Programa Mezza-Voce
Apresentação e Realização: André Cunha Leal
Produção: Susana Valente
Gravação da Rádio e Televisão de Portugal (RTP)
na Fundação Calouste Gulbenkian,
Georg Friedrich Händel | Xerxes (Serse, HWV 40)
Depois de várias presenças ao longo das últimas temporadas, a orquestra il pomo d’oro – um dos agrupamentos atuais mais importantes no âmbito do movimento interpretativo em instrumentos de época – regressa à Gulbenkian Música para acompanhar o virtuoso contratenor argentino Franco Fagioli como protagonista da ópera Serse de Händel. A primeira colaboração de Fagioli com il pomo d’oro no Grande Auditório colheu um entusiástico aplauso consensual, confirmando-o como um intérprete de exceção que alia a sua invulgar qualidade técnica a uma rara densidade emocional.
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Xerxes (Serse, HWV 40)
Música de Georg Friedrich Händel (Halle, 23 de fevereiro de 1685 – Londres, 14 de abril de 1759)
Notas ao concerto (Gulbenkian/Música)
Em Itália absorveu diversos estilos que levou para Londres, onde implantou a ópera italiana e criou a oratória inglesa. Durante os anos 20 dominou a cena operática britânica com a Royal Academy of Music, resistindo à concorrência de outras companhias e compositores, até meados dos anos trinta, quando a ópera foi deixando de ser a sua prioridade.
No final de outubro de 1737, Händel regressava a Londres após uma estadia em Aix-la-Chapelle, onde tinha recuperado quase milagrosamente de uma paralisação temporária da mão direita.
Após anos de constante competição com a Opera of the Nobility, recentemente falida, não arriscou uma nova temporada por sua conta e trabalhava agora para o King’s Theatre, Haymarket, onde partilhava encomendas com Pescetti e Veracini numa temporada organizada por Heidegger. Nesta fase explorava também a oratória inglesa, percebendo a mudança de gosto do público.
Entre 1737 e 1741 parecia querer manter ambas as opções – ópera italiana e oratória inglesa – em aberto, desenvolvendo uma e outra consoante as oportunidades que iam surgindo. Händel tinha recebido uma encomenda para duas novas óperas quando o teatro fechou temporariamente pela morte da Rainha Carolina. Após esse interregno, a primeira ópera, Faramondo, estreou em janeiro.
Serse foi apresentada em 15 de abril de 1738 com reações adversas, resistindo durante cinco récitas. O elenco provinha quase todo da Nobility e era encabeçado por Caffarelli (Gaetano Majorano), de quem se esperava ser o novo Farinelli, tarefa difícil de atingir.
A abertura é ao estilo francês, com uma secção lenta em ritmos pontuados seguida de outra mais rápida em fugato e ainda uma giga, ao que se segue um recitativo acompanhado e o célebre arioso “Ombra mai fu”, onde o protagonista contempla um plátano agradecendo a sombra que ele proporciona, apresentando-se sereno (quase ridículo na adoração à árvore) sem a crueldade e as superstições que historicamente o caracterizam. Elviro, interpretado na estreia por Antonio Lottini, conhecido em Londres pelos papéis cómicos nos intermezzi italianos, tem árias curtas e tecnicamente simples, à exceção da despropositada pelo seu virtuosismo “Ah, tigre infedele”. Romilda, com a sua voz cativante acompanhada por duas flautas de bisel canta “Va godendo” sobre as vítimas do amor, comparando-as com um ribeiro que corre em direção ao mar.
A primeira ária de Serse contrasta com “Crude furie dgl’orridi abissi”, já no final da ópera, quando dá asas à sua raiva. Em divisão ternária, os violinos com escalas descendentes em fusas e trémulos nas cordas é talvez o ponto alto da trama e da obra, ao qual se segue a perplexidade generalizada, seguida de uma mensagem moral e de um final feliz.
A orquestra Il pomo d’oro foi fundada em 2012. Inicialmente focada no repertório da ópera barroca, tem vindo a dedicar-se progressivamente à música instrumental.
Os seus músicos são especialistas no domínio da interpretação autêntica em instrumentos de época. Em conjunto com o jovem maestro Maxim Emelyanychev, formam um agrupamento de grande qualidade que combina o conhecimento estilístico com a desenvoltura técnica e o entusiasmo artístico.
O nome da orquestra refere-se ao título de uma ópera de Antonio Cesti, composta para o casamento do Imperador Leopold I da Áustria com Margarita Teresa de Espanha, em Viena, em 1666. A ópera constituiu a parte final de uma celebração imperial de grande esplendor que incluiu impressionantes efeitos especiais.
Il pomo d’oro foi provavelmente a mais excessiva e dispendiosa produção operática na então curta história da ópera.
A orquestra Il pomo d’oro apresentou-se em muitos dos principais palcos da Europa e da América do Norte, incluindo Théâtre des Champs-Élysées (Paris), Theater an der Wien, Herkulessaal de Munique, Barbican Centre e Wigmore Hall (Londres) e Carnegie Hall de Nova Iorque. Desde 2015, apresentou-se em todas as temporadas Gulbenkian Música.