Suggia Piano Trio
Inés de Madrazo, violino
Diego Arbizu, violoncelo
Eloy Orzaiz Galarza, piano
Programa
Lento – Allegro molto moderato
Molto vivace
Lento-Andante mosso-Allegro vivo
Allegro animato
Allegro molto vivace
Andantino – attacca
Finale. Allegro con fuoco
Allegro moderato
Scherzo (Allegro molto)
Elegia (Adagio)
Finale (Allegro non troppo)
Transmissão direta
Produção: Anabela Luís
Niels Gade morreu em 1890, justamente o ano em Suggia começou a aprender violoncelo com o pai, Augusto Suggia. Aos 9 anos, Guilhermina já impressionava os músicos mais velhos com a sua extraordinária aptidão para o violoncelo. Não faltaria muito para a convidarem a integrar o Quarteto Moreira de Sá, um dos mais prestigiados agrupamentos de câmara do país, sediado no Porto.Nesse mesmo ano de 1894, vivia no outro extremo da Europa, na longínqua Rússia, um discreto compositor chamado Anton Arensky. Discreto mas influente, nomeadamente para criadores como Rachmaninov e Scriabin, seus alunos. Arensky escreveu nessa altura o seu 1º Trio com piano, dedicando-o ao grande violoncelista russo Karl Davydov, por muitos celebrado como o czar dos violoncelistas. A obra comprova a capacidade de Arensky para criar belas melodias.Poucos anos mais tarde, já no século XX, seria a vez de Guilhermina Suggia ocupar o trono como a maior violoncelista da Europa, superando mesmo, no entender de muitos, o nível artístico do seu companheiro e ex-professor Pablo Casals. Depois de alguns anos em Paris, Guilhermina Suggia mudou-se para Londres onde viveu uma fama sem precedentes, esgotando salas, e concitando elogios da crítica como nenhum outro violoncelista da época.
Nessa altura (anos 30) era também reconhecido à escala global um dos mais empolgantes criadores do mundo musical espanhol: Joaquin Turina. Há muito que se tinha consagrado como compositor de obras sinfónicas e de música de câmara claramente conotadas com a cultura que regurgitava nomeadamente na sua Sevilha natal. Esse tempero condimentou praticamente todas as suas obras, incluindo as derradeiras, como o Trio nº 2, escrito em 1933, cheio de harmonias bem enraízadas no folclore andaluz.
A vida de uma das maiores violoncelistas de sempreGuilhermina Suggia nasceu no dia 27 de Junho de 1885 no Porto.
O pai, Augusto Suggia, era violoncelista, e aos 5 anos Guilhermina pediu-lhe que a ensinasse a tocar. Aos 7 anos Guilhermina deu o seu primeiro recital na Assembleia de Matosinhos. Foi um êxito, mas a garota queria ir mais além e não parou de estudar.
Aos 12 anos recebeu um convite para integrar o Quarteto Moreira de Sá e aos 13 anos era chefe do naipe de violoncelos da Orquestra do Orpheon Portuense. Os êxitos e as críticas elogiosas prosseguiram.
Em 1898, durante o verão, Pablo Casals veio com um grupo de música de câmara abrilhantar as noites do Casino de Espinho. Num dos dias tocava a solo. Augusto Suggia foi com a filha escutar o catalão que, apesar dos seus 22 anos, era já considerado um dos maiores violoncelistas do mundo. No final, foram falar com Casals. Augusto contou-lhe que a filha estudava violoncelo e tinha raras capacidades. Casals passou-lhe o violoncelo para as mãos e pediu-lhe que tocasse. Ao fim de poucos minutos ficou impressionado, de tal modo que se ofereceu para, durante todo o verão, lhe dar lições uma vez por semana.
Aos 15 anos Guilhermina Suggia tocou para a Família Real no Palácio das Necessidades. Foi um êxito tal que a Rainha D. Amélia, tecendo rasgados elogios, se dispôs a patrocinar os estudos de Guilhermina numa escola europeia de primeira grandeza. Foi escolhido o prestigiado Conservatório de Leipzig na Alemanha, onde lecionava aquele que era considerado o melhor professor de violoncelo da altura, Julius Klengel.
O professor, ao ouvir Guilhermina, ficou de tal maneira deslumbrado que lhe propôs aulas particulares, uma vez que estava muito avançada e o Conservatório seria para ela uma perda de tempo. Passado um ano, Klengel disse que nada mais tinha para lhe ensinar e pediu a Arthur Nikisch, o maestro da Gewandhaus e da Filarmónica de Berlim, que escutasse a sua aluna. Nikisch ouviu Suggia e, siderado, convidou-a para tocar como solista com a orquestra. Klengel organizou um concerto com a aluna, tocando o Concertino Op. 72, para 2 violoncelos, de Romberg, mas entregando a parte de primeiro solista a Suggia, ficando ele com o papel secundário. Klengel justificou: “ela há-de ir tão longe que nunca ninguém a alcançará”.
Em 1903, Suggia com 17 anos, foi a primeira mulher solista a tocar na Gewandhaus. No final os aplausos e os gritos de “bis” foram de tal modo intensos que, contrariando as rígidas normas estabelecidas, Nikisch deu ordens para que o concerto fosse repetido na íntegra. A partir daí, as portas dos grandes centros musicais europeus abriram-se de par em par. Guilhermina não mais parou de ser chamada a tocar, sempre com críticas que a classificavam como excecional.
Entre 1906 e 1913 viveu uma intensa relação afetiva e artística com Pablo Casals em Paris. Ambos foram considerados os maiores violoncelistas da época. Em finais de 1913 a relação terminou e Suggia partiu para Londres onde foi repetidamente aclamada, enchendo salas e recolhendo aplausos sem fim.
No dia 1 de Novembro de 1924, Virginia Woolf escreveu no seu diário: “Como sempre, estou cheia de trabalho, estafada. O que me vale é pensar que na 3ª feira vou ouvir Suggia”.
Antes dos anos 30, Suggia regressou a Portugal, ao Porto, sua cidade natal, prosseguindo a carreira internacional sem mácula, até à sua morte em 30 de Julho de 1950.
Guilhermina Suggia, violoncelista, foi um génio ímpar que dedicou toda a sua vida à música com uma entrega e paixão sem limites.