A Antena 2 homenageia um dos grandes poetas portugueses do século XX, Nuno Júdice, também ensaísta, romancista e professor universitário, que faleceu este domingo, 17 de março, em Lisboa, aos 74 anos.
Luís Caetano evoca o poeta numa emissão dedicada, trazendo-nos as suas palavras e silêncios, poemas na sua voz, e ainda excertos de conversas tidas nos últimos anos.
Nuno Júdice (1949-2024) nasceu a 29 de Abril na Mexilhoeira Grande, concelho de Portimão. Fez em Lisboa os estudos secundários, no Liceu Camões, e licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa.
Estreou-se na poesia em 1972, com o livro A Noção de Poema, ano em que casou e nasceu a sua primeira filha. Foi professor do Ensino Secundário entre 1972 e 1977. De 1989 a 2015, foi professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou na área de Literaturas Românicas Comparadas com uma tese sobre O Espaço do Conto no Texto Medieval, orientando posteriormente seminários em Literaturas Ibéricas Comparadas, e em Poesia moderna e contemporânea.
Numa vasta e diversa obra literária, produzida ao longo de mais de meio século destacam-se A Noção de Poema (1972), Crítica Doméstica dos Paralelepípedos (1973), Nos Braços da Exígua Luz (1976), Lira de Líquen (1985), Enumeração de Sombras (1988), Meditação sobre Ruínas (Prémio APE, 1995), O Movimento do Mundo (1996), Teoria Geral do Sentimento (1999), Pedro, lembrando Inês (2002), Geometria variável (2005), A Matéria do Poema (2008), O Mito de Europa (2017), 50 Anos de Poesia (1972-2022) e o seu último título, Uma Colheita de Silêncios (2023).
Na ficção, publicou, entre outros títulos, Plâncton (1981), A Roseira de Espinho (1994), Vésperas de Sombra (1998), O anjo da tempestade (2004), A Implosão (2014) ou O Café de Lenine (2019).
Autor também de algumas peças teatrais, tem obra traduzida em diversos países, da Espanha à China, passando pelo Irão e o Líbano.
Os seus livros foram traduzidos em Espanha, Itália, Marrocos, Venezuela, Inglaterra, Bulgária, Colômbia, Países Baixos, Suécia, México, Israel, Albânia, Reino Unido, Grécia, Chéquia, Dinamarca, Estados Unidos e em França, onde está publicado na coleção Poésie / Gallimard.
Júdice assinou ainda estudos sobre Teoria da Literatura e Literatura portuguesa, e organizou antologias, como a da Poesia do Futurismo Português, edições críticas como Sonetos de Antero de Quental, Novela despropositada de Frei Simão António de Santa Catarina, Cancioneiro de D. Dinis ou Infortúnios trágicos da Constante Florinda de Gaspar Pires Rebelo.
Desde O Tempo e o Modo em 1969, teve uma colaboração regular em jornais e revistas com crítica literária e crónicas. No campo do ensaio, e sobre temas de poesia, ficção e teoria literária publicou A era do Orpheu, O espaço do conto no texto medieval, O processo poético, Viagem por um século de literatura portuguesa, As máscaras do poema (Aríon, 1998), A viagem das palavras, O fenómeno narrativo ou A certidão das histórias.
Foi ainda tradutor de poesia e de textos de teatro.
Nuno Júdice foi ainda diretor das revistas literárias Tabacaria, editada pela Casa Fernando Pessoa (1996-1999) e Colóquio-Letras, publicada pela Fundação Gulbenkian (desde 2009).
Exerceu funções de Conselheiro Cultural na embaixada de Portugal em França, entre 1997 e 2004, e de direção do Instituto Camões, em Paris. Organizou a Semana Europeia da Poesia, no âmbito da Lisboa ’94 – Capital Europeia da Cultura.
Júdice recebeu alguns dos importantes prémios literários portugueses: o Prémio PEN Clube, em 1985, o Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus, em 1990 e o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores, em 1994; em 2021, foi galardoado com o Grande Prémio de Poesia Maria Amália Vaz de Carvalho da Associação Portuguesa de Escritores (APE).
Fora de Portugal, Nuno Júdice recebeu o Prémio Iberoamericano Rainha Sofia (2013), e em 2018, foi distinguido com o Prémio Rosalía de Castro PEN da Galiza.
Em junho de 1992 foi agraciado pelo Presidente Mário Soares com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e, em junho de 2013 foi elevado a Grande-Oficial da mesma ordem, pelo Presidente Jorge Sampaio .
(…) Não disse mais nada, e só o lamento informe dos meus lábios me lembrava
que eu estivera vivo,
e também que a minha excessiva grandeza me
abandonava.
Transformando-me, levantei voo contra a chuva,
até me afastar da terra
De O arquétipo da morte (1973)