LibretoGiuseppe Bardari
Estreia30 de dezembro de 1835 no Teatro La Scala de Milão
AntecedentesNuma vide de extraordinária produtividade, Gaetano Donizetti escreveu 65 óperas, uma dúzia das quais é ainda uma parte importante do repertório operático. Como Bellini, a escrita de bel-canto de Donizetti exaltou a beleza da voz humana com longas e expressivas melodias e ornamentações de coloratura vivas e elaboradas. Era brilhante tanto na tragédia como na comédia.
Donizetti nasceu em Bergamo numa família pobre, mas isso não o impediu de ter estudado com grandes professores como Simon Mayr e Padre Mattei. Chegava a compor quatro óperas por ano, escrevendo numa larga variedade de estilos. Ganhou fama em Roma com Zoraida di Granata, e o sucesso de Anna Bolena, em Milão, permitiu-lhe dedicar-se à ópera trágica, apesar de continuar a escrever comédias. Em 1844, depois de trabalhar em Paris e Viena, começou a ter sintomas de paralisia e demência, devido à sífilis. Regressou a Bergamo onde foi tratado pelo sobrinho e pelos amigos até à sua morte em 1848.
Baseada na peça de Schiller, Maria Stuarda, passa-se na Inglaterra no ano de 1567 e faz parte do grupo das óperas de Donizetti intitulado de Óperas Tudor.
"Mais fácil fora que se acomodassem a água e o fogo,
que amorosamente cordeiro e tigre se beijassem…
entre nós duas não haverá conciliação que valha!"
Mary Stuart
"No dia em que os ingleses já não tiverem que escolher,
nascida serei então de tálamo legítimo!"
Elizabeth
Maria Stuart (8 de Dezembro de 1542 – 8 de Fevereiro de 1587), tornou-se rainha da Escócia com apenas uma semana de idade, após a morte do seu pai, Jaime V da Escócia e da Casa dos Stuart. Foi educada em França, terra natal da sua mãe que era uma Guise – na França, uma poderosa família católica com muita influência ao longo do século XVI. Tiveram grande influência na formação da Liga Católica, conhecida como a Santa Liga, e tiveram uma participação directa em várias guerras religiosas, sobretudo ao influenciar Carlos IX e Catarina de Médicis para o massacre da noite de São Bartolomeu. Com dezasseis anos Maria casou-se com o Delfim de França, o futuro Francisco II de França, que morreria dois anos mais tarde.
Maria Stuart foi uma das mais famosas rainhas do século XVI, e teve contra si muitos ódios. Nasceu em Linlithgow, uma pequena cidade da Escócia.
Os soberanos Jaime V da Escócia e Maria de Loraine de Guise foram os pais de Maria Stuart. Com a morte do rei escocês e com a decisão do parlamento inglês em anular uma possível aliança entre Maria Stuart e o príncipe Eduardo de Gales, a Inglaterra e a Escócia entraram em guerra.
Perante tudo isto, a rainha de seis anos de idade é mandada para França onde chega a 13 de Agosto de 1548. Educada na corte francesa de Henrique III, e desejada para futura esposa do príncipe Francisco, teve como mestres Ronsard e Loraine entre outros.
Os nobres franceses tinham por ela uma verdadeira afeição. O seu cabelo louro e ondulado, os olhos de um cinzento claro, a sua esbelta estatura e o seu andar elegante deixava qualquer um extasiado. Contudo vai ser mesmo o príncipe a recebê-la como sua mulher. Casaram-se no dia 24 de Abril de 1558, na catedral de "Notre Dame", ficando assegurada uma aliança entre a Escócia e a França.
Com a morte de Henrique III, subia ao trono da França Francisco que morreira pouco depois vitima de doença. Como consequência a jovem Rainha da Escócia ficava mais uma vez só. É assim que Maria Stuart resolve regressar à sua pátria natal.
Maria Stuart deixou a França a 14 de Agosto de 1561. Contam as crónicas que à medida que ia perdendo de vista a costa francesa Maria disse com lágrimas nos olhos: "Adeus França, adeus, França, penso que nunca mais vos hei de ver".
Quando chega à Escócia, ansiosa por serenar as várias revoluções religiosas, nomeou para primeiro-ministro, seu irmão natural Jaime Stuart com o título de conde de Murray. Depois Maria casava-se com Darnley, filho do Duque de Lennox que segundo se conta não lhe foi muito fiel. Depois de trair a sua mulher e rainha, Darnley morreu vítima de uma explosão. Maria desposava então Bothwell, um mercenário que chefiava a guarda imperial.
Entretanto a situação na Escócia não dava sinais de acalmar, estando envolvidos, em facções contrárias, Murray e Bothwell.
Temendo cair nas mãos dos seus opositores, a rainha Maria pediu abrigo à sua prima Isabel, rainha da Inglaterra. Contudo desde o regresso de Maria Stuart à Escócia que Isabel I a vê como uma ameaça. Ao invés de asilo, Maria Stuart é acusada da morte de Darnley e de conspirar contra a coroa inglesa.
Depois de encarcerada no castelo de Chartley durante dezanove anos, Maria Stuart teve de comparecer a um julgamento em Fotheringhay, arranjado por Walsinghan, o secretário de Isabel.
Apesar dos veementes apelos e protestos de França e Espanha, a sentença para a morte de Maria foi assinada.
