EstreiaTeatro Dal Verme, Milão, em 21 de maio de 1892
AntecedentesRuggero Leoncavallo nasceu em Nápoles na Itália. Filho de um magistrado Leoncavallo foi uma criança talentosa: aos nove anos foi aceite como estudante de piano e composição no Conservatório de Música de Nápoles e aos dezoito anos já tinha começado a trabalhar na sua primeira ópera Chatterto. Para esta, ele havia organizado uma primeira produção em Bolonha, mas um empresário sem escrúpulos abandonou o jovem compositor justamente antes da estreia. Sem dinheiro e desencorajado, Leoncavallo teve que ganhar a vida a ensinar piano e canto, e a tocar em cafés-concerto.
O projecto lírico seguinte de Leoncavallo foi I Medici, a primeira parte de uma ambiciosa trilogia de obras, baseada em eventos da Renascença Italiana. O famoso e poderoso editor musical Ricordi não se interessou pelo trabalho, e talvez como resultado do desespero, Leoncavallo escreve Pagliacci em1892, imitando o realismo vívido da imensamente bem-sucedida Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni.
Leoncavallo escreveu seu próprio libreto para Pagliacci. Na procura de uma história que pudesse ser usada, ele lembrou-se de uma história real que havia escutado de seu pai. O pai de Leoncavallo tinha presidido ao julgamento de um actor acusado de ter assassinado a sua mulher durante um ataque de ciúmes. A história satisfazia as necessidades de Leoncavallo e tornou-se a base para a ópera. Este é o "abrigo de memórias" a que se refere Tonio no Prólogo.
Pagliacci foi um triunfo e tornou Leoncavallo famoso da noite para o dia. Infelizmente, como Mascagni, ele nunca foi capaz de duplicar seu sucesso. Quando I Medici foi finalmente produzida em 1893, ela foi recebida sem entusiasmo e o compositor abandonou seus planos para completar a trilogia. A sua La Bohème, de1897, foi ofuscada pela versão muito popular de Puccini da mesma história, que havia sido produzida no ano anterior. Somente Zaza, a história de uma cantora de music-hall parisiense, obteve algum sucesso notável.
Leoncavallo produziu várias outras óperas até 1919, ano da sua morte, mas somente Pagliacci é regularmente executada e quase sempre no mesmo programa com a Cavalleria Rusticana de Mascagni.
ResumoUma praça de uma vila da Calábria, província do extremo sul da Itália. A época é o final da década de 1860.
Toda a acção da ópera acontece entre as 3 horas da tarde e meia noite de 15 de Agosto, durante a Festa da Assunção da Virgem. Como parte da celebração, uma trupe provincial de actores ambulantes veio para a cidade para representar. Eles já tinham estado na aldeia antes e os aldeões conhecem-nos.
Durante o Prelúdio, e ainda com as cortinas fechadas e o cenário por revelar, Tonio dá um passo em frente e apresenta-se como "O Prólogo". Na tradição da arte da comédia, o Prólogo diz ao público para não se preocupar se houver uma tragédia no palco, porque, apesar de tudo, é somente uma peça e não a vida real. No entanto Tonio traz-nos uma mensagem muito diferente:
Senhoras e senhores! Na peça que estão prestes a assistir, o autor quer capturar as velhas tradições e mostrá-las novamente. Mas ao contrário do que estão á espera, ele não pretende mostrar-vos a ficção. Não! Este autor que mostrar-lhes um verdadeiro pedaço de vida. A verdade foi sua inspiração. Verão o amor como o povo real ama. Verão os trágicos resultados do ódio e espasmos da dor real. Escutarão gritos de raiva verdadeira e risos cínicos.
Não devem pensar nos nossos pobres truques teatrais. Devem pensar nas nossas almas, pois somos pessoas de carne e osso e, neste mundo solitário, respiramos o mesmo ar que vocês.
Assim nesta ópera temos a história típica da mulher obrigada a viver com o homem que não ama resignada por isso a ter que amar ás escondidas. Essa mulher é Nedda, ela trabalha na trupe de palhaços de Canio com quem vive. No entanto ela ama Sílvio, uma paixão deixada aquando da última vez que a trupe visitara aquela aldeia. Acontece que Canio é muito ciumento e mantêm Nedda sob um controle muito apertado. Eis que surge outra personagem, Tonio. Logo no inicio da ópera quando Tonio tenta ajudar Nedda a descer da carruagem, é empurrado e humilhado por Canio. Tonio jura vingar-se e aproveita os ciúmes de Canio para o fazer: Quando Canio e os outros vão à taberna beber, Nedda fica a sós com Sílvio e exactamente no momento em que planeiam a fuga, são surpreendidos por Tonio. É o momento da vingança e ele faz com que Canio saiba do casal.
É nesse clima que começa o segundo acto, é o dia do espectáculo e tudo está montado. Temos cena dentro da cena: Nedda é Columbina, e Canio é o Palhaço, seu marido. Acontece que Columbina gosta é de Arlecchino, protagonizado na peça por Beppe. O desenvolvimento da cena confunde-se perigosamente com a realidade e Canio perde a noção de estar em cena: Acusa Nedda de infidelidade para gáudio do público que julga ainda estar a assistir à peça. Subitamente Canio puxa de uma faca e corre atrás de Nedda, que tenta correr para a multidão. Ele agarra-a e apunhala-a. Ela chama por Sílvio e este correndo em sua defesa, também é apunhalado. Enquanto a multidão recua horrorizada, o enlouquecido e exausto Canio fala "A comédia acabou!".