27 Junho | 19h00
Auditório do
Museu Nacional de Arte Antiga
Maria Castro Balbi | Alexandre Delgado | Guenrikh Elessine
Maria Castro Balbi, violino
Alexandre Delgado, violeta
Guenrikh Elessine, violoncelo
Programa
In Memoriam Guilhermina Suggia
Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Sarabanda da 5ª suite para Violoncelo Solo em dó menor, BWV 1011
Ludwig Van Beethoven (1770-1827) – Trio de Cordas nº 5 em dó menor, op. 9 nº 3 (1796/8)
Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Sarabanda da 2ª Suite para Violoncelo Solo em ré menor BWV 1008
Serguei Taneiev (1856-1915) – Trio de Cordas em ré maior, op. 8 (1879/80)
Augustus John(1878-1961) – Madame Guilhermina Suggia, 1920-23
Transmissão direta
Realização e Apresentação: João Almeida
Produção: Anabela Luís
Guilhermina Suggia nasceu no dia 27 de Junho de 1885 no Porto. O pai, Augusto Suggia, era violoncelista, e aos 5 anos Guilhermina pediu-lhe que a ensinasse a tocar. Aos 7 anos Guilhermina deu o seu primeiro recital na Assembleia de Matosinhos. Foi um êxito, mas a garota queria ir mais além e não parou de estudar.
Aos 12 anos recebeu um convite para integrar o Quarteto Moreira de Sá e aos 13 anos era chefe do naipe de violoncelos da Orquestra do Orpheon Portuense. Os êxitos e as críticas elogiosas prosseguiram.
Em 1898, durante o verão, Pablo Casals veio com um grupo de música de câmara abrilhantar as noites do Casino de Espinho. Num dos dias tocava a solo. Augusto Suggia foi com a filha escutar o catalão que, apesar dos seus 22 anos, era já considerado um dos maiores violoncelistas do mundo. No final, foram falar com Casals. Augusto contou-lhe que a filha estudava violoncelo e tinha raras capacidades. Casals passou-lhe o violoncelo para as mãos e pediu-lhe que tocasse. Ao fim de poucos minutos ficou impressionado, de tal modo que se ofereceu para, durante todo o verão, lhe dar lições uma vez por semana.
Aos 15 anos Guilhermina Suggia tocou para a Família Real no Palácio das Necessidades. Foi um êxito tal que a Rainha D. Amélia, tecendo rasgados elogios, se dispôs a patrocinar os estudos de Guilhermina na Alemanha com aquele que era considerado o melhor professor de violoncelo da altura, Julius Klengel, em Leipzig. O professor, ao ouvir Guilhermina, ficou de tal maneira deslumbrado que lhe propôs aulas particulares, uma vez que estava muito avançada e o Conservatório de Leipzig seria para ela uma perda de tempo.
Passado um ano, Klengel disse que nada mais tinha para lhe ensinar e pediu a Arthur Nikisch, o maestro da Gewandhaus e da Filarmónica de Berlim, que escutasse a sua aluna. Nikisch ouviu Suggia e, siderado, convidou-a para tocar como solista com a orquestra. Klengel organizou um concerto com a aluna, tocando o concertino para 2 violoncelos de Romberg, mas entregando a parte de primeiro solista a Suggia, ficando ele com o papel secundário. Klengel justificou: ela há-de ir tão longe que nunca ninguém a alcançará.
Em 1903 Suggia, com 17 anos, foi a primeira mulher solista a tocar na Gewandhaus. No final os aplausos e os gritos de bis foram de tal modo intensos que, contrariando as rígidas normas estabelecidas, Nikisch deu ordens para que o concerto fosse repetido na íntegra. A partir daí, as portas dos grandes centros musicais europeus abriram-se de par em par. Guilhermina não mais parou de ser chamada a tocar, sempre com críticas que a classificavam como excecional.
Entre 1906 e 1913 viveu uma intensa relação afetiva e artística com Pablo Casals em Paris. Ambos foram considerados os maiores violoncelistas da época. Em finais de 1913 a relação terminou e Suggia partiu para Londres onde foi repetidamente aclamada, enchendo salas e recolhendo aplausos sem fim.
No dia 1 de Novembro de 1924, Virgínia Woolf escreveu no seu diário: “Como sempre, estou cheia de trabalho, estafada. O que me vale é pensar que na terça-feira vou ouvir Suggia.”
Antes da 2ª Grande Guerra, Suggia regressou a Portugal, ao Porto, sua cidade natal, prosseguindo a carreira internacional sem mácula, até à sua morte em 30 de Julho de 1950.
Guilhermina Suggia, violoncelista, foi um génio ímpar que dedicou toda a sua vida à música com uma entrega e paixão sem limites.
Maria Castro Balbi é francesa de origem peruana, oriunda de uma família de músicos. Obteve no Conservatório Nacional Superior de Música de Paris (CNSMDP) o “Diplôme de Formation Supérieure Mention Très Bien” incluindo o “1er Prix” de Violino e Música de Câmara nas classes J. Ghestem, Christian Ivaldi, e Alain Meunier. Prosseguiu os seus estudos em Utrecht, Holanda, com Viktor Libermann, e a seguir em Sion, Suiça, com Tibor Varga. Frequentou cursos de aperfeiçoamento com Zakhar Bron, P. Hirshorn, Boris Belkin, S. Georgiu, E. Schmieder, e A. Dumay.
Alexandre Delgado nasceu em Lisboa 1965. Estudou na Fundação Musical dos Amigos das Crianças (atual AMAC) e foi aluno particular de Joly Braga Santos em composição e de Barbara Friedhoff em violeta. Diplomou-se com o 1º prémio da classe de composição de Jacques Charpentier do Conservatório de Nice (França). É autor de uma vasta produção instrumental e vocal, incluindo as óperas O Doido e a Morte e A Rainha Louca, cuja estreia dirigiu em Portugal, na Alemanha e no Brasil. Vencedor do Prémio Jovens Músicos como violetista, estreou o seu Concerto para Violeta como solista.
Guenrikh Elessine iniciou os seus estudos musicais e de violoncelo em Moscovo aos 6 anos de idade. Em 1985 conclui o mestrado no Instituto Musical e Pedagógico de Gnessin, pelo qual é convidado a lecionar as classes de Quarteto e Música de Câmara e onde trabalhou até à sua vinda para Portugal em 1991. Venceu o 2º Prémio no Concurso de Violoncelo da Federação Russa em 1985 e o 3º Prémio no Concurso de Quartetos de Cordas da U.R.S.S. em 1987. Foi membro do Quarteto Gossteleradio (da Rádio e Televisão Estatal da Federação Russa) entre 1987 e 1989, tendo feito com este inúmeras gravações para os arquivos da rádio e televisão, alguns editados posteriormente em CD. Atuou em mais de 150 concertos por toda a União Soviética, Índia, Algéria e Itália.
Em 1989 fundou o Moscow Piano Quartet, com o qual tem atuado em concertos pela Rússia, Europa, Macau e Japão. Ao longo da sua carreira apresentou-se em palco com artistas de renome como o Quarteto Borodine, Natália Gutman, Naum Starkman, Dmitri Alekseev, António Saiote, entre muitos outros. Trabalhou de perto com o compositor Alfred Schnittke, tendo sido um dos primeiros intérpretes do seu 3º Quarteto de Cordas e do Quarteto com Piano. Foi co-director artístico do Festival Internacional de Música de Castelo Branco desde a 1ª edição.