Dia 27 às 21h00
Harold Pinter Uma pequena dor (trad. de Pedro Marques)
Maria João Pinho e Jorge Silva Melo
Uma Pequena Dor (A slight ache) foi a primeira peça escrita (em 1959) por Harold Pinter para rádio e que só mais tarde foi adaptada ao palco. Os medos, os desejos, a perda de identidade, as ameaças do outro. Houve quem falasse de paranoia acerca do isolamento destas personagens. Estamos naquele mundo de incertezas, duplos sentidos, terror por baixo da aparente calmaria. Estamos naquele mundo da suspeita que Pinter tão bem criou nas suas primeiras peças. E não será da morte que este casal da classe média, instalado, banal, está mesmo a falar?
HAROLD PINTER nasceu em Hackney (leste de Londres) em 10 de outubro de 1930. O Quarto (1958) é a sua primeira obra, estreada na Universidade de Bristol pelo ator Henry Wood. Nesse mesmo ano, estreia Feliz Aniversário que se revela um total fracasso e sai de cena após oito representações. Mas uma crítica entusiasta de Harold Hobson veio chamar a atenção para este autor “à beira do abismo” (“o talento mais original, perturbador e afirmativo do teatro de Londres”) e o espetáculo é retomado, vindo a peça a ser representada por todo o mundo. É nesse texto de diálogos tensos, aparentemente banais, elíptico, entrecortado de misteriosos silêncios, que se afirma o teatro de um homem acossado, sob ameaças indizíveis, interrogado, castrado, numa atmosfera em que o quotidiano resvala para o terror. Irving Wardle havia de dizer que o teatro de Pinter é um “teatro da ameaça” e este rótulo ficará colado às suas primeiras obras. A esta peça segue-se o breve O Serviço: dois homens que recebem ordens numa cave de um restaurante. Com O Encarregado, peça em dois atos estreada em 1960, obtém o seu primeiro triunfo e desde então o seu nome passa a estar presente em todos os teatros do mundo. Nesses anos, escreve regularmente para a rádio e a televisão e começa uma intensa relação de trabalho com Joseph Losey para quem escreve três filmes, O Criado, Acidente, O Mensageiro e adaptou À Procura do Tempo Perdido de Marcel Proust, projeto nunca realizado.
Com A Coleção (1961) e O Amante (1963) abre-se um novo ciclo. Mas sempre o lacónico humor, a cintilação de um diálogo rápido entrecortado de pausas letais, a ambivalência da palavra. É esta fase a que parece culminar em 1965 com a estreia, no Aldwich, de Londres e pela Royal Shakespeare Company de O Regresso a Casa, com direção de Peter Hall.
Em 2005, foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da Literatura. Não tendo podido assistir à cerimónia por motivo da doença que o iria vitimar, Harold Pinter gravou em vídeo uma longa intervenção (Arte, Verdade e Política) onde reflete sobre a escrita, a intervenção política, a política do Império Americano que já fustigara no breve volume de poemas Guerra.
Harold Pinter morreu em 24 de dezembro de 2008.
JORGE SILVA MELO
Estudou na Faculdade de Letras de Lisboa e na London Film School. Fundou e dirigiu, com Luís Miguel Cintra, o Teatro da Cornucópia (1973/79). Bolseiro da Fundação Gulbenkian, estagiou em Berlim junto de Peter Stein e em Milão junto de Giorgio Strehler. Tradutor de várias obras, é também autor de várias peças, crónicas, documentários, longas-metragens de ficção. Uma seleção dos seus artigos foi publicada pelos Livros Cotovia em 2008, com o título Século Passado. Fundou em 1995 os Artistas Unidos de que é diretor artístico. Dirigiu recentemente obras de Carlo Goldoni, Enda Walsh, Georg Büchner, Owen Mc Cafferty, Harold Pinter e Nathalie Sarrraute.
MARIA JOÃO PINHO
É diplomada pela ACE (Porto). Em 2008, frequenta a Nouvelle École de Maitres, com Enrique Diaz. Estreou-se em teatro, em 2006, em A Mata de Jesper Halle, encenação de Franzisca Aarflot. Posteriormente trabalhou com Emmanuel Demarcy-Mota, Maria João Luís, Gonçalo Amorim, Natália Luiza, Ricardo Pais. É uma presença regular na televisão, em séries ou novelas. No cinema, participou em filmes de João Botelho, Jorge Queiroga, Raúl Ruiz, Vítor Gonçalves, Solveig Nordlund, Fernando Lopes e João Salavisa. Nos Artistas Unidos participou em A Mata de Jesper Halle (2006), A Morte de Danton de Georg Büchner (2012), A Estalajadeira de Carlo Goldoni (2013) e O Campeão do Mundo Ocidental de J.M. Synge (2013).
Fonte: Artistas Unidos