António Cartaxo é um dos maiores Autores da História da Rádio em Portugal. Após muitos anos da sua vida passados em Londres, no Serviço Português da BBC, António regressa a Portugal depois do 25 de Abril para felizmente se fixar com a sua Arte de musicólogo-contador-de-histórias na Antena 2.
É um imenso prazer para os sentidos fruir do clima interior e interiorizado dos seus Textos e da sua Voz, acompanhando o Ouvinte em mágicos percursos pelos tempos e pelos espaços da vida dos Músicos de todos os tempos. António Cartaxo procede sempre com uma mestria comunicacional única e exclusiva.*
António Cartaxo (1934-2023)
António Cartaxo, radialista, professor, comunicador e divulgador de grandes músicas, faleceu hoje aos 88 anos.
A Antena 2 homenageia o autor e radialista de excelência, seu colaborador durante largas décadas, transmitindo esta 4ª feira, 5 de Janeiro, pelas 19h00, um programa
especial a ele dedicado:
Em Memória de António Cartaxo
Para ouvir, clicar aqui
Aquando da atribuição do Prémio de Carreira Igrejas Caeiro, pela SPA, em 2016, a Antena 2 homenageou-o com a retrospectiva António Cartaxo 40 Anos de Programas de Rádio, abarcando todos os géneros que o autor realizou desde 1976 – ensaios documentários, dramaturgias sobre temas da grande música.
@ José Nunes
António Cartaxo nasce na Amadora em 1934, mas desde cedo, por via da carreira militar de seu pai, passa por Angola, Évora e Portalegre. Os estudos secundários faz em Lisboa, nos Liceus Pedro Nunes e Camões, mas também no Colégio Moderno, onde aprende com Álvaro Salema, Mário Dionísio, Rui Folha e Morgado Rosa. Faz a licenciatura na Faculdade de Letras de Lisboa, ao mesmo tempo que trabalha, primeiro como empregado de escritório num sindicato, depois arquivista do Metro de Lisboa, e quando cumpre o serviço militar, na Biblioteca do Estado-Maior do Exército.
Quando a secção portuguesa da BBC reabre as emissões para Portugal, concorre e vai para Londres, como funcionário da rádio pública britânica, onde fica até 1976. Nesses anos, ia quase todos os dias a um concerto de música clássica (grande música, como escreve), construindo assim as bases para os seus programas em Portugal (as notas que foi tirando ao longo dos concertos serviram como matéria-prima futura).
Na secção portuguesa da BBC, sente particular gosto em dar notícias sobre a situação do Portugal ditatorial, expondo as censuras, proibições e prisões políticas, tentativas goradas de manifestações, notícia do assassinato de Humberto Delgado e sua origem política. No período de 1970-1974, trabalha com colegas como Manuela de Oliveira, Paulo David, Jorge Ribeiro, António Borga, José Júdice, Carlos Alves e Joaquim Letria, em que incluiu as reportagens que fez da campanha eleitoral de 1973 em Portugal.
Neste ano, António Cartaxo recebe um Special Award (prémio especial) pelas realizações radiofónicas ao longo da sua permanência na BBC. Se tinha dificuldades em entrevistar políticos da oposição, por recomendação ou resposta negativa da linha hierárquica, era mais fácil entrevistar cantores da resistência na qualidade simples de artistas: José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho e padre José Fanhais.
Depois de Abril de 1974, António Cartaxo e Jorge Peixoto são acusados de apresentarem uma visão de esquerda e são alvo de sanções, que culminam em tribunal e despedimento da BBC; história que narra nos seus livros BBC Versus Portugal. História de um Despedimento Político (com Jorge Ribeiro)(1977) e Quase Verdade como são Memórias (2009).
Depois de Abril de 1974, António Cartaxo e Jorge Peixoto são acusados de apresentarem uma visão de esquerda e são alvo de sanções, que culminam em tribunal e despedimento da BBC; história que narra nos seus livros BBC Versus Portugal. História de um Despedimento Político (com Jorge Ribeiro)(1977) e Quase Verdade como são Memórias (2009).
Fonte: Rádio Crítica
Ingressa na rádio pública portuguesa em 1976, onde vai trabalhar durante 40 anos, em especial na Antena 2, realizando programas como "Em Sintonia", "Histórias da música… e outras" e "De Olhos bem abertos", mas também na Antena 1 com "Grandes Músicas".
Ainda em 1976, António Cartaxo e o realizador Jorge Ribeiro fazem o programa Você gosta de Beethoven?, em que eram entrevistados operários da Sorefame sobre a música de Beethoven, e que será vencedor no concurso pró-música de Rádio Budapeste.
Em 1978, através do Instituto de Cultura Portuguesa, António Cartaxo vai para Varsóvia, na Polónia, onde é leitor de português na Universidade daquela cidade. A experiência letiva mantê-la-ia durante vinte anos na Universidade Clássica em Lisboa.
Em 1987, António Cartaxo vence o Prémio Gazeta de Jornalismo na modalidade Rádio, com um programa sobre Fernando Lopes Graça.
Em 2016, António Cartaxo é distinguido com Prémio Carreira Igrejas Caeiro, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores.
@ SPA / Jaime Serôdio
Em 2012, publica o livro Quase Verdade como São Memórias, ao qual é atribuido o Prémio António Alçada Baptista. António Cartaxo é ainda autor dos livros Palavras em Jogo (1990), Ao Sabor da Música (1996), O Meu Primeiro Mozart (com Rosa Mesquita, e ilustrações de Pedro Machado), e Efemérides Românticas (2010).
* "(…) António Cartaxo procede sempre com uma mestria comunicacional única e exclusiva. É um grande trunfo do Serviço Público de Radiodifusão.
E parafraseando-o a ele mesmo, aos Domingos de manhã, às 11, na Antena 2, "Em Sintonia com António Cartaxo", sendo um romance sem fim… é um autêntico Sinal de excelência da Rádio Pública.» (José Nuno Martins, Provedor do Ouvinte da Rádio Pública, in "Em Nome do Ouvinte", 14-10-2006)