9 Agosto | 19h00
Gravado no Auditório do Liceu Camões,
em Lisboa, pela RTP / Antena 2
a 28 de Junho de 2023
Centenário de Mário Cesariny
Recital André Gago (voz / leitura) & Francisco Sales (guitarra)
Poemas de Mário Cesariny
com música improvisada
Autografia
A Antonin Artaud
Poema
Reabastecimento
O lorinhão escorreito
Passagem dos elefantes
História de cão
A um rato morto encontrado num parque
Exercício Espiritual
XIII [e é preciso correr é preciso ligar é preciso sorrir é preciso suor]
Falta por aqui uma grande razão
O navio de espelhos
You are welcome to Elsinore
No País
Pastelaria
Voz numa pedra
Em todas as ruas te encontro
De profundis amamus
Ama como a estrada começa
Mário Cesariny, vulto maior do surrealismo português, é um dos mais destacados poetas do século XX.
O poeta e pintor não teve uma vida fácil. Perseguido por suspeita de vagabundagem e homossexualidade, o autor de Pena Capital escreveu todos os livros em cafés de Lisboa.
Autor de uma vasta e diversificada obra, dizia que a poesia é um segredo dos deuses. E tinha como lema de vida o amor e a liberdade.
Neste concerto poético, no âmbito do Centenário de Mário Cesariny, a Antena 2 presta um tributo ao genial poeta. A leitura dos poemas é de André Gago, a criação musical é da autoria do guitarrista Francisco Sales.
Mário Cesariny | Poeta, autor dramático, crítico, ensaísta, tradutor e artista plástico português, nasceu a 9 de agosto de 1923, em Lisboa, e morreu a 26 de novembro de 2006, também naquela cidade.
Depois de ter estudado no Liceu Gil Vicente, entrou para Arquitetura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde frequentou o primeiro ano, e mudou depois para a Escola de Artes Decorativas António Arroio. Depois de ter frequentado esta escola, prosseguiu estudos de belas-artes em Paris, tendo, ainda, estudado música com o compositor Fernando Lopes Graça.
Figura maior do surrealismo português, a influência que viria a exercer sobre as gerações poéticas reveladas nas décadas posteriores aos anos 50, período durante o qual publicou alguns dos seus títulos mais significativos, ainda não foi suficientemente avaliada.
Promoveu a técnica conhecida por “cadáver esquisito”, que consistia na elaboração de uma obra por um grupo de pessoas, num processo em cadeia criativa, na qual cada uma dava seguimento à criatividade da anterior, resultando numa espécie de colagem de palavras, a partir apenas de um acordo inicial quanto à estrutura frásica.
Colaborou em várias publicações periódicas como Jornal de Letras e Artes e Cadernos do Meio-Dia, entre outras. Começou por se interessar pelo movimento neorealista, para, em 1947, regressado de Paris, onde frequentou a Academia de La Grande Chaumière e onde conheceu André Breton, fundar o movimento surrealista português.
A sua postura polémica na defesa de um surrealismo autêntico levou-o, porém, a deixar o grupo no ano seguinte, para criar, com Pedro Oom e António Maria Lisboa, o grupo surrealista dissidente.
Como um dos principais críticos e teóricos do movimento surrealista, manteve ao longo da sua carreira inúmeras polémicas literárias, quer contra os detratores do surrealismo quer contra os que, na prática literária, o desvirtuavam.
A sua obra poética começou por refletir, em Corpo Visível ou Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano, o gosto pela observação irónica da realidade urbana que, fazendo-se eco de Cesário Verde, constitui ainda uma fase pouco significativa relativamente a volumes próximos da prática surrealista como Manual de Prestidigitação. Aí, a mordacidade e o absurdo, o recurso ao insólito, aliados a uma discursividade que raramente envereda por um nonsense radical, como ocorre na obra de António Maria Lisboa, permitem estabelecer, como nenhum outro autor da década de 50, um ponto de equilíbrio entre o primeiro modernismo e a revolução surrealista.
No domínio do teatro, em Um Auto Para Jerusalém, pastiche de um conto de Luís Pacheco, revela a influência de Pirandello ou da prática teatral de Alfred Jarry. No fim da década de 60 e início de 70, Mário de Cesariny encetou um trabalho de reposição da verdade histórica do movimento surrealista, coligindo os seus manifestos, editando a obra poética inédita de alguns dos seus representantes, e dando ao prelo textos seus datados do período de maior envolvimento com a teoria e prática do surrealismo, como 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres (1971), ou Primavera Autónoma das Estradas (1980) ou Titânia (1977).