Na manhã de 8 de Fevereiro de 1587, Maria Stuart, apoiada ao braço de seu médico francês, Bourgoing, subiu ao patíbulo, onde foi decapitada. Diz-se que as suas últimas palavras foram: "Meu Deus! Esperei em vós; inocente entrego a minha alma nas vossas mãos!"
Foi a partir da prisão de Maria Stuart que Schiller escreveu uma peça onde põe frente a frente Maria Stuart e Isabel Tudor. Na sua peça, Schiller introduz o tema da liberdade moral como contraposição à luta pelo poder e à procura de harmonia. Maria, caracteriza-se pela culpa e pelo pecado. Renunciando a isto, renuncia também à sua natureza e alcança a liberdade moral. Já a natureza de Isabel é caracterizada pela procura de uma qualidade humana inestimável de beleza que lhe falta. Em vão ela procura um substituto para ela, tal como poder, para que possa preencher o seu ideal de harmonia.
Sem fazer qualquer juízo a respeito da conduta de ambas as soberanas, Schiller centra a trama nas relações interpessoais e desvenda, até com um certo humor crítico, as artimanhas utilizadas pelas personagens para se manterem no poder e se livrarem do peso das decisões polémicas. Maria Stuart está rodeada de personagens dúbias, vacilantes nas suas atitudes, que estão sempre envolvidas em "mal entendidos" e eximindo-se das suas responsabilidades – um tipo de pessoas ainda bastante comum nos nossos dias.
Maria, católica fervorosa. Elisabeth, protestante. Ambas disputam a coroa e o amor de um mesmo homem. Apesar de nunca se terem encontrado na realidade, na imaginação do autor alemão há um encontro que se passa um pouco antes da rainha da Escócia ser decapitada por ordem da própria prima.
"Não conheceis o mundo. Cavaleiro.
Não nos julga ninguém pelo que somos,
Mas todos pelo que lhes parecemos.
Assim, o mais que posso
É agir de tal maneira, que uma dúvida
Paire sempre no espírito daquele
Que investigar a minha parte no caso.
A salvaguarda está na ambiguidade."
Excerto do diálogo entre Isabel e Mortimer, o sobrinho do carcereiro, bastante representativa do espírito da peça. Mary Stuart de Schiller foi escrita entre 1799 e 1800.
Não admira pois que as peças de Schiller fossem um terreno fértil para o trabalho dos compositores românticos. Donizetti contacta com a peça através da tradução italiana feita por Andrea Maffei. O compositor ia encontrar em Maria Stuarda, como era chamada a peça em italiano, todos os ingredientes para uma grande ópera e, por isso, trabalha lado a lado com o libertista Giuseppe Bardari para levar à cena uma nova ópera baseada no drama de Schiller. Contudo, como seria de esperar, a censura não permitiu que tal tema subisse ao palco do alla Scala. Donizetti teve arranjar um libreto completamente diferente para se ouvir a sua nova musica. Essa ópera chamar-se-ia Buondelmonte e era estreada no dia 18 de Outubro de 1834.
Foi só a 30 de Dezembro do ano seguinte que Donizetti consegue ver a sua Maria Stuarda representada no alla Scala com a famosa Maria Malibran no papel principal. Também essa noite foi um escândalo. Donizetti recusou-se a efectuar os cortes exigidos pela censura e, como tal, a ópera voltou a ser banida do alla Scala. Desde então Gaetano Donizetti nunca mais voltou a tentar uma apresentação integral da sua ópera.
Resumo
I Acto
Numa audiência a Rainha Isabel, rainha de Inglaterra recebe uma proposta do rei de França para se casar com o seu filho o que, se ela aceitar, vai aproximar as duas coroas. Chegam membros da corte que vêm para pedir à Rainha Isabel que perdoe a sua prima Maria, a Rainha dos escoceses. Isabel está apaixonada por Leicester, mas teme que este esteja apaixonado por Maria. Chega então Leicester que vem pedir à rainha permissão para poder visitor Maria, que se encontra prisioneira no Castelo de Fotheringay. Isabel fica furiosa e acusa Leicester de ter um caso com Maria. Este nega a acusação.
II Acto
Leicester dirige-se para o Castelo de Fotheringay para ver Maria e prepará-la para o encontro com Isabel. Quando Leicester chega, garante a Maria que ela vai ser libertada e fala-lhe do seu amor. Chega Isabel. Maria pede-lhe perdão, mas Isabel não consegue esconder o ódio que sente pela prima e insulta-a. Maria devolve-lhe os insultos e chama a rainha de inglaterra de meretriz. Isabel condena à morte Maria.
III Acto
Em Westminster, a rainha discute se deve ou não assinar a pena de morte da prima. É Cecil, o Lord Chanceler, que vai convencer a rainha a assinar o documento. Quando Leicester entra Isabel ordena-lhe que testemunhe a execução de Maria e que trate do enterro da sua amada Maria.
Maria encontra-se sozinha com o seu amigo Talbott quando recebe o mandato com a ordem da execução. Talbot revela ser um padre católico e oferece-se para ser o confessor de Maria. Esta pede perdão pelos seus pecados.
Na última cena da ópera, Maria sobe para o patíbulo sob o olhar de Leicester. O Lord Chanceler anuncia que com a morte de Maria a paz voltará à Inglaterra.