Libreto Newburgh Hamilton
EstreiaCovent Garden, Londres em 18 de fevereiro de 1743
AntecedentesGeorg Frideric Handel começou a trabalhar em Sansão imediatamente após ter terminado de compor o Messias em 1741. Em Outubro desse ano a partitura já estava quase toda completa, contudo Handel pôs de parte a partitura, não porque não gostasse da sua obra, mas porque queria que ela fosse estreada já em Londres, o que acabou por acontecer no Covent Garden, em Fevereiro de 1743. Apesar de uma oratória, Sansão teria nesse ano oito récitas triunfais que roubaram toda a clientela da temporada de ópera do King’s Theatre.
A abordagem de Handel era completamente nova ao contratar apenas cantores e instrumentistas ingleses para cantar esta oratória inglesa. Até essa altura, Handel tinha atribuído ao "castrato" o papel do herói, mas em 1743, Handel já não podia contar com os grandes "castrati" que estrearam as suas óperas, dado não ter os recursos que em outros tempos tivera. Resolveu então atribuir o papel principal a um cantor que apesar de não ser conhecido como um virtuoso, era gabado pela sua musicalidade e expressividade dramática: o tenor John Beard. Para Dalila, Handel queria acima de tudo uma actriz capaz de representar o papel de uma grande sedutora: Catherine Clive.
A partitura vai buscar inspiração melódica uma série de outros compositores como Legrenzi, Telemann, Muffat e Porta. Foi louvada pelo publico com uma das maiores obras de Handel, uma das favoritas dos Londrinos. A Ária "Total eclipse!", quando Sansão, cego, fala da "escuridão ao calor do sol do meio-dia!", levaria mais tarde Handel e toda a plateia às lágrimas. O velho Handel estava em pé no palco completamente cego.
O libreto tem como base o poema de Milton "Sansão Agonistico" e a própria história que nos é contada pelo Livro dos Juízes do Antigo Testamento. Este conta:
Israel esteve durante 40 anos sob o tirânico poder dos filisteus, guerreiros vindos do mar, senhores de cinco poderosas cidades. Durante esses 40 anos o povo de Israel ansiava pela vinda de um juiz libertador e interrogava-se para quando o nascimento de um. Nesse momento de grande aflição, um anjo apareceu à mulher de Manué, da tribo de Dan, e anunciou-lhe o nascimento do libertador: "Consagrá-lo-ás a Deus com o voto Nazireato. Não lhe serão cortados cabelos e não provará de bebidas alcoólicas". Assim nasceu Sansão.
Passaram os anos, e Sansão, tendo crescido segundo as disposições de Deus, tornara-se alto e robusto. A cabeleira inculta e a força sobre-humana tinham-no tornado famoso. Certo dia, no campo deserto, foi assaltado por um leão: Sansão agarrou-o e matou-o com as suas próprias mãos, sem arma alguma. Pouco tempo depois, voltando a passar pelo mesmo local, viu o esqueleto da fera. Aproximando-se mais para o ver melhor, encontrou no crânio um favo de mel.
Sansão casou com uma mulher filisteia de Tamna; foi até essa cidade para o grande banquete de núpcias. Durante o banquete propunham-se adivinhas e também Sansão propôs uma: "Daquele que devora saiu o alimento, e do forte saiu a doçura. Se resolverdes este enigma dentro de sete dias, dar-vos-ei trinta túnicas e trinta vestes; se não o conseguirdes, vós é que me dareis outras tantas túnicas e vestes!". Nenhum filisteu conseguia decifrar o enigma.
"Só a esposa poderá arrancar dele a resposta!" – concluíram os filisteus; e foram ter com a mulher: "Se recusas ajudar-nos, atearemos fogo a ti e à casa dos teus pais". A mulher então suplicou a Sansão: "A mim deves explicar-me o enigma". E ele ante a insistência da mulher, revelou o segredo. Por isso, no sétimo dia do banquete os filisteus disseram-lhe: Que coisa é mais doce que o mel? Que coisa é mais forte que o leão?" Sansão compreendeu que fora traído.
Nessa altura Sansão e os filisteus já eram inimigos declarados; estes queriam tê-lo nas mãos, e os hebreus, aterrorizados pelas ameaças dos dominadores, acorrentaram Sansão e conduziram-no prisioneiro até aos filisteus. Mas eis que Sansão quebrou as correntes que o prendiam, agarrou numa queixada de burro e precipitou-se sobre o inimigo, gritando: "Com uma queixada de burro eu os esmagarei! Com a mandíbula de um burro matei mil homens!"
