Em Bosch Beach, a ideia do inferno na terra é tomada como ponto de partida para uma visão sobre o mundo de hoje através dos olhos de Bosch. Como seria o inferno hoje? Talvez fosse como o autor de ficção científica J. G. Ballard tantas vezes o descreveu: um mundo com a pequena-burguesia espraiada à beira de uma piscina, comprazendo-se na inércia da sociedade de consumo, com uma orquestra residente a tocar em pano de fundo. No tempo de Bosch, havia a noção de “Falso Paraíso”. As pessoas vivem naquilo que, à primeira vista, parece ser “o melhor dos mundos possíveis”, mas visto de outra perspetiva este falso paraíso não é muito diferente do inferno na terra.
Onde está o falso paraíso dos nossos dias, o nosso inferno na terra? Onde é que a moralidade e a responsabilidade fazem um apelo à humanidade? Verdonck opta pela praia de Lampedusa, um lugar lindíssimo, onde os turistas tomam banhos de sol e nadam no mar cristalino das praias de areia branca. Tomando banhos de sol nas praias esplêndidas de Lampedusa enquanto refugiados dão à costa, esse poderia ser o inferno na terra do século XXI.
Bosch Beach joga com a ambiguidade deste lugar e com as impossíveis questões de culpa que traz consigo. Confrontados com o fluxo de refugiados, não só em Lampedusa, mas agora também em Calais, Kos, Macedónia e por aí adiante, há um forte apelo moral. Será que devemos cuidar destas pessoas? Para além desta questão, o problema da responsabilidade pela situação global é ainda mais complexo. Não seremos nós, no Ocidente rico, os responsáveis pela pobreza e pelas guerras em África? Não mantemos nós o nosso estilo de vida à custa dos padrões de vida e da estabilidade noutros continentes? E, neste caso, será que podemos e devemos sentir-nos responsáveis enquanto indivíduos? E em consequência disso, como deveríamos então agir?
* Encomenda Teatro Municipal Maria Matos
Produção: LOD muziektheater
Coprodução: Jheronimus Bosch 500 Foundation, A Two Dogs Company, Kaaitheater, Maria Matos Teatro Municipal, House on Fire, ASKO Schönberg, Concertgebouw Brugge, Fundaçao Calouste Gulbenkian, Theater Mousonturm Frankfurt
Em colaboração com: Flanders e o programa “Holanda Convidado de Honra” na Feira do Livro de Frankfurt 2016, Klarafestival Brussel
Crédito fotográfico: Museo Nacional del Prado, em colaboração com: Gulbenkian Música
Uma coprodução da rede House on Fire, com o apoio do Programa Cultura da União Europeia