O escritor Mia Couto acaba de publicar o seu último romance, A Cegueira do Rio, editado pela Caminho. Luís Caetano conversa com o multi-premiado autor moçambicano, Prémio Camões em 2013, sobre este livro que dialoga com a história, como que numa luta contra o esquecimento e o apagar da memória coletiva.
Em A Cegueira do Rio mostra-se um mundo líquido e emocional, um confronto da lógica humana com o caos, um diálogo com a história que parte de acontecimentos reais no norte de Moçambique, perto da Tanzânia, onde um conflito leva ao desaparecimento da escrita no mundo.
Uma redescoberta da sabedoria dos povos e da natureza que os homens têm progressivamente esquecido e que nos tem levado aos vazios e às dissensões connosco e com os outros.
Uma conversa sobre as cegueiras, nos vários tempos e geografias do mundo, e sobre os ciclos da vida, como água que vai dos mares às nuvens e pela chuva volta para os rios.
Sinopse:
O primeiro incidente militar numa aldeia do Norte de Moçambique marca, em agosto de 1914, o início da Primeira Guerra Mundial no continente africano.
Esse inesperado episódio despoleta, para além disso, uma série de misteriosos eventos que culminam com o desaparecimento da escrita no mundo. Livros, relatórios, documentos, fotografias, mapas surgem deslavados e ninguém mais parece ser capaz de dominar a arte da escrita. Os habitantes dessa aldeia são chamados a restabelecer a ordem no mundo, ensinando aos europeus o ofício da escrita e as artes da navegação.
Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, em 1955.
Foi jornalista e professor, e é, atualmente, biólogo e escritor. Está traduzido em mais de 30 línguas.
Entre outros prémios e distinções (de que se destaca a nomeação, por um júri criado para o efeito pela Feira Internacional do Livro do Zimbabwe, de Terra Sonâmbula como um dos doze melhores livros africanos do século XX), foi galardoado, pelo conjunto da sua já vasta obra, com o Prémio Vergílio Ferreira 1999 e com o Prémio União Latina de Literaturas Românicas 2007. Ainda em 2007 Mia foi distinguido com o Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura pelo seu romance O Outro Pé da Sereia.
Jesusalém foi considerado um dos 20 livros de ficção mais importantes da «rentrée» literária francesa por um júri da estação radiofónica France Culture e da revista Télérama. Em 2011 venceu o Prémio Eduardo Lourenço, que se destina a premiar o forte contributo de Mia Couto para o desenvolvimento da língua portuguesa. Em 2013 foi galardoado com o Prémio Camões e com o prémio norte-americano Neustadt. Em 2015 foi finalista do The Man Booker Prize. O seu livro Compêndio Para Desenterrar Nuvens ganhou o Grande Prémio do Conto Branquinho da Fonseca, em 2023.
Já em 2024 obteve o Prémio Feira Internacional do Livro de Guadalajara (México).
Fotos Jorge Carmona / Antena 2