Um dia Sansão foi até Gaza, uma das fortalezas dos filisteus. Estes pensaram que era chegado o momento de lhe armar uma emboscada: "O forte Sansão veio parar-nos às mãos!" E foram dadas aos soldados ordens terminantes: "A porta da cidade seja bem fechada e guardada por soldados armados: se Sansão tentar sair de Gaza, matai-o!"
Quando Sansão, no coração da noite, decidiu regressar, tendo chegado ás muralhas da cidade, encontrou as portas hermeticamente fechadas. Não titubeou por um instante: arrancou dos gonzos os dois batentes com esteios e tudo e, com este escudo improvisado, transportou as portas de Gaza para cima de um monte que se erguia defronte a cidade. Os guardas filisteus, estupefactos, puseram-se em fuga.
Dalila, a mulher de Sansão, gostava imenso de dinheiro; por isso os chefes filisteus aproximaram-se dela e disseram-lhe: "se conseguires que Sansão te diga de onde vem aquela força descomunal e de que modo seria possível reduzi-lo à impotência, dar-te-emos mil e cem moedas de prata". Dalila pôs logo mãos à obra até que Sansão confessou: "A força está nos meus cabelos. Nunca mos cortaram, porque fui consagrado a Deus".
Sansão estava a dormir quando Dalila ordenou a um homem que lhe rapasse a cabeça; depois gritou: "Acorda Sansão, que vêm aí os filisteus!" sansão acordou sobressaltado e calculou: "Livro-me como de costume! Em suas mãos é que eles me terão!" Mal sonhava ele o que estava prestes a acontecer. Os filisteus sem perda de tempo, prenderam-no, vazam-lhe os olhos e conduzem-no acorrentado até Gaza, para que se tornasse no joguete da cidade onde tinha agido como triunfador.
Aqui começa o poema de Milton "Sansão Agonistico". Aqui começa também o libreto de Newburgh Hamilton que trabalhou o poema para que este se transformasse em texto dramático apropriado para uma oratória.
ResumoI Acto
O sofrimento de Sansão contrasta com a alegria das festividades dos filisteus. No cárcere de Gaza, Sansão cegado e acorrentado, pensa nos pecados cometidos, e os seus olhos vazados encherem-se de quentes lágrimas de arrependimento. "Porque dorme o Deus de Israel?", pergunta. No entanto, justamente em tão humilhante castigo, Deus prepara para Sansão uma última vitória: ele, impotente prisioneiro, vencerá ainda os inimigos de Israel. As passagens do coro simbolizam elas próprias o aumento gradual da força de Sansão.
II Acto
Sansão confronta Dalila. Porque o traiu ela desta maneira usando o seu amor? Discutem e Sansão repudia-a. Fora do cárcere também o povo discute. Perante a chegada do herói filisteu, Harapha, uma multidão de filisteus e de israelitas cantam uns contra os outros.
III Acto
Felizes por terem finalmente nas mãos o seu mais temível inimigo, agora cego, agrilhoado, incapaz de defender-se, os filisteus quiseram agradecer à sua divindade: estava programado um grande sacrifício no templo de Dagon, que seria encerrado por um sumptuoso banquete. Ao templo acorreu todo o povo de Gaza, aclamando: "Dagon entregou-nos nas mãos Sansão, o inimigo que nos devastava as terras e matava tantos guerreiros!"
O público aumentava à medida que se prolongava o banquete. Alguém teve uma ideia: "Mandemos buscar Sansão e obriguemo-lo a dançar para o povo!" trazido do cárcere, Sansão dançou no templo, enquanto os chefes filisteus morriam de riso: "Ah! eis o mais forte dos homens agora obrigado a divertir os inimigos!". Entretanto vamos assistindo à metamorfose do herói. Na mente de Sansão, um plano vai tomando consciência: talvez os filisteus não percebessem que a sua cabeça estava de novo ornada com uma longa cabeleira…
Aparentando cansaço, Sansão pediu ao rapazito que o guiava que o levasse até às colunas principais, para se apoiar. As fortes mãos encontraram as colunas que sustentavam todo o edifício. Sansão sabia que Deus poderia servir-se ainda dele para castigar o inimigo de Israel: "Senhor tem piedade de mim: devolve-me as forças!" E sacudiu violentamente as colunas, gritando: "Morra Sansão com todos os filisteus!" O templo ruiu, sepultando todos os circunstantes. Os israelitas exultam de alegria e louvam a deus pela vitória alcançada.