Em 2005, recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, entregue pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, e, em novembro desse mesmo ano, foi galardoado com o Grande Prémio Vida Literária, uma homenagem à sua notável contribuição para a literatura portuguesa.
André Gago | Estreou-se como actor em 1984. Criou o Teatro Instável em 2004, onde encenou e atuou em A Gargalhada de Yorick, Noite Antiquíssima, Acerca de Música ou Hamlet. A Commedia dell’Arte, descoberta na companhia Meia Preta, e a sua paixão pela máscara levaram-no a estagiar com Ferrucio Soleri, no Piccolo Teatro di Milano. Ensina Técnica da Máscara em inúmeros cursos e workshops. A partir da sua colecção de máscaras portuguesas, tem realizado diversas exposições pelo país.
Adaptou Jorge de Sena e Aquilino Ribeiro para o palco, e traduziu e encenou A Orquestra, de Jean Anouihl, e Hamlet, de William Shakespeare, entre muitas outras adaptações e criações próprias. No S. Luiz, em 2013, adaptou e encenou Os 3 Últimos Dias de Fernando Pessoa, de António Tabucchi.
Com o conto O Circo da Lua, publicado em 2001, recebeu o prémio Revelação
da Associação Portuguesa de Escritores. Criou em seguida o espectáculo de Novo Circo Lua!, apresentado em Lisboa, no Parque das Nações. Em 2010 publica Rio Homem, finalista do prémio Leya e Prémio PEN Cube Portugal para Primeiro Romance. Colaborou no romance coletivo A Misteriosa Mulher da Ópera.
Criou formações musicais com espectáculos de poesia — Beat Hotel, A Flor do Lácio (editado em CD) e Canções para Poetas, onde apresenta composições suas, e o projeto No Precipício Era o Verbo.
Com a soprano Siphiwe McKenzie e o pianista João Paulo Santos criou o recital Flaubert-Colet.
Dinamizou as Primas Terças, recitais mensais de poesia, e foi um dos impulsionadores da TEIA19, plataforma online para apresentação de trabalhos durante a pandemia Covid-19.
Paralelamente, realiza inúmeros recitais poéticos nos mais variados formatos. Tem uma vasta experiência como actor em televisão. Atuou de forma mais pontual, no cinema, destacando-se Solo de Violino, de Monique Rutler, e 100 Eyes, de Thijs Bayens. No CCB, foi o narrador de Lélio, de Hector Berlioz e criou o ciclo Jardim de Orfeu. Preparou o guião de Songs for Shakespeare, onde atua ao lado da cantora Maria João. Recentemente, escreveu o libretto para Marandicui, com música de Álvaro Escalona, apresentado nos Teatros Municipais de Vila Real e Bragança, entretanto editado em CD.
Francisco Sales | Licenciado em jazz pela Escola Superior de Música de Lisboa, trabalha de modo virtuoso a sonoridade da guitarra, acústica e eléctrica, criando paisagens sonoras de grande beleza inspirada nas suas múltiplas viagens pelo mundo.
Residiu em Londres de 2013 a 2017, onde teve a sorte de encontrar um padrinho de peso – Jean-Paul Maunick aliás Bluey, líder dos célebres Incognito. Bluey apadrinhou o seu primeiro álbum, Valediction, que apresentou no Blue Note de Tóquio antes de o convidar para fazer parte da formação de palco dos Incognito.
Em 2016 acompanhou nomes grandes da música como Chaka Khan, Omar ou Natalie Williams. No início de 2017 lançou o 2º álbum, Miles Away, resultado das viagens dos últimos anos, composto por temas escritos “em casa, mas inspirados pelas viagens que fiz a países, cidades, lugares que nunca tinha visitado. E só quando voltas a casa percebes o inspirador que foi. A casa está igual – mas tu voltaste mais rico.”
Após dois álbuns editados, Francisco Sales já se revelou no entanto como um inspirado compositor, um belíssimo instrumentista e ao mesmo tempo um executante de grandes méritos, versatilidade, virtuosismo e imaginação; no final de 2022 lançou um novo disco, Fogo na água.
Fotos Jorge Carmona / Antena 2