV. Acto
O quarto acto começa na sala de tribunal onde Maurice está ser julgado pelo crime de conspiração e traição. Marie apela a Maurice para que diga o que realmente se passou e num acto de desespero admite o acto de adultério cometido com Cloriviere. As lágrimas escorrem pelo rosto de Maurice e os presentes apelam a Maurice para que perdoe Marie. O público exige agora a libertação de Maurice – tornou-se óbvio para todos que ele está inocente e Cloteau aparece precisamente para confirmar isso.
É nesse momento que entra no tribunal Cloriviere que surpreendentemente vem assumir a sua culpa. Marie e Maurice perdoam Cloriviere, mas este mantém uma atitude apesar de tudo desafiante denunciando as atrocidades cometidas pelas autoridades e depois roubando uma pistola a um dos agentes presentes na sala para logo a seguir dar um tiro na cabeça perante o espanto de todos.