A Antena 2 homenageia um dos grandes vultos do século XX em Portugal, o historiador da arte José Augusto França que faleceu a 18 de Setembro, aos 98 anos.
José Augusto França (1922-2021)
20 Setembro | 19h00 | 23h00
Em 2012, no ano do seu 90º aniversário, José Augusto França dá uma grande entrevista, sobre a sua vida e obra, a Quinta Essência, programa de João Almeida.
A Antena 2 retransmite esta conversa hoje, 20 de Setembro, 2ª feira, pelas 19h00.
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Também hoje, pelas 23h00, A Ronda de Noite, de Luís Caetano, é dedicada a José Augusto França, ao seu percurso biográfico e sua obra invoadora.
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José Augusto França, nome maior da historiografia da Arte em Portugal, foi além de historiador, sociólogo e crítico de arte, uma notável personalidade da cultura portuguesa. Fundou o primeiro mestrado em Portugal, o de História da Arte na Universidade Nova de Lisboa, na qual foi Professor catedrático, num contributo fundamental para uma nova geração de historiadores da arte.
Nasceu a 6 de novembro de 1922 em Tomar, mas com um ano a família mudou-se para Lisboa. Frequentou o Liceu Gil Vicente. Ainda muito jovem, começou a colaborar com o jornal cultural oposicionista O Diabo, nomeadamente com pequenos contos.
Nos anos 40, depois de frequentar a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1941-45), que nunca concluíu, participou como crítico de arte e de cinema em periódicos como Horizonte – Jornal das Artes e Seara Nova, e fez várias viagens a Espanha e Paris, onde o seu interesse pela pintura se manifestou.
No final da década, escreveu o seu primeiro romance, Natureza Morta, publicado em 1949. Só nas últimas décadas assume a sua vocação de romancista, publicando Buridan (2002), A Bela Angevina (2005), José e os Outros (2006), Ricardo Coração de Leão (2007), João sem Terra (2008) e A Guerra e a Paz (2010).
Entre 1947 e 1949 participou nas atividades do Grupo Surrealista de Lisboa (com António Pedro, Fernando de Azevedo, Marcelino Vespeira, Fernando Lemos), tendo um papel polémico de oposição aos neorrealistas, mas também com os Dissidentes surrealistas. Na década seguinte seria um defensor da arte abstrata, cujo primeiro salão nacional organizou, na Galeria de Março que fundou com Fernando Lemos, e dirigiu entre 1952 e 1954.
Neste ano, publica o seu primeiro grande estudo sobre um dos maiores pintores, Amadeo de Souza-Cardoso: o português à força.
Em Paris, 1954
Em 1959, partiu para Paris como bolseiro do Estado francês, aí permanecendo até 1963, tendo estudado com Pierre Francastel na Escola Prática de Altos Estudos. Na Universidade de Paris IV (Panthón-Sorbonne) obteve, sucessivamente, os graus de doutor em História, em 1962 – apresentando a tese Une Ville des Lumères: la Lisbonne de Pombal –, e, alguns anos depois, de doutor em Letras, em 1969 – apresentando a tese Le Romantisme au Portugal.
Uma das suas atividades mais permanentes foi a escrita regular para jornais e revistas, sendo de destacar Unicórnio (1951-1956), Art d’Aujourd’hui (1960/70), KWY, Arquitectura (1969-1970), “Folhetins Artísticos” no Diário de Lisboa (1968-1987), e Colóquio/Artes que dirigiu entre 1970 e 1996, e onde publicou centenas de artigos. Co-organizou, dirigiu e participou com numerosas entradas o Dicionário da Pintura Universal (Estúdios Cor, 1959/73).
Depois da revolução do 25 de Abril, José Augusto França iniciou carreira docente, como professor catedrático da recém-criada Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa onde constituiu a formação especializada em História da Arte, ao nível de mestrado (o primeiro que existiu em Portugal, entre todas as áreas científicas), doutoramento e licenciatura. Orientou dezenas de dissertações e teses, fomentando uma nova geração de historiadores da arte em Portugal.
Autor de referência na área das artes visuais e da cultura em Portugal, entre as suas obras destacam-se os estudos sobre A Arte em Portugal nos séculos XIX e XX, as monografias sobre Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros, e Rafael Bordalo Pinheiro: o português tal e qual, além de outros volumes de ensaios de interpretação e reflexão histórica, sociológica e estética sobre problemas da arte contemporânea.
Comissariou diversas exposições (Exposição Retrospectiva de António Carneiro, Fundação Calouste Gulbenkian, 1973; Os Anos 40 na Arte Portuguesa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982; Exposição Retrospectiva de José Malhoa, Lisboa SNBA, 1983; Soleil et Ombres: l’Art Portugaise du XIX ème siècle, Musée du Petit Palais, Paris, e, depois, Palácio Nacional da Ajuda, 1987/88) sempre acompanhadas de catálogos da sua autoria ou com colaboração especializada que são importantes referências da história da arte em Portugal.
Foi presidente do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa – ICALP (1976-79) onde dirigiu a “Biblioteca Breve”, com cerca de 100 títulos. Dirigiu o Centro Cultural Português de Paris da Fundação Calouste Gulbenkian (1980-86), tendo ali realizado numerosos colóquios e exposições. Foi eleito primeiro presidente da secção Portuguesa da A.I.C.A (Association Internationale des Critiques d’Art).
@ Paulo Cunha – LUSA
Desde 1972, instalou-se, durante grande parte do ano, em Jarzé, no Anjou (França), na casa familiar da sua segunda mulher, a historiadora de arte Marie Thérèse Mandroux, e aí passou a residir permanentemente desde 2001.
Em 1992, doou a sua coleção bibliográfica à Biblioteca da Fundação C. Gulbenkian; em 2004, doou parte da sua coleção de arte para a criação do Núcleo de Arte Contemporânea
no Museu Municipal de Tomar que dirigiu até 2015; em 2005, doou o seu espólio literário à Biblioteca Nacional de Portugal.
no Museu Municipal de Tomar que dirigiu até 2015; em 2005, doou o seu espólio literário à Biblioteca Nacional de Portugal.
Foi membro da Academia Nacional de Belas-Artes (de que foi presidente) e da Academia de
Ciências. Recebeu as seguintes condecorações: Medalha de Honra da Cidade de Lisboa, 1992; Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (10 de Junho de 1991); Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública (10 de Novembro de 1992) e Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (30 de Janeiro de 2006).
Lega, em registo memorialístico, duas obras que para além de uma ‘simples’ biografia, constituem um rico testemunho sobre a vida cultural portuguesa de mais de 70 anos: Memórias para o ano 2000 e Memórias para após 2000 (2012).
Em 2018, a Imprensa Nacional – Casa da Moeda inicia a publicação de uma coleção, composta por 16 volumes, que reune alguns dos seus livros fundamentais, segundo critério do próprio historiador e crítico.
José Augusto França faleceu a 18 de setembro de 2021, a dois meses de completar 99 anos, em Jarzé-Villages, em França, onde vivia.