A pianista Maria João Pires foi galardoada com o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural 2025, promovido pelo Centro Nacional de Cultura (CNC). O prémio reconhece a sua extraordinária contribuição para o património musical e cultural europeu através da sua atuação, pedagogia e pensamento cultural.
A entrega do prémio ocorre na Fundação Calouste Gulbenkian, no dia 1 de novembro.
O Júri do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva, presidido por Maria Calado, Presidente do CNC, e composto por especialistas independentes nos campos da cultura, património e comunicação de vários países europeus, homenageou a pianista pela sua “excecional contribuição (…) para a promoção do património cultural e dos valores europeus”, reconhecendo a carreira da pianista como “profundamente enraizada nos valores da empatia, da inclusão e da excelência artística”, a essência da “missão do Prémio Helena Vaz da Silva: sensibilizar o público para o património cultural europeu através de um envolvimento humanista e de impacto”.
Ter um prémio corresponde a ter uma honra. Ter uma honra e tomar consciência dela, é lembrar ao pormenor todas as pessoas que deram do seu tempo, colaboraram e ajudaram a que essa honra fosse atribuída. Por isso a minha primeira reação será sempre dizer ‘muito obrigado’ a todos por esta oportunidade. (reação de Maria João Pires)
O reconhecimento destaca Maria João Pires não só como uma das maiores pianistas da atualidade, mas também como “pensadora cultural”, educadora visionária e “revolucionária silenciosa” no património musical europeu.

Nascida em Lisboa em 1944, Maria João Pires fez a sua primeira apresentação pública aos 4 anos de idade e iniciou os seus estudos de música e piano com Campos Coelho e Francine Benoît, continuando posteriormente na Alemanha com Rosl Schmid e Karl Engel. Além dos seus concertos, gravou para a Erato durante quinze anos e para a Deutsche Grammophon durante vinte anos.
Desde a década de 1970, tem-se dedicado a refletir sobre a influência da arte na vida, nas comunidades e na educação, tentando encontrar novas formas de afirmação desta linha de pensamento na sociedade. Procurou novas fórmulas que, respeitando o desenvolvimento dos indivíduos e das culturas, encorajam a partilha de ideias.
Em 1999 criou em Portugal o Centro Belgais para o Estudo das Artes, lugar onde oferece regularmente workshops interdisciplinares para músicos profissionais e amadores, bem como concertos e gravações. No futuro, estes poderão ser partilhados com a comunidade digital internacional.
Em 2012, na Bélgica, iniciou dois projetos complementares: os Partitura Choirs, um projeto de coros infantis destinado a crianças oriundas de ambientes socialmente desfavorecidos, como o Hesperos Choir, e os Partitura Workshops. Todos estes projetos têm como objetivo criar uma dinâmica altruísta entre artistas de diferentes gerações, propondo uma alternativa a uma realidade demasiado focada na competitividade. Esta filosofia tem vindo a ser divulgada internacionalmente pelos projetos Partitura.
Na cerimónia de atribuição na Fundação Calouste Gulbenkian, assinalar-se-á também os 80 anos do Centro Nacional de Cultura, e serão ainda homenageados os três vencedores portugueses da edição dos Prémios Europeus do Património / Prémios Europa Nostra 2025: Museu Nacional Resistência e Liberdade – Fortaleza de Peniche, na categoria Conservação e Adaptação a novos usos, Programa Saber Fazer, na categoria Educação, Formação e Competências, e Almalaguês – Tecer o futuro com a tapeçaria do tempo, na categoria Envolvimento dos Cidadãos e Sensibilização.
O Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, promovido pelo Centro Nacional de Cultura em colaboração com a Europa Nostra e o Clube Português de Imprensa, recorda a jornalista, escritora, ativista cultural e política portuguesa Helena Vaz da Silva (1939-2002), em memória e reconhecimento da sua notável contribuição para a divulgação do património cultural e dos ideais europeus. É atribuído anualmente, desde 2013, a um cidadão europeu cuja carreira se tenha distinguido por atividades de difusão, defesa e promoção do património cultural da Europa, em particular através de obras literárias ou musicais, reportagens, artigos, crónicas, fotografias, cartoons, documentários, filmes e programas de rádio e/ou televisão. O Prémio conta com os apoios dos Ministérios da Cultura, Juventude e Desporto e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Turismo de Portugal.
Entre os laureados anteriores deste prémio contam-se o fotógrafo alemão Thomas Struth (2024), Jorge Chaminé, Presidente do Centro Europeu da Música (2023), a maestrina ucraniana Oksana Lyniv (2022), a coreógrafa de dança contemporânea belga Anne Teresa De Keersmaeker (2021), o poeta português e bibliotecário da Biblioteca do Vaticano José Tolentino Mendonça (2020), a física italiana Fabiola Gianotti (2019), a historiadora e locutora britânica Bettany Hughes (2018), o cineasta alemão Wim Wenders (2017), o cartoonista editorial francês Jean Plantureux, conhecido como Plantu, e o filósofo português Eduardo Lourenço (ex aequo, 2016), o músico e maestro espanhol Jordi Savall (2015), o escritor turco e Prémio Nobel Orhan Pamuk (2014) e o escritor italiano Claudio Magris (2013).
Fotos Jorge Carmona / Antena 2