19 fevereiro | 21h00
Grande Auditório
Realização e Apresentação: Reinaldo Francisco
Produção: Susana Valente
Gravação pela RTP / Antena 2
no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, em Lisboa
a 23 de Outubro de 2023
Sonatas e Partitas de Bach I
Mario Brunello, violoncelo piccolo
Programa
Johann Sebastian Bach
– Sonata Nº1 em sol menor, BWV 1001
– Partita Nº1 em si menor, BWV 1002
– Partita Nº2 em ré menor, BWV 1004
Primeiro músico italiano a vencer o prestigiado Prémio Tchaikovsky, o violoncelista Mario Brunello tem conquistado uma merecida reputação pela sublime expressividade das suas interpretações. Nos últimos anos, Brunello tem-se dedicado também a recuperar e a divulgar o violoncelo piccolo (instrumento popular nos séculos XVII e XVIII), para o qual criou as Brunello Bach Series, um projeto de que constam três álbuns com várias peças do compositor alemão. A primeira dessas gravações, recebida sob um coro de elogios, foi intitulada Sonatas and Partitas.
Ver Programa de Sala
O presente recital é constituído por três obras de Johann Sebastian Bach escritas para violino solo e transcritas para violoncelo piccolo, instrumento muito usado no Barroco. Com quatro ou cinco cordas e variadas afinações, pensa-se que algumas obras emblemáticas para violoncelo foram concebidas para o violoncelo piccolo. Bach incluiu passagens para o instrumento nas suas cantatas de Leipzig; estes instrumentos podem ter sido construídos pelo seu colega Johann Christian Hoffmann (c. 1710-1750), ativo nessa cidade.
O violoncelo piccolo de Mario Brunello é uma réplica de um Amati de 1600, tem quatro cordas e partilha a afinação do violino, uma oitava abaixo. Assim, o timbre e o registo tornam-no ideal para interpretar transcrições do repertório violinístico.
O manuscrito das sonatas e partitas, obras ímpares da literatura para o instrumento, data de 1720, altura em que Bach trabalhava em Cöthen. Na cidade, o compositor dedicou-se à escrita de música profana e de peças didáticas. Assim, é provável que estas tenham sido apresentadas na corte.
Após um período de relativo esquecimento, as sonatas e partitas foram recuperadas na segunda metade do século XIX, estabelecendo-se nos programas de recital e na didática do violino. Bach inspirou-se nos estilos contrastantes da sua época: se as sonatas remetem para Itália, nos andamentos livres e de caráter improvisado, as partitas evocam o estilo francês, com a regularidade das suas danças de corte. Contudo, o compositor não emulou acriticamente os modelos; misturou-os e transformou-os numa síntese criativa do Barroco Tardio. A recriação de percursos harmónicos e texturas contrapontísticas em instrumentos monofónicos e a abordagem livre às texturas de dança são alguns dos desafios colocados por estas obras.
Mario Brunello | Um dos mais fascinantes, completos e solicitados artistas da sua geração. É solista, maestro e músico de câmara e recente pioneiro de uma nova sonoridade, com o seu violoncelo piccolo. Venceu o Concurso Tchaikovsky, em Moscovo, em 1986 e o seu estilo autêntico e apaixonado levou-o a colaborar com importantes maestros como Antonio Pappano, Myung-whung Chung, Yuri Temirkanov, Zubin Mehta, Ton Koopman, Manfred Honeck, Riccardo Muti, Daniele Gatti, Seiji Ozawa, Riccardo Chailly e Claudio Abbado.
Ao longo de uma longa carreira, Mario Brunello tocou com as mais prestigiadas orquestras do mundo, incluindo a Sinfónica de Londres, a Filarmónica de Londres, a Orquestra de Filadélfia, a Sinfónica de São Francisco, a Sinfónica NHK de Tóquio, a Filarmónica da Radio France, a Filarmónica do Teatro alla Scala ou a Filarmónica de Munique, para citar apenas algumas.
Brunello toca um precioso violoncelo Maggini do início do século XVII, ao qual acrescentou, nos últimos anos, o violoncelo piccolo de quatro cordas. Este instrumento, muito utilizado na época barroca, é construído com a afinação típica do violino (Mi, Lá, Ré, Sol), mas uma oitava abaixo, mantendo assim a profundidade e os matizes mais escuros típicos do violoncelo. Foram precisamente essas peculiaridades que levaram Brunello a explorar as obras-primas musicais do repertório para violino de Bach, Vivaldi, Tartini e contemporâneos.
A gravação integral das Sonatas e Partitas de J. S. Bach no violoncelo piccolo (Arcana, 2019) recebeu os elogios da crítica nacional e internacional. Um segundo álbum, intitulado Sonar in Ottava (2020), foi recebido com entusiasmo unânime pelo público e pela crítica (“Melhor Gravação de Concerto de 2020”, pela BBC Music Magazine). Nesta gravação, Mario Brunello e Giuliano Carmignola revisitam os Concertos Duplos de Bach e Vivaldi, com uma nova sonoridade para violino e violoncelo piccolo. O potencial deste instrumento é plenamente explorado no terceiro álbum dedicado a Giuseppe Tartini, nos 250 anos da sua morte; premiado com o Diapason d’Or, inclui Sonatas e Concertos de Vandini, Meneghini e Tartini, com a Accademia dell’Annunciata. O álbum Sei Suonate à cembalo certato è violoncello piccolo solo (BWV 1014-1019) veio enriquecer a trilogia Brunello Bach Series para a Arcana/Outhere, concluída em janeiro de 2023 com o CD intitulado Bach Transcriptions; um engenhoso programa dedicado a transcrições de Concertos de Bach para vários instrumentos, com Brunello no violoncelo piccolo, novamente acompanhado pela Accademia dell’Annunciata.
Da estreita colaboração com a Kremerata Baltica e Gidon Kremer nasceram duas gravações excecionais: The Protecting Veil de Tavener, no Festival Lockenhaus, e Searching for Ludwig (novembro de 2020) – tributo a Beethoven, na qual dois quartetos de Beethoven, em versão para orquestra de cordas, dividem o palco com peças contemporâneas, de Léo Ferré e Giovanni Sollima, inspiradas em Beethoven.
Mario Brunello é o Diretor Artístico do Festival Arte Sella e dei Suoni delle Dolomiti. Desde outubro de 2020 é também Diretor Artístico do Festival di Stresa, sucedendo a Gianandrea Noseda.
Fotos Jorge Carmona / Antena 2